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Um pedido de socorro

 

Hospital Padre Hermínio Catelli volta a ter déficit financeiro e corre o risco de fechar as portas em breve

O Hospital Padre Hermínio Catelli, de Anta Gorda, vive mais um momento dramático em sua história, desta vez por déficit financeiro, razão que motivou uma reunião urgente na noite da terça-feira, 7, no auditório do Posto de Saúde. Foram convocados empresários locais e representantes dos Poderes Executivo e Legislativo.

A pauta da reunião resumiu-se em um pedido de socorro da direção da casa de saúde, que luta para manter as portas do local abertas. Caso o quadro não seja revertido, o hospital será forçado a paralisar seus atendimentos muito em breve.

 

Adequações, gastos e investimentos

De acordo com a administradora do hospital, Regina Fachinetto, a casa de saúde chegou a investir dentro dela mesma, em um período de dois anos, o valor de R$ 700 mil. “Todos os gastos do hospital são muito grandes e, se as pessoas não nos ajudarem, não vamos conseguir dar a volta. Tentamos economizar de todas as maneiras, mas chega uma hora que não se tem mais o que fazer”, iniciou.

Ela aponta os principais gastos, alguns previstos e outros não, que estão deixando as contas do hospital no vermelho. “Em relação à insalubridade dos funcionários, nós pagávamos 20% e tivemos que aumentar para 40% para nos adequarmos às exigências do Ministério do Trabalho; temos custos com horas extras, 13º salário e férias de funcionários, sendo que cinco teriam direito às férias e tivemos que cancelar momentaneamente por não termos como remunerar; e somente para manter os médicos no hospital no Natal e Réveillon pagamos 50% a mais do valor do que eles recebem, caso contrário, ninguém faria plantão”, disse.

Regina ainda cita: “Somente para a liberação do alvará do raio X, gastamos nos últimos dias R$ 10 mil. Estamos sempre tendo que nos regularizar e tudo isso envolve dinheiro. Quem tem empresa sabe do que estou falando. Não é nada fácil”, frisou. “Tivemos que adequar praticamente tudo desde que assumimos. Havia um sistema dentro do hospital onde nada era informatizado. Agora, até a prescrição médica está dentro desse sistema”, acrescentou.

A administradora destacou que a situação é grave. “O hospital está lutando sozinho junto com sua diretoria, porque a comunidade, em si, parou de ajudar. Quando assumimos todo mundo doava alimentos, doava uma coisa aqui, outra ali, agora ninguém mais doa nada, mesmo sabendo que o hospital é de todos. Eu, como administradora, destaco que Anta Gorda tem que acordar. Esse hospital não pode ser fechado, ele tem um potencial absurdo. A agricultura aqui no município é muito forte, o comércio é muito forte, então acho que as pessoas têm que se unir e não deixar isso acontecer”, enfatizou.

Presidente da Associação Hospitalar Padre Hermínio Catelli, Sandra Bresciani

Atendimentos

Regina informa que somente em janeiro foram registradas 22 internações SUS. “E para cada paciente SUS é fornecida alimentação pela manhã, tarde e noite, e também para o seu acompanhante. Os custos com medicação nós conseguimos cobrir com as emendas parlamentares que recebemos, mas o hospital sempre precisa dar uma contrapartida”, disse.

Ela segue: “Internações via Unimed tivemos quatro, e três pelo IPE em janeiro. Poderíamos ter mais atendimentos, mas, para ser bem sincera, falta muito a parceria dos médicos. Dessa forma, temos pouca produção e temos faturado menos que o hospital de Putinga, por exemplo, município menor que Anta Gorda e que recebe um valor menor de repasse da prefeitura”, pontuou.

Ela ressalta que nos últimos dois anos o hospital nunca ficou sem atendimento médico. “As pessoas dispõem de atendimento médico, que acontece também via planos de saúde, porque batalhamos muito por isso. Inclusive, estamos contratando mais uma médica que atenderá direto no hospital, pois sabemos que, com a chegada do inverno, devem aumentar os atendimentos”, revela. “O que quero dizer é que há momentos que o hospital precisa de ajuda e, além de auxílio financeiro, nós precisamos aumentar a nossa produção e precisamos de um médico que faça e aconteça para sairmos do chão e ganharmos mais credibilidade com os pacientes”, salientou.

Segundo ela, há demanda por médicos no hospital. “Nenhum médico quer mais trabalhar no hospital porque no Posto de Saúde o atendimento é de segunda a sexta-feira; eles não têm incomodo à noite e aos finais de semana, e às 17h batem o ponto e podem ir embora. Eles também recebem mais no Posto de Saúde. Aqui no hospital, nós pagamos R$ 110 a hora durante a semana e durante o dia, sendo que em outros municípios eles ganham R$ 130. No final de semana, pagamos R$ 80 a hora, enquanto nos outros municípios eles recebem R$ 120. Então, também não adianta querermos exigir uma situação, se não proporcionamos para os médicos o que os outros municípios proporcionam. Essa é outra grande dificuldade”, frisou.

 

Repasses

Regina reconhece a ajuda do Poder Público Municipal que repassa mensalmente o valor de R$ 97 mil ao hospital. “Sem a ajuda da prefeitura jamais conseguiríamos tocar o hospital”, disse. Além deste valor, a casa de saúde recebe o repasse de R$ 16 mil mensais do SUS e mais a porcentagem dos convênios com os planos de saúde. “Porém, os valores referentes aos planos de saúde o hospital recebe um, dois ou três meses depois das consultas/internações”, explica.

A presidente da Associação Hospitalar Padre Hermínio Catelli, Sandra Bresciani, também se manifestou. “Hoje, para ter o hospital de portas abertas, precisamos de R$ 200 mil, com ou sem movimento, pois só nossa folha de pagamento chega agora a R$ 130 mil em razão do aumento de 20% da insalubridade. Ainda na semana passada, a fiscalização veio até o hospital e apontou que, pela nossa estrutura, precisamos contratar mais um enfermeiro e mais um técnico em enfermagem”, conta.

Sandra acrescenta: “Para se ter uma ideia da situação do hospital, nós nem conseguimos pagar alguns médicos nesse mês, o que equivale a quase R$ 31 mil. Fora todas as outras despesas. Precisaríamos de mais R$ 50 mil mensais até normalizar a situação. Lembramos que entramos em um ano político e as emendas de agora em diante serão escassas”, destacou. “Nós temos uma causa ganha na justiça que encaminhamos por causa da filantropia do INPS que foi recolhida, onde receberemos o valor de R$ 165 mil, mas só para 2023. Se fosse agora, já iria dar um fôlego para nós”, pontuou.

 

“Depois da vaca morta não adianta chorar”

Sandra mostra sua indignação diante das atitudes da comunidade local. “Muitas pessoas não merecem o hospital que tem, e depois da vaca morta não adianta chorar. É questão de consciência das pessoas. Hoje, por exemplo, tem muito mais associados no Grêmio, que é esporte, do que num hospital, que é saúde. As pessoas só vão valorizar no momento que não tiverem mais o hospital ali para fazer ao menos o primeiro atendimento, mas quando se derem conta disso, pode ser tarde, já que depois que uma casa de saúde fecha, ela não abre mais. Eu, por mim, entrego a chave para qualquer pessoa próxima desse hospital hoje mesmo, porém ninguém quer assumir essa responsabilidade, mas para criticar tem muitos. Inclusive, quero deixar claro que, se tivemos que contratar um jovem aprendiz, foi porque fomos notificados; se tivemos que contratar uma pessoa com deficiência física, foi porque fomos notificados”, ressaltou.

 

Luz no fim do túnel?

O vereador Paulo Cesar Bettoni, presente na reunião, questionou se haveria a chance de o grupo São Camilo assumir o hospital, evitando assim que fechasse.

Sandra revelou que na sexta-feira, 4, esteve em audiência online com a direção, administração e o jurídico do grupo São Camilo. “Ainda em 2016, na época das irmãs, o grupo veio visitar o hospital e se interessou em adquiri-lo, porém, quando a proposta chegou à sede, em São Paulo, foi barrada. Agora, a diretoria do grupo em São Paulo mudou, tanto é que no ano passado adquiriram três hospitais, um deles menor que o de Anta Gorda”, conta.

“Eu coloquei a situação do hospital e nos solicitaram toda a documentação para análise, a qual já foi enviada. Pediram certidões, alvarás, se tínhamos financiamento, empréstimo ou processos trabalhistas. Porém, eles barraram na escritura, onde diz que o prédio é da Associação Hospitalar até que esta mantiver a casa de saúde, caso contrário, voltaria a estrutura e o terreno para as irmãs scalabrinianas, que eram as administradoras antigamente. Eles barraram porque em outros hospitais, que tinham essa cláusula de doação, não conseguiram fazer financiamentos nas instituições bancárias. Agora, o grupo quer livre essa questão”, explicou.

Sandra ainda segue: “Agora, o grupo São Camilo analisará todas as cláusulas e deve visitar o prédio do hospital em Anta Gorda. O grupo afirmou que, se der certo, assumirá o ativo e o passivo, inclusive todos os funcionários. Agora, depende deles, e, como consequência, não sabemos se a decisão levará uma semana, 15 dias, um mês, meio ano. Se as coisas não melhorarem, essa é a luz que a gente vê no fim do túnel”, enfatizou.

A empresária antagordense Adriane Potrich, que já presidiu a Associação Hospitalar quando esta foi criada, em 2017, lembra: “Quando criamos a associação, antes de as irmãs nos entregarem o hospital, tiveram uma última reunião com o grupo São Camilo, porém nada foi acertado. O que posso dizer é que não é algo que agora vai se resolver em uma semana. Não vamos criar expectativas. Talvez esteja agora bem mais fundamentado do que naquela época, mas não vai ser uma decisão de uma hora para outra”, colocou.

“A respeito da escritura, nós fizemos uma reunião com uma irmã e seu jurídico e contadores num sábado de manhã aqui no Posto de Saúde. Na época, nós choramos, nos ajoelhamos e imploramos para que não fosse feito dessa maneira, mas o contrato já estava formulado e era pegar ou largar. Todos sabem que criamos essa associação a toque de caixa. Não tivemos opção: era formar associação, pegar essa doação ou fechar o hospital”, ressaltou.

Adriane ainda declara: “Só eu sei o quanto chorei por esse hospital, os anos que perdi e tudo o que eu deixei de fazer por conta dele. Perdi muito, em pouco tempo, em todos os sentidos”, revela ela que ficou por um ano e 11 meses à frente da associação. Ela encerra levantando a possibilidade da realização de eventos por parte da casa de saúde para angariar fundos até que a situação se resolva. “Na época que assumimos, quantos cachorros-quentes vendemos! Também fazíamos pedágios, gincanas, enfim, o pessoal sente falta disso e tudo o que investimos na época nós pagamos com esse dinheiro”, declarou.

O vereador Cirio Francisco de Freitas, por sua vez, foi firme em dizer: “Nossa salvação é o grupo São Camilo. Acho que o que foi feito até agora foi o certo. Agora, vamos tentar canalizar a nossa energia daqui para frente. Agora que surgiu essa possibilidade, temos que ficar preparados e dar o primeiro passo, que é ‘estancar o sangue’, conter essa ‘hemorragia’ do hospital, pois amanhã ou depois vai faltar grana até para comprar comida”, ressaltou.

Sobre a pouca participação de empresários na reunião, o que entristeceu a direção do hospital, o vereador colocou: “Teve gente que não veio hoje, mas já ajudou em outras oportunidades com dinheiro. Agora vamos nos apegar ao pessoal que veio e está afim de ajudar. Aos que não puderam comparecer, convidaremos com carinho e com amor para se aproximarem e lutarem conosco, afinal, quantas vidas podem ser salvas evitando um trajeto daqui a Encantado, por exemplo, caso o hospital vier a fechar?”, questionou.

 

“O hospital está sendo uma loja sem cliente”

O vereador ainda perguntou à secretária de Saúde, Andreia Frighetto, se haveria a possibilidade de a Administração Municipal aumentar o valor do repasse ao hospital até a resposta do grupo São Camilo. Andreia, por sua vez, respondeu: “Não tem como, pois no convênio que firmamos com Encantado foram onerados R$ 400 mil pelo ano inteiro”, disse. “Temos aquele valor recebido das emendas para contenção da covid-19, que é para custeio somente para a Unidade Básica de Saúde. Porém, vamos tentar conversar com os vereadores e ver a possibilidade de fazermos uma economia e ajudarmos com R$ 30 mil o hospital, por um mês”, declarou.

Andreia ainda avalia o cenário. “Uma das dificuldades do hospital é que as emendas dos deputados não podem pagar funcionários. Então, temos que fazer um trabalho junto às empresas, junto à agricultura, junto ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais, e não deixarmos baixar a média de cinco internações por dia via planos de saúde, é um dinheiro que levará um tempo, mas vai entrar. Também temos que imediatamente conseguir doações e conscientizar as pessoas a usarem a casa de saúde, porque o hospital está sendo uma loja sem clientes”, frisou.

O Poder Executivo deu início recentemente às reuniões nas comunidades, as quais contam com a presença de todos os secretários. “Nessas reuniões, nós estamos levando urnas para a comunidade deixar sugestões do que pode ser melhorado no município, e para a nossa surpresa, a situação do hospital foi apontada por muitos moradores. Desta forma, vejo que o plano A é esperar a resposta do São Camilo e segurar as pontas até lá, ou fazer uma assembleia com participação da comunidade”, manifestou o prefeito Francisco Frighetto na ocasião.

 

Grupo buscará ajuda no comércio

Ao final da reunião, decidiu-se que um grupo passará no comércio, que conta com aproximadamente 200 empresas, pedindo ajuda. “Cada um colabora com o que pode. Se cada um fizer a sua parte, não sobrecarregaremos sempre as mesmas pessoas, já que sabemos que tem empresários aqui da cidade que querem atendimento via SUS, sendo que têm condições de pagar particular. Esse pedido de ajuda ao comércio será nossa primeira tentativa para não fecharmos o hospital até um retorno do grupo São Camilo”, declarou Sandra ao encerrar o encontro.

Reunião contou com a participação da direção do hospital, empresários e lideranças políticas

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