No Fórum de Governadores desta semana, impostos são congelados por 90 dias
Por Manoela Alves
A empresa Petrobras anunciou uma revisão nos valores na venda de gasolina e diesel para as distribuidoras. Após quase dois meses sem reajuste, os valores tiveram um aumento de 18,7% na gasolina, de 16,1% no gás de cozinha e de 24,9% no óleo diesel.
A empresa justifica o aumento dos preços como consequência da guerra entre Rússia e Ucrânia, que teria feito os preços do barril de petróleo disparar. Em uma pesquisa feita em quatro postos de combustíveis de Arvorezinha, o preço da gasolina comum oscila entre de R$ 6,92 e R$ 7,15, uma variação que chega a R$ 0,23. Em alguns postos, o aumento chega perto de R$0,50 por litro. Já o diesel varia entre R$ 6,48 e R$ 6,84, e o etanol entre R$ 5,99 e R$ 6,39.
Por mais que os preços na região estejam elevados, o Rio Grande do Sul é o 3° estado com a gasolina mais barata do país, em uma pesquisa realizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) entre os dias 6 e 12 de março.
Dificuldades enfrentadas com mais um reajuste
O presidente da Cooperfox Cooperativa de Transportes, Rudinei Farias, fala das dificuldades enfrentadas pelo setor de transporte e logística, devido a mais um reajuste nos preços dos combustíveis. “O aumento não impacta apenas no combustível, mas também na manutenção total do caminhão. Nós tivemos um aumento na distribuidora de R$1,09 e mais o aumento no frete, que foi de R$1,12”, conta.
Após o reajuste da Petrobras, o Governo Federal anunciou a retirada da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e Programas de Integração Social (PIS), trazendo uma redução de R$0,33 no valor do diesel.
O Fórum de Governadores, que ocorreu na última terça-feira, 22 de março, decidiu prorrogar por 90 dias a alíquota do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que incide sobre a gasolina, etanol e gás de cozinha. Também foi decidido adotar uma taxa única do imposto para o diesel.
Rudinei explica que a cooperativa tende a amortecer um pouco os aumentos por ter a possibilidade de compra direta. “Nós conseguimos ter um produto com um valor mais em conta, mas no frete não foi repassado nenhum reajuste. Os embarcadores, as cooperativas e empresas ainda estão aguardando as decisões do governo para ver se haverá redução”, continua Farias.
Como a cooperativa está filiada a uma federação, é garantido que o motorista pode abastecer com um preço mais acessível quando está fora de Fontoura Xavier. “Nós temos o sistema da intercooperação, podendo abastecer em todas as cooperativas credenciadas na rede de transporte da federação. Isso é uma das vantagens da cooperativa, é um sistema de ajuda mútua que está dando certo”, explica.
Para quem trabalha com transporte de forma autônoma, sem estar cooperado, ainda tem as desvantagens de arcar com todos os reajustes. “Sem os subsídios alcançados pela cooperativa, é muito difícil se manter no ramo, pois está submetido ao valor dos postos de combustíveis e, ainda, ao valor alterado quando utiliza a carta frete. Nós, cooperados, estamos conseguindo enviar praticamente todos os nossos fretes para dentro da cooperativa, retornando em dinheiro ao associado e conseguindo melhores valores no abastecimento, pneus, óleo e manutenções”, continua explicando.
O combustível impactando na produção
Atualmente, um dos maiores gastos que se tem são com combustíveis, seja na parte dos transportes, seja da produção agrícola, pois ele é utilizado tanto no escoamento da produção, quanto nos maquinários agrícolas utilizados na colheita da safra.
“Além do transporte, tem toda a parte usada desde o início do plantio, com maquinário, pulverização e transporte para poder levar seu produto para a central de recebimento. Esses custos elevam o gasto para se produzir, sem contar que isso acarreta no aumento dos insumos, que são transportados e também são encarecidos. Da forma que está hoje é muito difícil de se manter em qualquer setor de atividade”, declara Rudinei.
Um dos fatores usados para justificar o alto reajuste é a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas o presidente não vê o final do conflito como solucionador dos problemas atuais de abastecimento. “Eu não acredito que baixe, principalmente porque no dia do reajuste, o barril estava cotado em U$136, na semana seguinte estava em U$96 e o preço não baixou. Isso me leva a crer que, mesmo com a queda no valor do barril, não haverá diminuição dos preços para o consumidor final. O reajuste é de 25% e, quando reduz, não chega a 5%, dessa forma o caminhoneiro não consegue seguir trabalhando”, finaliza.
O abatimento do homem do campo
O produtor rural Mateus Balbinot, morador da Linha Nona, interior do Município de Itapuca, calcula a perda pela estiagem em torno de 30%, mas em seu outro trabalho, realizando colheita terceirizada, a preocupação está grande.
“Como no início não houve humidade suficiente para germinar as sementes acabei esperando a chegada da chuva, e isso foi final de dezembro. O plantio efetuado fora de época ajudou para que a safra não desse boa”, conta.
Mateus trabalha realizando colheita em outras propriedades, todo investimento em maquinário e manutenção não compensa com o alto custo do diesel neste momento.
“Não está fácil trabalhar com esses valores tão altos, a margem de lucro é cada vez menor, afinal a colheita está sendo fraca, muitas vezes não cobrindo as despesas de insumos e óleo diesel. Além das peças de manutenção das máquinas que ou estão em falta ou com o dobro do valor”, explana.
“Tudo é muito incerto, os valores dos produtos, mas a seca ainda é o que tem mais castigado a agricultura. É aquela velha história, a esperança do agricultor é sempre o ano que vem”, finaliza.
Gás de cozinha também foi reajustado
O gás de cozinha teve um aumento de 23,2% nos últimos 12 meses, entre março de 2021 e março de 2022, segundo dados da ANP.
A alta do produto supera o acumulado dos últimos 12 meses da inflação, que já chegou a 10,54%, de acordo com a última divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O último aumento anunciado pela Petrobras, que passou a valer a partir da última sexta-feira, 11 de março, foi de 16%. Com o reajuste, o preço do produto para as distribuidoras e o gás liquefeito de petróleo passou de R$ 3,86 para R$ 4,48 por quilo.
O valor do botijão de 13 quilos, após o aumento, varia de R$ 100 a R$ 130. Em Arvorezinha, o valor está em média R$ 110 retirando no local e R$ 115 com tele-entrega.
De acordo com o empresário do ramo, Bruno Lazzari, esse aumento já era esperado. “Com o aumento do petróleo devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, já sabíamos que iria aumentar, o que esperamos é que o valor se mantenha. Em alguns países, o aumento foi bem maior, na Itália, por exemplo, o aumento no gás foi de 70%”.
Lazzari conta que mesmo com o reajuste, o consumo não diminuiu. “Não sei se as pessoas estão com medo que venha um novo reajuste, mas o consumo aumentou nesses últimos dias, e não é somente no meu estabelecimento, pois conversando com outras pessoas que comercializam gás, todos comentaram o mesmo”.