Mobilização histórica destaca desafios do setor agropecuário e reforça a luta por melhores condições para os produtores rurais
Por Cristiano Quadros
São Luiz Gonzaga foi palco, na última quarta-feira, 19 de março, do 11º Grito de Alerta, um dos maiores eventos de manifestação pública da região nos últimos anos. Organizado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), o ato reuniu cerca de seis mil produtores rurais de diversas regiões do estado, além de lideranças políticas, prefeitos, vereadores, cooperativas, agentes financeiros e representantes do setor agropecuário.
Mobilização desde as primeiras horas
Desde o início da manhã, caravanas de produtores chegaram à cidade, concentrando-se na Rua São João, onde dezenas de ônibus trouxeram comitivas para o protesto. Um dos momentos mais simbólicos ocorreu quando manifestantes, com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), bloquearam por alguns minutos o trevo de acesso ao município, destacando as dificuldades enfrentadas pelo setor, especialmente o endividamento causado pelas seguidas frustrações de safra nos últimos cinco anos.
Após o bloqueio simbólico, a mobilização seguiu em marcha pela Rua São João, com paradas estratégicas. Em frente ao Sicredi, uma encenação ilustrou as dificuldades financeiras dos produtores rurais. Já diante do INSS, os manifestantes cobraram a redução do tempo de espera para perícias médicas, que atualmente ultrapassa quatro meses. O trajeto também incluiu atos em frente ao Banco do Brasil e ao Banrisul, cobrando ações dos governos Federal e Estadual.
Lideranças reforçam pautas do campo
Durante a caminhada, lideranças se revezaram em discursos no caminhão de som, enfatizando que a crise no campo impacta toda a economia urbana e a segurança alimentar.
O presidente da Regional Missões II, Márcio Langer, destacou o impacto das mudanças climáticas na agricultura e pecuária, levando os produtores a um ciclo de endividamento contínuo. Ele defendeu soluções concretas para o setor, como o fortalecimento do Proagro e mudanças nas regras de perícia para trabalhadores rurais.
Rafael Dalenogare, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Luiz Gonzaga e Rolador, lembrou que o Grito de Alerta nasceu na cidade e já está em sua 11ª edição. Ele destacou a necessidade de mobilização para que as reivindicações cheguem a Brasília, principalmente diante da grave estiagem que afeta a região.
Já o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva, criticou a falta de respostas do Governo Federal e defendeu medidas urgentes para o setor. “Precisamos de políticas eficazes, como alongamento das dívidas por até 20 anos e juros compatíveis com a realidade dos agricultores. Além disso, é inadmissível que produtores esperem quatro meses por uma perícia médica”, afirmou. Ele também alertou que, caso não haja avanços, novas manifestações mais contundentes podem ocorrer, incluindo fechamento de rodovias ou ocupação de espaços públicos.
Adair José Villa, coordenador da Regional Sindical Serra do Alto Taquari, fala sobre os desafios enfrentados pelos agricultores familiares e pecuaristas da região.
Ele destaca que a situação não está nada fácil, principalmente após anos de estiagem seguidos de enchentes. “Não é que o agricultor esteja pedindo para não pagar suas dívidas, mas ele precisa de mais prazo para poder se reerguer”, afirma.
Villa também reforça a necessidade de valorizar os jovens do campo, que precisam de políticas públicas que garantam o acesso à terra. Segundo ele, essas políticas são fundamentais para que possam continuar na atividade, conquistando sua independência.
Além disso, o coordenador aponta que é essencial investir em incentivos para que o meio rural possa oferecer uma qualidade de vida digna aos seus habitantes.
Em seu manifesto, Joelmo Balestrin, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anta Gorda, expressou grande preocupação com a situação do programa Proagro. Segundo Balestrin, o programa não deve ser visto apenas como uma solução para o momento de estiagem que afeta diversos municípios, mas precisa ser reestruturado para os próximos anos.
“O Proagro é a única segurança que o produtor tem ao plantar sua safra. Não sabemos como será o futuro, e o que ele oferece atualmente precisa ser mais robusto e adaptado às necessidades dos produtores”, afirmou.
Balestrin também criticou as limitações impostas aos acionamentos do programa. “Não podemos limitar os acionamentos. O produtor não tem culpa da estiagem. Se ele pagar durante 10 anos e não precisar acionar, está tudo certo.
Mas, se precisar acionar o Proagro várias vezes seguidas, isso não pode ser considerado errado”, completou.
Para o presidente do sindicato, a segurança do produtor rural deve ser garantida sem restrições arbitrárias de acionamento do programa, uma medida que considera fundamental para a estabilidade da produção agrícola.
Encerramento e perspectivas futuras
O ato contou com apoio logístico da Brigada Militar, que avaliou a manifestação de forma pacifica e bem organizada. O encerramento ocorreu na Praça da Matriz, onde lideranças reiteraram a gravidade da situação do setor agropecuário e reforçaram que, se as demandas não forem atendidas, novas mobilizações serão realizadas com maior intensidade.