Sem cobrar um real sequer, ela já auxiliou centenas de pessoas
O ato de benzer foi, durante muito tempo, a primeira opção de cura para muitas pessoas, principalmente na época em que o acesso à medicina era mais difícil. Os tempos mudaram, mas a tradição não se perdeu. Prova disso é a moradora de Doutor Ricardo, Delmina Zanon Marquetti, ou simplesmente, dona Delmina – a benzedeira. Conhecida em toda a região, ela benze desde os 16 anos de idade.
“Hoje tenho 77 anos, ou seja, há 61 anos faço meus benzimentos”, relata ela ao recordar: “Tudo começou quando uma vez minha irmã foi buscar a cavalo uma benzedeira em Barra do Coqueiro para benze-la de uma erisipela na perna. Antes de ir embora, aquela mulher me ensinou a benzer, aprendi e com o passar dos dias curei minha irmã”, relata ela, ao frisar que depois desse episódio, foi adquirindo mais e mais conhecimento.
E em todos esses anos, dona Delmina nunca deixou de atender ninguém. “Me sinto muito feliz, porque já curei muitas pessoas de toda a região, estado e até de Santa Catarina”, conta ao destacar que as solicitações mais recebidas são os testes de anemia. “As pessoas me ligam para eu fazer o teste de anemia, eu faço e caso dê positivo já indico os chás para tomar”, salienta.
Fazer o bem sem olhar a quem
Viúva de Nadir Marchetti e mãe de César, Sandra e Sinara, a benzedeira Delmina teve uma infância pobre e difícil, o que a faz praticar diariamente ações de solidariedade. “Eu não cobro nada por ajudar a pessoas com meus benzimentos e minha maior recompensa é a gratidão delas. Eu faço isso por amor e acredito que foi Deus que me deu esse dom, porque desde criança eu sou assim”, frisa ela que também é muito participativa na comunidade.
Ela segue: “Tive uma infância bem humilde. Pegávamos as batatas no tonel do vizinho, que ele cozinhava para os porcos, quando as nossas terminavam para ter o que comer. Eu sofri muito na minha vida, mas se tivesse que voltar atrás e passar por tudo novamente, eu assim faria, pois apesar de tudo constituí uma família com a qual sou muito feliz e recebi muitas graças. Assim, até que Deus me permitir vou continuar benzendo e ajudando as pessoas. Essa é minha missão, fazer o bem sem olhar a quem.”
Devota à Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora do Rosário de Fátima e Santo Antônio, dona Delmina tem agenda cheia no dia a dia. Ela diz ter perdido as contas de quantas pessoas conseguiu curar ao longo da vida, desde as doenças mais “simples” como infecções, a moléstias mais graves. “Faço muitos atendimentos. Benzo crianças, adultos, benzo até para encontrar objetos perdidos”, conta ela ao relatar uma história. “Numa manhã minha cunhada perdeu a carteira com todos os documentos. Me ligou apavorada e então comecei a rezar o responsório para Santo Antônio, e deu certo. No mesmo dia, à tarde ela, me ligou (chego a me arrepiar), me agradecendo, pois havia encontrado a carteira dentro de casa.”
Porém, devido à idade, Delmina está limitando os atendimentos. “Um médico espírita uma vez me disse que eu tinha que me alimentar muito bem e que não podia benzer mais do que cinco pessoas por dia, pois eu perco muita energia”, enfatizou ela que acredita que a filha Sandra possa seguir seus passos. “Inclusive estou escrevendo um livro, com todos os benzimentos, para que quando eu me for, tudo fique registrado e possa ser dada sequência à minha caminhada”, cita.
E assim Delmina segue sua jornada, procurando auxiliar dia após dia, mais e mais pessoas que a procuram. “Eu tenho muitas orações para fazer, faço todos os dias, de manhã e de noite, para quem precisar. Além de benzer e tentar livrar as pessoas das doenças, eu rezo pelas almas mais abandonadas do purgatório”, finalizou.