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Valor pago pela erva-mate está em queda

Fatores apontados vão desde uma oscilação normal, crise econômica no País e redução de importação para a Argentina

A arroba da erva-mate in natura chegou a ser paga nos últimos meses até R$ 28,00, mas nas últimas semanas se percebe um movimento de queda, sendo comercializada na região de Arvorezinha e Ilópolis a em média R$ 20,00.

Vários são os fatores que interferem nessa oscilação do preço pago pela arroba. O presidente da AA Erva-Mate, Clóvis Roberto Roman elenca o principal deles na sua percepção. “Muitos são os motivos que interferem nessa variação de preço para baixo, temos a economia em crise, nacional e mundial, afetando de maneira geral os consumidores do produto erva-mate chimarrão, este é com certeza o principal fator”.

Porém, ele afirma que mesmo assim a cultura é viável. “Mesmo com essa oscilação no valor da erva-mate, tendo em vista que em nosso polo produtor de erva-mate a agricultura familiar é muito forte, esta é uma cultura viável. Mas, é preciso ressaltar mais uma vez que a crise mundial iniciada pelo coronavírus e aprofundada pelos conflitos entre as nações produtoras e exportadoras de matéria-prima de insumos aplicados no cultivo dos ervais, vêm elevando os custos de produção. Porém, passando esses percalços e a economia se aquecendo novamente teremos a volta de uma rentabilidade melhor para todos”.

Presidente da AA Erva-Mate Clóvis Roberto Roman afirma que a IG valorizará o produto na região

Para que haja mais valorização da erva-mate no polo ervateiro do Alto Vale do Taquari, Roman afirma que a IG da Erva-Mate é fundamental. “Neste momento de crise, muitos produtores estão buscando uma melhor gestão de sua propriedade, estão, por exemplo, dando mais atenção a uma análise de solo, a fim de evitar desperdício na adubação. Com esse olhar mais atento a sua propriedade, buscando reduzir custos, vão se tornando mais profissionais no cultivo de seus ervais, e isso se traduz também no pré-alinhamento para a Indicação Geográfica (IG). Lembrando que a IG tem como premissa organizar o território, proteger a região produtora e agregar valor ao produto”.

Ele finaliza. “A AA Erva-mate tem trabalhado no desenvolvimento de ações que irão impactar positivamente o produtor rural do polo Alto Taquari, a exemplo disso a IG, que numa junção de esforços entre entidades e poderes públicos está sendo construída. Além disso, tivemos dois projetos aprovados recentemente, um na área de automação e outro na área de bioativos, em que a erva-mate estará sendo pesquisada. Tais projetos foram contemplados via edital da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado do RS, numa parceria com a Unisc e Univates, e estarão ligados também ao Centro Tecnológico da Erva-Mate. Com esses passos e outros que serão dados vejo um futuro promissor para o crescimento salutar da cadeia produtiva da erva-mate em nossa região e Estado”.

Crise na Argentina

Muitos especialistas apontam como um dos motivos para a queda nos preços da erva-mate a crise econômica na Argentina, e em consequência a diminuição da exportação do produto brasileiro para aquele País. Sendo que o governo argentino restringiu as importações para tentar conter a desvalorização do Peso argentino em relação ao Dólar.

Mesmo com medidas drásticas como essa por parte do governo, o Peso argentino caiu para uma mínima recorde de 350 por Dólar nas negociações no mercado informal nesta sexta-feira, 22 de julho”.

– Ilvandro Barreto de Melo considera a oscilação de preço normal

O extensionista e engenheiro agrônomo da Emater, Ilvandro Barreto de Melo, é um dos que atribuem parte da culpa por essa queda de preços para a crise do País vizinho. “De forma geral, não ocorreu baixa significativa dos preços pagos pela erva-mate, dentro de uma situação normal de mercado estabilizado. O que pode ter ocorrido é que em função de um volume maior demandado para a importação em anos anteriores, algumas empresas possam ter praticado preços acima da média em algumas situações e agora, com o controle e/ou a redução de compra feita pelos importadores, esses preços retornaram aos patamares normais”.

Ele continua falando sobre a situação das importações argentinas. Se comparada aos vários anos que a Argentina não comprava praticamente nada do Brasil, a importação está bem. Mas se comparada aos anos mais recentes, quando a compra foi grande, a situação está igual, a própria Argentina está com problemas graves”.

Barreto afirma também que no estado do Rio Grande do Sul não há excesso de oferta de erva-mate, ao contrário, algumas regiões precisam importar de outros locais. “Aqui no estado está mais para a redução da demanda que pelo aumento da produção de erva-mate. O Rio Grande do Sul não tem autossuficiência na produção de matéria-prima. A exportação e o consumo interno são maiores que a produção. Por isso a necessidade de importação de folha e erva cancheada do Paraná e de Santa Catarina. Além, da erva-mate empacotada produzida em outros estados que já tem vindo competir no mercado local com as empresas gaúchas. Os polos ervateiros do Nordeste Gaúcho, do Alto Uruguai, Celeiro Missões e Região dos Vales são deficientes quantitativamente na produção de folha. Necessariamente precisam importar de outras regiões/Estados. Nem é uma questão específica de qualidade e, sim quantidade”.

Para finalizar, Barreto fala de uma nova modalidade para uso da erva-mate e agregar valor. “Surge através do Ilexturismo, turismo com erva-mate, uma nova modalidade de se praticar vivências e experiências com a planta símbolo e a bebida oficial dos gaúchos.  O Ilexturismo é um termo criado com origem no Rio Grande do Sul e se constitui em um segmento de atividade turística voltada ao mundo do mate. Abrange experiências culturais, ambientais, artísticas, gastronômicas, científicas, tecnológicas, educativas, de entretenimento e das mais variadas naturezas que envolvam a relação com o mate.  A diversidade na cadeia produtiva ervateira tende a garantir experiências únicas e inovadoras, que estarão muito além de palmear o porongo e cevar um mate. Prestemos muita atenção a essa nova tendência”.

 

Baixa de preço e aumento do custo de produção

O produtor de erva-mate de Ilópolis, Milton João Bonfanti, sempre trabalhou com a cultura, mas intensificou há um ano, quando passou a se dedicar exclusivamente a cultura. Ele considera que o valor que está sendo pago ainda permite ter lucro. “Eu tenho cerca de oito hectares com erva-mate, no ano passado o produto estava bem valorizado, hoje já percebemos uma queda no preço, chegando até R$ 2,00 por arroba na indústria. Recebemos hoje em média R$ 20,00, ainda está bom o valor, mas se baixar mais teremos problemas com o custo de produção”.

Produtor Milton João Bonfanti e Nadir Secco colhendo a erva-mate

Bonfanti continua argumentando que o valor é relativo, dependendo do ator da cadeia produtiva. “Se tu me perguntares eu vou dizer que é pouco o que estou recebendo, já os ervateiros falam que pagam muito, penso que se pagassem de R$ 22,00 a R$ 23,00 estaria bom. Mas se baixar para menos de R$ 20,00 fome ninguém vai passar, apenas vai diminuir os ganhos”.

Quanto ao custo de produção, o produtor reclama que aumentou significativamente. “O custo de produção disparou. Na questão dos insumos, ano passado pagávamos pelo adubo em média R$ 150,00, hoje pode passar de R$ 300,00. Mas com tudo isso a erva-mate é uma cultura segura, temos venda certa e é a principal cultura da nossa região”, diz.

Confira o valor pago pela arroba nos principais polos ervateiros

Polo Ervateiro                                                   Valor pago pela arroba

Região dos Vales De R$ 18 à R$ 24,00
Celeiro Missões De R$ 18 à R$ 24,00
Alto Taquari De R$20 à R$ 23,00
Nordeste Gaúcho De R$ 20 à R$ 23,00
Alto Uruguai De R$ 20 à R$ 23,00
Cruz Machado – PR R$ 25,00
Chapecó – SC De R$ 17 à R$ 19,50

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