No mercado desde 1990, a marca camarguense Erva-Mate Bernardon, é muito conhecida e apreciada em vários municípios da região. O que poucos sabem, porém, é que por trás da indústria ervateira, existe uma história de empreendedorismo passada de geração para geração.
O jovem Marcelo Bernardon, de 29 anos, é quem relata a trajetória. “Estamos na terceira geração de empreendedores. Quem deu início à ervateira foi meu avô, muito antes de 1990, mas ele só secava a erva-mate e a vendia cancheada, nunca envasou. Meu tio trabalhava com ele, e quando meu avô começou a ficar doente, acabou assumindo o negócio. Eles tinham vários clientes”, conta.
E segue: “Quando meu avô faleceu, meu pai, que também se chama Marcelo e hoje tem 57 anos, começou a ajudar meu tio, que, com o passar do tempo, acabou indo embora e meu pai assumiu a ervateira, dando início à marca Bernardon. Meu pai começou a envasar e o primeiro secador que teve foi de um cliente que havia comprado um secador maior. Fizeram em troca de erva-mate na época para facilitar o negócio”, recorda.
Desde então, a erva-mate foi a principal fonte de renda da família. “Com o passar do tempo, meu irmão passou a trabalhar com meu pai, mas depois acabou saindo para investir numa loja de material de construção. Então, eu comecei a atuar com meu pai. Somos em três irmãos, sendo que minha irmã mais nova está só estudando por enquanto”, disse.
Bernardon, ainda ressalta, que atuar junto ao negócio da família foi automático. “Com dez anos eu já carimbava os pacotes manualmente e ajudava no empacotamento. E como meu irmão acabou saindo e meu pai não tem muito estudo e não sabe mexer em computador, acabou que as responsabilidades me puxaram cada vez mais. Pretendo dar continuidade, e se Deus quiser, pretendo trabalhar com meu filho como trabalhei com meu pai”, salientou.
Hoje a família tem uma área com bastante erva-mate plantada, mas 80% da matéria-prima vem do interior de Nova Alvorada e Pinhal, Soledade. “Como a empresa é familiar e a nossa venda não é muito grande, temos poucos funcionários e tudo passa por nós: o atendimento ao cliente, o cuidado na escolha da matéria-prima, a secagem, enfim, conseguimos acompanhar todo o processo e acho que é isso que nos mantém no mercado”, declarou.
A comercialização, segundo o jovem, ocorre num raio de 50 quilômetros de Nova Alvorada. “Atendemos Passo Fundo, Marau, Vila Maria, Casca, Nova Prata, Nova Bassano, Paraí, Vacaria, Jaquirana, Bom Jesus, enfim”, relata ao comentar sobre os produtos com os quais a empresa trabalha. “Temos dois sabores de tererês 100% natural, a erva-mate moída grossa com adição de açúcar e a tradicional, e temos duas linhas de erva-mate a vácuo”, destacou.
Sobre a evolução que a indústria teve, ele explana: “Sempre há uma dificuldade quando uma empresa passa de pai para filho na questão de ir modernizando-a, mas felizmente, meu pai é bem flexível e estamos cada vez evoluindo mais, melhorando ainda mais o processo. Esse ano fizemos um bom investimento num sistema de peneiramento de erva-mate para padronizar a nossa erva moída no pacote. E de dez anos para cá, conseguimos colocar a balança, trocamos o secador pequeno por um secador médio, compramos uma empacotadora semiautomática, e quando mostramos o resultado que a tecnologia vem trazendo, tudo é bem aceito”, disse.
Ele ainda comenta a importância de estar atento ao processo de industrialização. “A erva-mate é um mistério. Se colocarmos dois secadores iguais, um do lado do outro, o sabor vai sair diferente. Desde a escolha da matéria-prima, da lenha, da forma como a lenha é armazenada, tudo muda o sabor do produto, mas nós sempre vamos atrás de buscar o melhor processo em questão de qualidade, não de rendimento”, frisou.
O amor pelo tradicionalismo
A família também tem outro gosto em comum. “Meu avô já gostava do tradicionalismo, mas nunca participou muito ativamente. Já meu pai sempre teve cavalo e hoje tanto eu como meus irmãos também. Todo mundo gosta e chega final de semana vamos para o rodeio juntos. Vai à família inteira”, conta.