Maio é o mês das mães, um mês carregado de homenagens, flores, propagandas e discursos emocionados. Mas também pode ser um bom momento para fazer silêncio e ouvir o que muitas mulheres, mães ou não, sentem quando tudo isso ecoa em volta: um cansaço que não se diz em voz alta, uma tristeza que muitas vezes não é mensurável.
O sentimento dessas mulheres é muitas vezes difícil de nomear, porque ele não aparece de forma direta. Ele se revela no silêncio, no corpo cansado, no choro que vem “do nada”, na irritação com coisas pequenas, na perda de prazer. Além disto, há uma culpa escondida, pois, aos olhos dos outros, ela “tem tudo”: uma família, um trabalho, saúde. Mas por dentro, algo parece faltar.
Atendo muitas mulheres que chegam à meia-idade com um olhar perdido sobre si mesmas. Após anos cuidando de filhos, maridos, pais, negócios e demandas de todos os lados, elas se veem diante do espelho e perguntam: quem sou eu, agora? Não é raro que se sintam frustradas com o corpo, com a aparência, com o tempo que passou sem que percebessem. Há um sentimento de solidão que dói especialmente porque, ironicamente, essas mulheres nunca estiveram sozinhas, estiveram sempre rodeadas de gente, mas poucas vezes consigo mesmas.
Muitas delas sentem um vazio como se tivessem passado tanto tempo se dedicando a outras pessoas que, quando olham para si mesmas, não sabem mais o que gostam, o que desejam, o que sonham. A vida foi sendo vivida em função do outro: o marido, os filhos, os pais, o negócio da família, e aos poucos, suas vontades foram sendo silenciadas. O feminino, por muito tempo, foi associado ao papel de cuidar. E cuidar é sim uma das maiores formas de amor, mas quando o cuidado com o outro anula o cuidado consigo, a conta chega, chega cara. São mulheres incríveis, batalhadoras, generosas, mas que, aos poucos, foram sumindo de si mesmas.
Essa coluna é para lembrar: você continua aí e não é tarde. Pode ser tempo de reaprender a gostar do que vê no espelho, de redescobrir os próprios gostos, as vontades, os desejos, de voltar a ocupar espaço no mundo, não só como mãe, esposa, filha ou profissional, mas como mulher inteira. É preciso coragem para se olhar de novo. Coragem para admitir que, sim, há uma dor, mas também para reconhecer que ainda há tempo. Tempo de se escolher. De se perguntar, com carinho e sem pressa: o que eu desejo? O que me faz bem? Quem sou eu, agora?
Recomeçar não significa abandonar tudo que foi vivido, mas honrar essa história incluindo a si mesma nela, pois alias á somente uma vida a ser vivida.