Evento aconteceu logo depois do anúncio da quebra de safra no Rio Grande do Sul
As complexidades e possibilidade de exportar soja, especialmente para a China, dominaram os debates do 15° Fórum Nacional da Soja, realizado na Expodireto 2025 em Não-Me-Toque. O evento ocorreu no contexto da redução de estimativa de produção do cereal, de 30,4%, anunciada na manhã desta terça-feira, 11. O público assistiu atentamente às considerações dos consultores Ricardo Geromel e André Debastiani, especialistas em negócios com a China e em exportação de soja, respectivamente.
O painel comandado por Debastiani teve relação direta com o anúncio anterior da quebra de safra do RS. Segundo o consultor, o cenário agrava ainda mais a situação do produtor rural, que pode não ter soja para cumprir com todos os compromissos. Contudo, para Debastiani a quebra regional — estimada em 17% em relação à colhida em 2024 — será compensada no mercado pelas safras acima do esperado no Mato Grosso e em Goiás.
Portanto, em números brutos, o país não deve comercializar menos neste ciclo com a China, por exemplo. O problema, segundo Bastiani, é que vai ficar a cargo do produtor gaúcho conseguir manejar uma safra menor e ainda com preços bastante apertados, já que uma oferta de nível normal no mercado nacional e mundial deve manter os preços baixos.

Com esse cenário em perspectiva, apontou que uma ajuda do Estado pode ser indispensável. Neste caso, citou três linhas que teriam que ser abordadas. “A primeira é para ajudar o produtor na renegociação das dívidas em função das quebras de safra passada. A segunda envolve ofertar crédito competitivo para que o agricultor não perca uma oportunidade, por exemplo, de plantar o trigo agora”, resumiu.
Por fim, citou a necessidade de “pensar no futuro”, o que, segundo ele, envolve medidas estruturantes como o investimento em perfil de solo, em irrigação e também para melhorar o seguro rural. “Então, não é uma solução simples, não é uma solução de governo, uma solução de estado, que vai ter que passar aí para os próximos anos”, finalizou.
O que você sabe sobre a China?
Geromel foi o primeiro a subir ao palco e logo destacou que seu objetivo seria demonstrar o melhor da China. Considerou que o país tem uma história recente muito relevante, exemplificando com o feito de retirar 800 milhões de pessoas da extrema pobreza em um curto espaço de 30 anos. Segundo Geromel, estes e outros fatos sobre o país demonstram como seu potencial tem que ser sempre considerado.
Destacou a já amplamente conhecida relação entre Brasil e China, que são grandes e importantes parceiros comerciais, mas usou o espaço para fazer a provocação: “O que você sabe sobre a China? Acho que a gente deveria saber um pouco mais. Eu fico muito assustado pela completa ignorância, assustado que a gente não discuta, por exemplo, o que nossos filhos estão estudando sobre a China”, questionou.
Quanto ao motivo deste desinteresse para com a China, apontou a distância entre os países, mas também uma ideia que ficou fixada no imaginário nacional com relação a questões ideológicas com o país. “O sistema político chinês ainda é regido pelo partido comunista chinês, mas quando você pensa em comunismo, em Cuba, Venezuela, União Soviética, não é isso. Então, esse talvez seja lá no começo a causa”, sugere.
Além disso, tratou de um assunto que ronda todas as recentes discussões sobre comércio internacional do mundo: as tarifas prometidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Em 2018, da última vez que os EUA impuseram tarifas para a China, o país respondeu, passando a comprar mais soja do Brasil”.
Aliada a uma grande contextualização sobre a história chinesa, Geromel destacou como a cultura local dá muito destaque ao estudo, exemplificando com o hábito de fazer um calendário para entender quanto tempo falta para o vestibular de uma criança recém-nascida. Por isso, recomendou que perguntas como: “Onde você estudou?”, são muito bem vistas ao fazer negócios por lá.
Por fim, afirmou que a parceria entre os países tem tudo para seguir forte, mas que vale a pena pesquisar e conhecer mais sobre o país asiático. “Estou nesse mundo há 15 anos e nunca vi um apetite tão grande deles para com o Brasil”, finalizou.