Após ataque em escola de Blumenau, ameaças em redes sociais têm levado preocupação à comunidade escolar e autoridades
Por Fabiana Borelli
Após o ataque a uma creche na cidade de Blumenau, SC, que resultou na morte de quatro crianças, várias escolas do Rio Grande do Sul passaram a receber ameaças por telefone, WhatsApp e redes sociais.
Essas ameaças têm preocupado alunos, pais, professores e autoridades. O que tem feito também com que muitos pais não mandem os seus filhos para a escola.
Devido a esses fatos, a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP) anunciou que um monitoramento de todos os casos está sendo feito e os envolvidos deverão ser responsabilizados. Além disso, a Brigada Militar (BM) intensificou o patrulhamento em escolas no Estado. Já a Polícia Civil montou uma força-tarefa para monitorar, mapear e contabilizar os fatos registrados.
De acordo com o mapeamento, desde novembro de 2022 são 27 registros, 90% deles partindo de adolescentes. Sendo que a maioria deles ocorreu após o ataque à creche de Blumenau.
No Rio Grande do Sul não houve ações concretas, por isso os suspeitos identificados estão sendo acionados para depor e deverão ser indiciados pelo crime de ameaça.
Reforço de policiamento
O secretário de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, Sandro Caron, confirmou na quinta-feira, 13 de abril, que haverá um reforço de 1,7 mil policiais militares para atuação em áreas escolares, e que eles começam imediatamente.
Esse reforço será com policiais que atuam em áreas administrativas e que estão de folga. O efetivo não estará em todas as escolas ao mesmo tempo, por isso serão montadas equipes. Em casos de confirmação de ameaça a Polícia Civil ou o Ministério Público representam pela internação dos jovens.
Seis apreensões no Estado
Somente nessa semana seis adolescentes foram apreendidos por ameaças a ataques em escolas, cinco deles nas últimas 24 horas. Dois deles em Maquiné, no Litoral Norte, e, inclusive, já houve casos com internações na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), em Balneário Pinhal, São Luiz Gonzaga, Montenegro e Rolante.
Em outras cidades do Estado também estão sendo averiguados possíveis casos de ameaças, as forças de segurança estão averiguando caso a caso. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado, o objetivo é prevenir e tirar de circulação envolvidos em planos ou ameaças, garantindo que as aulas ocorram de forma tranquila.
Casos na região
O caso que mais chamou a atenção na região foi em Fontoura Xavier, mas que após averiguação se chegou à conclusão que se tratava de uma brincadeira.
A diretora o Instituto Estadual Ernesto Ferreira Maia, Eliane Baptista, fala sobre o ocorrido. “Chegou até nós na semana passada a informação que havia sido escrita uma frase de ameaça na escola. Imediatamente levamos o fato ao conhecimento da Polícia Civil e da Brigada Militar. Também informamos a 25ª Coordenadoria da Educação de Soledade, e esses são os protocolos que precisamos seguir diante de qualquer situação que ofereça risco para a comunidade escolar”.
Ela continua: “também convocamos uma reunião já de imediato com a equipe gestora para delinearmos algumas ações para a averiguação e investigação para encontrar quem foi o aluno que tinha realizado essa ação, também conversamos com os professores e funcionários nos devidos turnos da manhã e tarde da escola, e orientamos a se manterem atentos e observar os alunos a fim de descobrirmos quem era o aluno que tinha feito essa ação. ”, comenta.
Eliane conta como se deu essa confirmação do aluno que escreveu a mensagem. “No sábado o aluno que escreveu a ameaça veio até nós acompanhado da mãe para contar que tinha feito a frase e que não tinha intenção de causar tanto espanto, que jamais faria qualquer violência e que fez por uma brincadeira do dia 1º de abril. A partir disso a escola passou a tomar as medidas para resolver essa situação. Agimos de acordo com as regras da escola que se baseia no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), visto que o aluno é um jovem que recentemente fez 16 anos. Solicitamos à mãe que o encaminhasse para atendimento psicológico”.
Além desse caso houve também uma ameaça nas redes sociais destinadas à Escola Municipal Orestes de Brito Scheffer, de Arvorezinha.
O Eco Regional entrou em contato com a secretária de Educação Sandra Zortea para obter informações sobre o fato e as providencias tomadas, mas até o fechamento da edição não obtivemos resposta.
Preocupação
As ameaças e os casos concretos de violência nas escolas geram medo e preocupação, a diretora do ESI – Colégio Santa Teresinha de Anta Gorda, irmã Zenaide Mesomo, menciona que as famílias estão assustadas. “Esta situação está perturbando a vida das famílias, os pais estão preocupados com a segurança e vida de seus filhos, e isto é lógico e justo. Toda a sociedade, de uma maneira geral, está sendo atingida. As escolas também estão sendo prejudicadas, pois o trabalho pedagógico acaba sendo afetado e parece que cabe às instituições escolares acharem uma solução mágica para toda esta situação, sendo bombardeadas com uma infinidade de exigências, como se tivessem condições solucionar tudo”.
Nesse mesmo sentido, a secretária de Educação de Fontoura Xavier, Laudete Bortoncelo Nunes, afirma: “eu vejo essa situação com muita apreensão, pois não estamos acostumados a receber estas notícias de tamanha violência em escolas no nosso país, mas não podemos achar que isso seja impossível, assim como os pais e educadores, me preocupo e já estamos tomando providências com relação a prevenção a este tipo de situação”.
Quanto às causas, irmã Zenaide afirmam que essa violência pode ser um reflexo da sociedade. “A causa está na sociedade, que já é permeada por uma violência constante. A ausência de valores humanos também é fator determinante para agravar ainda mais este cenário. Pensamos que a causa está na falta de as pessoas não viverem os bons princípios e valores cristãos, como a solidariedade, a empatia, o amor ao próximo, a partilha, o respeito, o perdão, a aceitação da diversidade. Talvez também haja muita indiferença e falta de atenção, de cuidado e carinho dentro dos lares, necessários para um crescimento maduro das crianças e jovens”.
Já para Laudete as causas podem ser emocionais. “Há inúmeras suposições, mas acredito que as questões socioemocionais mal resolvidas, em conjunto com o mau uso das ferramentas tecnológicas, fortaleceram o público de pessoas com grandes frustrações e psicologicamente abaladas a se unirem no intuito de divulgar e promover o pânico e o desequilíbrio na sociedade atual, atacando escolas por serem locais onde se concentram maior número de indefesos”.
Elas também falam sobre os jogos eletrônicos que são apontados como uma das causas da violência. “Aparentemente muitos jogos transformam a violência em algo bonito e divertido, porém formam mentes violentas. Muitas vezes, também, as redes sociais são o cenário perfeito para repassar fake News, por isso, é preciso ter muito cuidado com o que se repassar adiante. O pânico e o medo só atrapalham e pioram ainda mais o cenário, apavorando ainda mais as nossas crianças e adolescentes. Às vezes, algumas famílias são muito permissivas e não monitoram o que os filhos jogam em seus celulares”, afirma a irmã.
Ao falar do pânico entre a comunidade escolar, Laudete afirma que ele é legítimo, mas que há que se ter cuidado. “O pânico só fragiliza ainda mais toda comunidade, principalmente os alunos, professores, funcionários e pais. Temos que estar cientes que não podemos achar que são fatos isolados”, diz.
O que irmã Zenaide complementa: “não há como blindar a vida das tragédias. Também não há uma única solução milagrosa. Não podemos negligenciar e fingir que o problema não existe, mas não podemos super dimensioná-lo, pois o pavor bloqueia as pessoas e assusta ainda mais as crianças. Não são altos muros ou guardas armados que resolverão este triste e lamentável cenário, mas sim uma sociedade mais humana, com espaço para diálogo, respeito e valorização das pessoas e da vida. Escola é um espaço de convivência social, de formação de valores humanos, de convivência sadia e positiva. É esse cenário que nós lutaremos incansavelmente para manter”.
Ela finaliza: “enquanto escola, já estamos fazendo tudo o que está a nosso alcance, a fim de que se possa manter o contexto escolar funcionando da maneira mais natural e seguro possível. Nossas escolas não podem ser confundidas com presídios, mas aumentar os cuidados, com câmeras de monitoramento e com portões sempre fechados é fundamental”.
Em contato com a Brigada Militar o comando regional de Soledade respondeu que a corporação não está autorizada a falar sobre o assunto, e os casos são tratados pela Secretaria de Segurança Pública.