Presidente da Acisar/CDL aponta ambientes de trabalho tóxicos como um dos entraves para a contratação de colaboradores pelas empresas
Por Divanei Mussio
É consenso entre todos os setores da região alta do Vale do Taquari que existe uma carência muito grande de mão de obra na região, o que está impedindo o pleno desenvolvimento e crescimento dos municípios. Mas, do mesmo lado da moeda, existem muitos trabalhadores procurando emprego. Como essa dicotomia se explica?
O presidente da Acisar/CDL, entidade empresarial de Arvorezinha, Jardel Dall ‘Agnol, tem uma explicação, baseada em sua experiência como dirigente e membro ativo da entidade há muitos anos e como empresário.
“Existem dois grupos de empresários ao nível de região e de estado também: o grupo que tem muita dificuldade para contratar colaboradores e suprir as vagas e o grupo que não tem essa dificuldade. Tem um exemplo muito claro de uma empresa do ramo cooperativo que paga um salário considerado até baixo comparando com as outras empresas do mesmo ramo, porém, o lugar procurado pelos jovens para trabalhar é onde o salário é mais baixo. Eles não têm o desejo de trabalhar onde o salário é maior”.
Por que essa situação? “Tem que se estudar e entender”, argumenta Dall’Agonol, que questiona: “por que, no segundo grupo de empresas, têm pessoas que não trabalham de jeito nenhum, mesmo se oferecendo cinco, seis, sete mil reais? Essa pergunta tem que ser feita”, aponta o líder empresarial.
Ambiente tóxico x saúde mental
Através de suas observações e reflexões, ele destaca que o ambiente de trabalho é decisivo. Ainda, enumera outros fatores que fazem parte do contexto da escolha do trabalhador por uma ou outra empresa. “Chefia, gestão de recursos humanos, colegas, o que é dito pelas pessoas que já trabalharam na empresa. Se o ambiente é conhecido como tóxico, as pessoas não vão trabalhar lá, nem por 10 mil. Não se resume somente a salário”, salienta.
Segundo ele, o mundo mudou e a relação entre empregado e empregador também. “Antigamente, era ‘eu mando e você obedece, faz e eu te pago’. Hoje, o trabalho está ligado à satisfação pessoal, bom ambiente de trabalho e saúde mental. Ninguém mais aceita ser tratado como lixo, ser humilhado; se o tratarem mal em um lugar, o trabalhador vai procurar emprego em outro lugar. Vivemos uma época de pleno emprego, então, o lugar para trabalhar pode ser escolhido”, segue argumentando.
A região perdeu a oportunidade de crescer
Nesse mesmo viés, Dall’Agnol assegura que a região alta, especialmente Arvorezinha, perdeu a oportunidade. A supervalorização das casas, dos terrenos, dos aluguéis não atrai trabalhadores de fora. “Eles chegam aqui e não têm onde morar; há um ano, com as enchentes, o pessoal de Muçum e Roca Sales veio para cá procurar emprego e se estabelecer aqui, mas não tinha onde morar. Até arrumaram empregos; quando foram procurar por casas alugadas, pediram até R$ 1500 de aluguel, metade do salário. O prefeito de Chapecó levou eles para lá por um aluguel de R$ 600”, conta. “Arvorezinha vai ficar para o resto da vida com pouco mais de 10 mil habitantes, estagnada, e as empresas procurando trabalhadores”, conclui, lamentando o contexto atual e preocupado com o futuro do município e da região.