Cresce o movimento entre empresários e lideranças do setor que pedem pela extinção do fundo
Criado em dezembro de 2012, através da Lei nº 14.185, o Fundomate tinha a finalidade de custear e financiar as ações da Cadeia Produtiva da Erva-Mate no RS. Porém, foram raras as vezes que o fundo atendeu a sua finalidade.
Quando criado, o fundo era cercado de boas expectativas, afinal a cadeia produtiva da erva-mate dava sinais de que com recursos poderia trilhar um caminho de evolução e organização. Porém, com o passar do tempo, a situação se revela oposta.
O setor fica paralisado com a justificativa de que aguardam a liberação do fundo, e tudo passou a girar em torno dessa expectativa. Os recursos arrecadados pelo fundo vão para o caixa único do Estado e a liberação do dinheiro para entidades que estão habilitadas a operá-lo e fazer sua aplicação é um processo extremamente burocrático e lento.
Por outro lado, a última liberação de recursos feita ao Ibramate em 2020, de um valor que girou em torno de R$ 750 mil reais, apesar de o instituto estar sediado no município de Ilópolis, o setor em si, apesar das incontáveis demandas, não percebeu a aplicação dos recursos. Segundo informações do presidente do Ibramate, Alberto Tomelero, com os recursos o Ibramate contratou temporariamente um diretor administrativo, formado em arquitetura e urbanismo, devido a falta de um profissional mais apto para executar os serviços.
Questionado sobre o que foi feito com os recursos, o presidente se limitou a dizer que foi elaborado um plano de trabalho, o qual foi aprovado pela Secretaria de Agricultura.
Segundo Tomelero, atualmente o diretor administrativo trabalharia de forma voluntária, em um espaço cedido pelo município de Ilópolis e que conta apenas com uma secretária, que também tem seus custos bancados pelo município.
O presidente do Sindimate, Álvaro Pompermayer, também não está satisfeito com a situação, sendo que em outras oportunidades já se manifestou pela extinção do fundo, uma vez que este não vem cumprindo o seu papel, mas segue onerando as indústrias, o que não se justifica.
Para Álvaro, ou se toma uma medida drástica para destinar adequadamente o fundo, ou se extingue de uma vez.
Recursos do fundo também eram destinados para custear despesas de eventos voltados para o setor ervateiro ou custear a participação do setor em eventos como a Expointer, por exemplo. Porém, até o momento, as indústrias, apesar de pagarem o fundo, estão sendo obrigadas a desembolsar recursos para participar da Expointer.
A Femate, Festa Nacional da Erva-Mate, que acontecerá de 8 a 11 de setembro, também não tem garantias de que receberá recursos do fundo.
O Ibramate se estruturou dependo dos recursos financeiros do Fundomate, já que a contribuição dos associados ainda representa uma receita pequena para a entidade, e lamenta pela falta de compromisso do Governo Estadual. “As queixas do setor hoje são com a falta de compromisso do Estado com Fundomate. Temos planos de trabalho, mas não podemos executar por falta de dinheiro. Não conseguimos, inclusive, dar nossa contribuição com a Femate de Arvorezinha por meio do Fundomate, pois aguardamos a liberação do recurso desde dezembro do ano passado e até agora nada. Na Expointer, são as próprias empresas que colocaram suas marcas lá, que estão contribuindo com alguma coisa”, destaca o presidente do Ibramate, Alberto Tomelero.
Segundo ele, a última vez que o Ibramate teve acesso aos recursos do Fundomate foi no início de 2020. “Temos feito muitas reuniões, solicitamos audiência com o Estado, mas não conseguimos. É uma protelação e só nos chamam lá para a reunião do Conselho do Fundomate que aprova o orçamento. Da última vez votamos contra o orçamento como medida de protesto, já que o Estado não cumpre a parte dele, mas não adiantou. Eles dizem que esse dinheiro do Fundomate é uma receita que o Estado abre mão, e por efeito de lei tem que estar no caixa único”, conta.
De acordo com Tomelero, o Ibramate deverá buscar outras alternativas para poder desenvolver um trabalho digno dentro da entidade. “O setor está muito apreensivo. O Sindimate, inclusive, já pediu a extinção do Fundomate, mas nos informaram que quem decide isso é o conselho, que é representado por 50% de representantes do governo e 50% da iniciativa privada. Ainda, a maioria dos polos ervateiros não quer a extinção do Fundomate, porque é um bom recurso que pode ser investido no setor, e querendo ou não, muitas coisas foram feitas nas três vezes em que o recurso foi liberado. Só lamentamos não poder ter um trabalho contínuo”, disse.
Ibramate buscou a união do setor na nova gestão
Tomelero abordou ainda que o Ibramate teve em sua fase de desenvolvimento um momento de dificuldade, não somente com a falta de recursos para poder desenvolver suas atividades, mas com a desunião do setor. “Haviam problemas de entendimento entre as próprias entidades fundadoras, mas quando assumimos, trabalhamos para unir a classe, estabelecer o diálogo, e conseguimos isso em parceria com o Sindimate. Hoje nós temos um bom relacionamento e estamos somando forças e trabalho”, ressaltou.
O cenário ervateiro no RS
Ele também avalia o atual cenário ervateiro no RS. “O mercado está num momento de estabilidade, onde os produtores estão ganhando um preço razoável pela sua matéria-prima. O mercado varejista e os distribuidores também estão numa situação boa. A situação difícil está com a indústria que, por um problema muitas vezes até de desunião com o próprio setor, não consegue repassar preço, sendo que houve um aumento de custo muito grande. As indústrias estão trabalhando com uma margem muito apertada, e algumas acredito que estão até pagando para trabalhar”, informou.
Quanto à produção, Tomelero destaca estar dentro do que se previa. “A última estiagem prejudicou, num primeiro momento, a produtividade da erva-mate, mas a partir do momento que voltou a chover ela se recuperou rapidamente. Tínhamos uma previsão de quebra de safra, e na verdade isso não aconteceu. A produção está muito boa e muitos ervais estão produzindo até mais do que a safra anterior”, destaca.
Ele segue: “Também estão começando a produzir os ervais plantados nos últimos anos. Entre 2012 e 2013 houve uma valorização muito grande da erva-mate em termos de preço no mercado, e a partir disso as pessoas começaram a investir plantando, corrigindo o solo, fazendo podas adequadas, e surgiu ainda o programa de incentivo do Governo do Estado quanto à melhoria da qualidade. Isso fez com que muitos ervais se renovassem com plantios mais adensados e a produtividade aumentou. Naquela época girava em torno de 600 arrobas por hectare. Hoje a média no estado é de 900 arrobas por hectare”, relata.
Outro dado exposto por ele, é quanto à quantidade de marcas de produtos à base de erva-mate no RS. “Hoje temos aproximadamente 1,5 mil marcas de produtos à base de erva-mate no RS, sendo incluídos a erva-mate para chimarrão, o tererê e os chás. Desta quantia, 103 marcas são do município de Ilópolis, que conta com 37 indústrias instaladas”, pontuou.
Tomelero encerra destacando que uma das metas do Ibramate é aumentar o consumo da erva-mate, diversificar os produtos e melhorar a qualidade. “Essa cadeia produtiva tem muito a crescer. A tendência é reduzir o número de produtores, aumentar a produtividade e a qualidade da matéria-prima”, concluiu.
No dia 22 de setembro ocorre assembleia para a troca de diretoria do Ibramate em Venâncio Aires, na abertura da Festa Colheita da Erva-Mate.