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Produtores amargam perdas na colheita da soja e abandonam plano de plantar trigo

 

Prejuízos em safras anteriores e volatilidade do mercado impedem novos planos para culturas de inverno

Por Oneide Marcos

A colheita da soja segue com relatos de frustração e grandes perdas em diversas comunidades rurais do município. A estiagem prolongada reduziu drasticamente o potencial produtivo das lavouras, fazendo com que muitos agricultores optem por não investir na cultura do trigo neste inverno, temendo novos prejuízos diante da instabilidade do clima e do mercado.

O agricultor Desidério Pagnussatt, de 84 anos, morador da Linha São Victor, é um dos muitos produtores que lamentam o desempenho desta safra. Com uma área de 84 hectares, atualmente arrendada para um dos filhos, Desidério conta que acompanha de perto a produção e se surpreendeu negativamente com os números. “Num ano bom, aqui a gente tira mais de 70 sacas por hectare. Esse ano, nas melhores lavouras, deu 35, 40 sacas… mas a maioria nem chegou perto disso. Tivemos uma perda de mais de 50%”, conta.

Na mesma comunidade, o produtor Luciano Pagnussat, que cultiva soja em 10 hectares, relata uma situação ainda mais crítica: “a média aqui não chegou nem a 20 sacas por hectare. A gente depende exclusivamente da lavoura e, com esse rendimento, só vamos conseguir pagar uma parte das despesas. Esse é o quarto ano seguido de prejuízos na lavoura, o que em certos momentos desanima bastante”, desabafa.

Sobre o plantio de trigo, Luciano é direto: “já perdemos demais. Esse ano não vamos arriscar no cereal, o risco é muito grande”, diz o produtor.

Do outro lado do município, na Linha Tunas, a 10 quilômetros de São Victor, o cenário também é de perdas. O produtor Clodoaldo Marin, de 54 anos, também enfrenta um ano desafiador.

“Normalmente, com condições boas, colhemos uma média de 70 sacas por hectare. Este ano, estou colhendo entre 12 e 14 sacas. Para empatar os custos, precisava tirar pelo menos 40 sacas por hectare. Abaixo disso, é prejuízo certo”, lamenta Marin, que segue: “Esse ano não deu ferrugem, mas deu seca, o que dizimou a produção”, complementa.

Clodoaldo também não pretende apostar no trigo. Segundo ele, “o trigo é uma cultura muito cara e de risco. Com essa instabilidade do mercado e do clima, é melhor não arriscar.”

Na região sudeste do município, na comunidade de Linha Alto Alegre, Valdomiro Expedito Scariott, produtor com 55 anos de idade e mais de três décadas de experiência na lavoura, também relata perdas expressivas e desuniformidade na produtividade dentro da própria área: “tem parte da lavoura que colhe 13 sacas por hectare, e outros pontos que chegam a 30. A diferença é muito grande de um lado pro outro. A falta de chuva acabou com tudo”, afirma o produtor. Sobre o trigo, ainda não se decidiu: “Estamos atentos às incertezas. Não sabemos se vale a pena”, completa.

Chuva atrasou colheita de lavouras remanescentes

Para além da baixa produtividade, produtores relatam que, ao longo desta semana, lavouras que ainda não foram colhidas permaneceram no campo devido às chuvas que impediram o acesso das colheitadeiras. Mesmo após o fim da precipitação, muitas áreas seguiam impraticáveis, sem condições de entrada de máquinas, devido à umidade do solo.

Oscilações dentro da mesma lavoura têm explicação técnica

O técnico extensionista da Emater, Adalberto de Rezende Garcia, acompanha de perto a situação e explica que, apesar da gravidade generalizada, é comum observar uma grande variação de produtividade numa mesma propriedade: “independente das cultivares utilizadas, todos os produtores foram afetados pela estiagem. Mas existem bolsões dentro das lavouras onde a produtividade foi um pouco melhor. Isso geralmente acontece porque esses pontos têm um solo com manejo mais adequado ao longo dos anos, melhor estrutura física e biológica, além de um relevo que favorece a retenção de umidade. Detalhes fazem a diferença quando o clima não ajuda”, explica o profissional.

Segundo Garcia, esses fatores são responsáveis por proteger melhor as plantas nos momentos mais críticos da estiagem. “Numa safra com chuvas regulares, essas diferenças se diluem, mas em anos de adversidade climática, os contrastes se tornam evidentes. Quem fez correções de solo, cuidou do perfil e adotou boas práticas de conservação tem uma pequena vantagem, mesmo diante da seca”, explica o técnico. Garcia também alerta para a dificuldade de tomada de decisão dos produtores quanto à cultura do trigo: “o trigo já é uma cultura desafiadora por natureza. Quando o produtor vem de uma safra com prejuízos e ainda tem um mercado instável pela frente, ele tende naturalmente a recuar. Isso pode ter reflexos importantes na ocupação do solo durante o inverno”, diz.

A Emater estima que, nesta safra, mesmo produtores com boas práticas agrícolas não conseguiram escapar totalmente das perdas, o que acende um alerta para a necessidade de políticas públicas voltadas ao seguro agrícola, assistência técnica e alternativas de renda para os agricultores familiares.

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