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Anta Gorda é cidade de destino de muitos migrantes

 

Mapeamento migratório apresentou dados importantes sobre o município

 

Irmã Neide Lamperti, Missionária Scalabriniana, e Felipe Oneda Polese, Leigo Missionário Scalabriniano, ambos naturais de Anta Gorda, levaram a cabo uma pesquisa no município de Anta Gorda, ao final de 2023 para conhecer a realidade migratória na cidade.

Segundo o que consta nos resultados, a escassez de mão de obra, especialmente em algumas empresas, agroindústrias, indústrias, agricultura, avicultura, cultivo da erva-mate e produção leiteira de Anta Gorda, representa um desafio significativo para o crescimento econômico da região. A falta de trabalhadores qualificados pode restringir o potencial de expansão desses setores e a produção agrícola, o que tem levado a um aumento significativo na presença de imigrantes na cidade nos últimos tempos.

 

Importância do mapeamento

Compreender a realidade migratória desempenha um papel essencial na promoção da integração dos migrantes na comunidade local, na identificação de suas necessidades de saúde e na formulação de políticas de imigração. Isso contribui não apenas para o bem-estar e a coesão social em Anta Gorda, mas também facilita a integração cultural, social e religiosa, promovendo a compreensão mútua.

A coleta dos dados, feita através de formulários específicos, teve a duração de 3 meses (20 de setembro a 15 de novembro de 2023) e foi conduzida por uma equipe composta por líderes das capelas católicas locais, representantes de empresas e agroindústrias, agentes municipais de saúde, professores de escolas, agências bancárias, lojas, hospital, além de algumas pessoas voluntárias.

Após este processo, identificou-se 10 migrantes, provenientes de diferentes locais (nacionais e internacionais) para realizar uma entrevista em profundidade, com a finalidade de coletar outras informações acerca das motivações da migração, de sua acolhida e integração social, cultural e laboral em Anta Gorda, de interesses culturais e religiosos, sugestões de melhoria para a cidades, entre outros.

 

Número de migrantes identificados

Os dados coletados são uma amostra da realidade migratória da cidade. Não são exatos devido à mobilidade constante de pessoas da cidade, mesmo durante o período de pesquisa. Entretanto, os dados informaram que Anta Gorda acolhe aproximadamente 570 migrantes. Isto equivale a 9.5% da população total da cidade e provoca um impacto significativo na comunidade local, nos âmbitos culturais, sociais, econômicos e religiosos.

As pessoas que se mudaram para Anta Gorda vêm de diferentes lugares, criando uma comunidade com muitas culturas e aspectos diferentes. Alguns deles migraram das cidades vizinhas a Anta Gorda, contribuindo para a dinâmica regional e mantendo fortes vínculos locais. Outros escolheram Anta Gorda como seu lar provenientes de diversas cidades do Rio Grande do Sul, trazendo consigo uma variedade de experiências e perspectivas.

Anta Gorda é um lugar acolhedor não apenas para migrantes de diferentes estados brasileiros, mas também para aqueles vindos de países vizinhos, como Argentina e Paraguai. A cidade surpreendentemente atrai residentes de locais mais distantes, como o Senegal, destacando sua internacionalização e capacidade de atrair pessoas de diversas partes do mundo. Essa diversidade de origens contribui para uma atmosfera única e vibrante, onde as trocas culturais e a convivência pacífica são características marcantes da comunidade local.

Migração Internacional

País Número de pessoas
Argentina 47
Paraguay 61
Senegal 1
TOTAL 109

 

Migração Nacional

Estado – Cidade Número de pessoas
Lages – SC 2
Irati – SC 6
Palhoça – SC 5
Dionísio Cerqueira – SC 6
São Bonifácio – SC 3
Ponta Porã – MS 3
Ji Paraná – RO 2
Santa Catarina 1
São Paulo – SP 6
Maranhão 4
Minas Gerais 3
Curitiba – PR 5
TOTAL 46

         (Algumas cidades não foram identificadas)

Migração Regional (Rio Grande do Sul)

Cidades do RS Número de pessoas   Cidades do RS Número de pessoas
Arvorezinha 34 Palmares 6
Barros Cassal 4 Panambi 2
Bento Gonçalves 4 Parobé 5
Bom Retiro do Sul 2 Passo Fundo 3
Caibaté 10 Planalto 4
Camaquã 16 Porto Alegre 16
Campo Bom 4 Progresso 11
Candelária 12 Protásio Alves 4
Carazinho 8 Putinga 20
Canguçu 6 Relvado 2
Casca 1 Rio Grande 3
Caxias do Sul 10 Rosário do Sul 1
Ciríaco 1 Sagrada Família 5
Dois Irmãos 1 Salto do Jacuí 2
Doutor Ricardo 5 Santa Maria 4
Encantado 31 Santa Cruz do Sul 3
Estrela 7 Santa Rosa 2
Farroupilha 13 Santana do Livramento 1
Gaurama 1 Santo Angelo 1
Gramado Xavier 5 São Leopoldo 3
Guaporé 25 São Luiz Gonzaga 3
Ilópolis 25 São Valentin do Sul 6
Itapuca 3 Sapiranga 4
Itaqui 4 Sapucaia do Sul 5
Lagoa Vermelha 2 Segredo 1
Lajeado 3 Serafina Correa 6
Marau 4 Sobradinho 4
Muçum 15 Soledade 12
Nonoai 4 Tapejara 3
Nova Araça 1 Terra de Areia 4
Nova Brescia 1 Teutônia 3
Nova Santa Rita 2 Vila Sério 2
TOTAL:  445

Durante o processo de registro de migrantes, os dados revelaram que a maioria optou por realizar a migração acompanhada de seus familiares, seja em contextos internacionais, como observado nos casos de argentinos e paraguaios, ou em âmbitos nacionais e regionais. Essa tendência evidencia a significativa influência dos laços familiares no fenômeno migratório. A decisão de migrar em grupo geralmente é impulsionada pela busca por melhores condições de vida e oportunidades econômicas.

A presença de famílias completas não apenas impacta a dinâmica social e cultural da comunidade antagordense, mas também desempenha um papel importante na formação de redes de apoio e na integração dos migrantes. No entanto, essa escolha não está isenta de desafios específicos, como a adaptação conjunta a um novo ambiente e a construção de uma identidade em meio ao desconhecido.

 

Há quanto tempo vivem em Anta Gorda?

Entre as pessoas cadastradas como migrantes, algumas estão na cidade há bastante tempo, enquanto outras chegaram mais recentemente. É importante destacar que, nos últimos dez anos, houve um aumento significativo no número de pessoas se mudando para a cidade de Anta Gorda.

Um grande número de migrantes em Anta Gorda tem 20 anos ou mais, destacando a presença significativa de casais no fluxo migratório. Dos 570 migrantes registrados, 362 pessoas, o equivalente a 63,5%, optaram por se estabelecer na cidade em um período inferior a 5 anos.

Esse fenômeno aponta para uma mudança recente no padrão migratório da região, sugerindo que Anta Gorda, nos últimos anos, tornou-se um destino atrativo da população migrante. O influxo expressivo de novos residentes em um curto intervalo de tempo ressalta a dinâmica em evolução da cidade e as razões que podem estar impulsionando essa migração acelerada.

Motivos da migração e setor laboral

É evidente a motivação primária que impulsiona os migrantes a buscarem Anta Gorda: porque a cidade oferece um ambiente tranquilo e, ao mesmo tempo, apresenta uma demanda significativa por mão de obra em várias áreas. A segurança de encontrar emprego é um fator determinante, uma vez que a cidade oferece muitas oportunidades de trabalho e há escassez de trabalhadores disponíveis.

Na tabela a seguir, estão listados os diversos tipos de empregos nos quais os migrantes estão envolvidos. Essa dinâmica destaca a interconexão entre a necessidade de força de trabalho e a escolha dos migrantes de se estabelecerem em Anta Gorda, criando um cenário favorável para ambos: a comunidade receptora e os migrantes em busca de oportunidades de emprego.

No quadro, observa-se que a atividade predominante entre os migrantes é nas áreas agrícola e industrial. Isso sugere que Anta Gorda carece de mão de obra tornando-se um dos principais fatores atrativos para a migração. A necessidade de trabalhadores nessas áreas não apenas oferece oportunidades de emprego, mas também mostra o quanto esses setores são importantes para o desenvolvimento socioeconómico da cidade. Setores como saúde, educação, indústria e agricultura desempenham papéis fundamentais na construção de uma comunidade próspera.

 

Setor Laboral Número de pessoas
Agricultura: milho, fumo, etc 145
Pecuária (Produção leiteira) 35
Avicultura 14
Suinocultura 5
Segurança (Pública e privada) 5
Saúde: médicos, enfermeiras, cuidadores, psicólogos, farmacêuticos, técnicos, massagista, etc. 15
Cultivo e colheitas: erva mate, laranja e noz pecã 35
Diaristas, motoristas e lenhadores 42
Profissionais: veterinários, engenheiros, contabilistas, laboratoristas 11
Comércio: lojas, vendas de produtos agrícolas, tele-vendas, etc 48
Indústrias: lacticínios, frigoríficos, calçadistas, têxtil (bombachas, lingeries), móveis. 119
Mecânica 4
Serviços religiosos: diferentes Igrejas 8
Educação: estudantes e professores 23
Construção: Pedreiros, pintores 9
Serviços gerais: limpezas de pátio, de ruas, jardinagem 23
Função pública 5
Crianças sem idade escolar 9
Autônomos: trabalho não identificado 15
TOTAL 570

Anta Gorda vista pelos migrantes

Após concluir o mapeamento, 10 pessoas de diversas localidades, tanto do Brasil quanto de outros países e setores profissionais, foram entrevistadas. As perguntas abordaram temas como identificação, motivações para escolher Anta Gorda como destino, questões relacionadas ao ambiente de trabalho, sustentabilidade pessoal e familiar, integração social, percepções sobre a cidade, áreas de possível melhoria e mudanças significativas em suas vidas após a mudança, entre outros tópicos.

Os dez entrevistados migraram para Anta Gorda em busca de melhores condições de trabalho e oportunidades, alguns também motivados por questões matrimoniais. Entre eles, nove manifestaram a intenção de permanecer na cidade, enquanto apenas uma pessoa mencionou que seu emprego é temporário e “que tudo depende das oportunidades”.

No que diz respeito ao emprego, todos os dez entrevistados estão atualmente empregados. Eles afirmam receber salários justos e pontuais, com seus direitos devidamente assegurados, horários de trabalho estabelecidos e desfrutam de relacionamentos positivos com seus empregadores.

Sentem uma gratidão profunda pela chance de trabalhar nesta cidade, usufruindo dos serviços de saúde, educação e assistência social. Agradecem porque suas vidas experimentaram melhorias significativas desde que chegaram a Anta Gorda. Não apenas encontraram um local acolhedor, mas um verdadeiro lar, repleto de oportunidades de emprego e paz. Expressam alegria por fazerem parte deste ambiente e, de fato, um deles compartilhou: “recomendo a cidade para outros morarem. Aqui, a vida é completa… nem se compara ao lugar de onde vim.”

Cada um dos entrevistados destacou a calorosa recepção que receberam na cidade, ressaltando a solidariedade presente entre os residentes e famílias recém-chegadas. Uma pessoa disse: “desde que eu cheguei aqui, nunca precisei comprar roupas e brinquedos para as crianças, porque sempre ganho muita coisa das vizinhas e amigas. Isto me deixa muito feliz”. Observam uma notável colaboração em várias dimensões, e expressam profunda gratidão pela hospitalidade e pelas relações positivas que encontraram aqui.

Ao perguntar como descrevem a cidade, responderam: “Aqui é um lugar de paz”. “É uma cidade rica”. “É uma cidade bonita, limpa, organizada (…) aqui tem trabalho para todos, é só ter vontade. A cidade oferece oportunidade de crescimento da pessoa”. “Aqui há muita comida, pessoas boas, acolhedoras, há tranquilidade”. “É uma cidade limpa, hospitaleira e bem cuidada”. “Gosto do campo de futebol, a cidade é segura, não é difícil conseguir emprego.” “Aqui é bom porque para trabalhar tudo é perto, não preciso pegar ônibus, posso ir a pé.” “Aqui me sinto segura e confortável. A cidade transmite segurança. Possui as belezas naturais”. “A cidade é pequena, não tem shopping, mas tem muita qualidade de vida, muita tranquilidade”. “Aqui a vida é muito diferente de onde eu vim. É muito melhor aqui. Já não quero voltar pra lá.”

O que poderia ser melhor?

Os entrevistados citaram a necessidade de maior oferta de lazer e educação, principalmente para adolescentes, assim eles poderão dar continuidade às atividades na cidade. Melhorar a educação das pessoas, assim como diminuir a fofoca na cidade, porque todos sabem e falam da vida de todos. Poderiam melhorar os preços dos produtos, roupas, alimentos, produtos agrícolas e construção. Tudo é mais caro do que outras cidades vizinhas. A cidade tem condições de melhorar a infraestrutura e oferecer mais espaços para aluguéis, mercados maiores com muito mais produtos, sem ter que se deslocar a outras cidades e comprar.

Deveria ter um lugar chamado “banco de emprego”, assim quando os migrantes chegam na cidade já sabem onde se deslocar para conseguir trabalho e sugestões de aluguel. A prefeitura poderia oferecer mais serviços sociais para os jovens, e assim atrair a sua atenção e poderem permanecer na cidade e livrar-se das drogas e vícios. Cursos de lideranças, oficinas de formação, teatros, cursos diversos. O atendimento da saúde é bom, mas o hospital poderia ter mais opções de tratamentos e cirurgias, principalmente para partos e cesarianas.

Conclusão

Ao concluir a pesquisa, a Irmã Neide e o professor Felipe declaram: “É nosso desejo que as sugestões apresentadas aqui possam ser ponderadas pela Administração Pública. Essa reflexão poderá contribuir para a contínua construção de uma cidade hospitaleira e íntegra, onde a diversidade de talentos e experiências dos migrantes seja valorizada”.

 

professor Felipe Oneda Polese é Mestre em Educação e Matemática
Irmã Neide Lamperti é
Mestre em Migração Internacional

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