Desde a quinta-feira, 20, dezenas de famílias sofrem com a falta de energia em diversas comunidades do interior, e registram prejuízos milionários
Mais uma vez moradores da região sofrem com a precariedade dos serviços essenciais oferecidos pela concessionária de energia RGE. Desta vez, produtores rurais do município de Anta Gorda chegaram a ficar por até 60 horas sem energia elétrica num período compreendido entre quatro dias.
Os relatos dos moradores são diversos e vão desde a impossibilidade de tomar água potável e manter a higiene pessoal, até prejuízos em milhares de reais por perdas na criação de animais e de alimentos e produtos que dependiam de refrigeração. Mas as principais indignações da população atingida se dão em razão da precariedade da rede elétrica, da ausência de manutenções preventivas, falta de roçadas e da excessiva demora em realizar os reparos necessários.
Tal descaso, somado à crise mundial e à estiagem que assola o Estado, leva dezenas de produtores rurais a pensarem seriamente em abandonar suas atividades na lavoura, já que estas estão gerando mais prejuízos do que lucratividade. O sonho de ver os filhos tocando a propriedade e permanecendo no campo também tem ido por água abaixo, na percepção de muitas famílias.

“As pessoas estão querendo abandonar as propriedades, pois sem luz e água não tem como tocá-las”
O produtor de leite e morador da Linha Contini, Mauro Lui, desabafa sobre a situação. “Isso tem gerado muito transtorno, muito estresse. Nós tivemos falta de energia na quinta-feira, 20, à tarde, por volta das 16h. Retornou na sexta-feira, 21, na rede de alta tensão, porém como tínhamos problema no transformador, a equipe da RGE veio arrumar somente no sábado, 22, antes do meio-dia. Somente eu, tinha cinco protocolos de chamados para RGE, vizinhos e até o prefeito também fizeram para tentar resolver a situação com urgência, mas nada, tivemos que esperar. O que mais me indignou é que no final de semana o gerente geral da RGE disse que não havia nenhum chamado de falta de energia da Linha Contini”, conta.
Ele segue: “No domingo, 23, novamente faltou energia e retornou somente na terça-feira, 25. Vizinhos tiveram que colocar fora fornadas de fumo e o leite, porque estes apodreceram. Eu não precisei colocar minha produção de leite fora porque eu tinha um gerador que liguei na quinta-feira à noite e permaneceu ligado até o sábado ao meio-dia. Liguei ele novamente no domingo à noite, porém na segunda-feira ele pifou, pois é de porte pequeno, é mais para quebra-galhos”, relata.
Conforme Lui, os prejuízos são grandes. “Tem produtores de fumo aqui nas proximidades que terão em torno de R$ 20 mil de prejuízo. Eu terei cerca de R$ 12 mil, mais em função dos gastos com o gerador. Está muito grave a situação e não é só em Anta Gorda. Em Encantado acontece a mesma coisa, em Muçum, e assim vai. É muito desanimadora a situação. A gente liga pedindo ajuda, eles atendem e ficamos naquela agonia de ‘será que vão passar o recado?’. Há alguns anos já tivemos uma situação assim, onde a cada nuvem que passava faltava energia. Fizemos uma mobilização, formamos uma comissão, marcamos uma audiência na Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (AGERGS), os gerentes da RGE estavam lá e colocamos toda a situação. Depois disso melhorou bastante”, lembra.
Ele destaca que outra atitude precisa ser tomada. “Está bastante decepcionante a situação e as autoridades precisam fazer algo urgente, pois não tem como ficarmos dias e dias sem luz. Chegamos a ficar mais de 60 horas, em quatro dias, sem energia. Sem contar a precariedade das redes do interior, que precisam ser refeitas. As pessoas estão querendo abandonar as propriedades, pois sem luz e água não tem como tocá-las”, lamenta.
Confira outros relatos de produtores rurais de Anta Gorda, que somam um prejuízo milionário em razão das constantes quedas de energia, que acontecem desde a quinta-feira, 20 de janeiro
“Íamos carregar os frangos na terça-feira, 25, porém no domingo, 23, à tarde, por volta das 14h, faltou luz. Tentamos ligar para a RGE, mas não conseguimos. Aí começaram os problemas. A luz retornou na segunda-feira, 24, por volta das 15h da tarde. Até então já tinham morrido um monte de aves e quando voltou a energia continuaram a morrer, era sem explicação, pois o calor era muito. Morreram 2,6 mil frangos, com peso de 3,2 kg cada. O prejuízo foi grande, de aproximadamente 9 mil quilos de aves. Era um lote bom. Agora vou pedir para RGE me ajudar a pagar um pouco, pois como aguentar esse prejuízo sozinho? Além disso tivemos muito trabalho para enterrar as aves, inclusive quero agradecer a todos que foram solidários e nos ajudaram, principalmente meu irmão e minha cunhada que não mediram esforços e ficaram dois dias na minha propriedade auxiliando” Antônio Teló, produtor de aves e morador da Linha Cabral.
“Aqui nós não tivemos tanto prejuízo porque puxamos um cabo de luz da propriedade do vizinho que tem o gerador, mas afirmo que o serviço da RGE é de péssima qualidade. Ultimamente as quedas são mensais. Quase todos que tem gado de leite e aviário tiveram que comprar geradores, que gastam em média R$ 40 por hora. Não é muito viável, mas para quem tem essas culturas é melhor investir em um, se não o prejuízo é maior”. Gustavo Di Domenico, produtor de leite e morador da Linha Viena.
“Falta seguido luz aqui. A mais recente queda foi na quinta-feira. Sorte que tenho um gerador que desligou só na terça-feira de meio-dia. Porém, com isso, gastei mais de 1 mil litros de diesel”. Gilberto Lodi, produtor de leite e moradora da Linha Carijo Grande.
“Nós trabalhamos com granja de poedeira e da semana passada para cá, já tivemos um prejuízo de quase R$ 5 mil, já que em uma dessas quedas o nosso gerador estava em manutenção. Aqui pertencemos à Cerfox, que sempre nos atende rápido no que está ao seu alcance, mas nesses casos infelizmente ela depende da RGE, que não tem pressa para arrumar. Nosso gerador chega a gastar de nove a 12 litros por hora de diesel, desta forma, nesse ano já gastamos quase R$ 10 mil só nisso, tudo por causa da RGE, pois quando não falta luz a rede está com tensão baixa. Esse mês já gastamos quase R$ 18 mil na conta de energia que somado ao que gastamos com o diesel para o gerador e os prejuízos que tivemos, é um valor muito considerável”. Ivanir Bresciani, trabalha com aves e reside na Linha Quarta.
“Aqui a energia faltou domingo, 23, às 14h, e voltou na segunda-feira, 24, às 19h da noite. Também faltou na terça-feira, 25, onde perdemos mais 1 mil quilos de fumo”. Alessandra Pianezzola, produtora de fumo e moradora da Linha Terceria Giusti.
“Minha mãe teve que colocar fora 800 litros de leite que não aguentaram até o leiteiro chegar. Outros 200 litros ela conseguiu aproveitou e fez queijo. Nós ficamos das 14h30min do domingo, 23, sem nada de energia até a segunda-feira, 24, às 17h. Às 17h30min do mesmo dia já estávamos sem luz de novo, sendo que ela retornou na terça-feira, às 10h. Teve carne no freezer que não aguentou e não tínhamos nem mais água potável para beber, pois a caixa d’água secou logo após o meio-dia da segunda-feira”. Diana Mallagi, produtora de leite e moradora da Linha Segunda.
“Nós só não tivemos prejuízos aqui porque estávamos sem leitões, mas já aconteceu de outras vezes, que tínhamos leitões, termos que levar ração a mão para eles, pois como é tudo automatizado, sem luz nada funciona. Já aconteceu também de ficarmos sem água, em razão da energia elétrica, e tivemos que chamar o caminhão da prefeitura para levar água do rio aos animais, para que não morressem de sede”. Jessica Viegas, produtora de suínos e moradora da Linha Segunda.
“Ficamos de domingo de tarde até a segunda-feira de noite sem luz. Aqui a responsável é a Cerfox, mas ela depende da RGE que se no domingo à noite tivesse colocado a chave da rede do Borghetto para cima, nada teria acontecido. Mas não há preocupação por parte da RGE. Ficamos sabendo que chegaram a ir no Borghetto, mas falaram que tinham coisa mais importante para fazer do que virar uma chave. O leite de domingo tive que colocar fora, e como não tinha motor na ordenhadeira para tirar no domingo e na segunda-feira, não pude. Porcos morreram por falta de água. É falta de consideração da RGE. Com essa estiagem os agricultores já estão com as ‘pernas quebradas’, e ainda nos deixam sem luz dois dias para piorar a situação”. Adriana Bettoni, produtora de leite e moradora da Linha Segunda.
“Estamos sem energia novamente, desde quarta-feira, 26 de janeiro, para não perder todo o leite estamos fazendo queijo. Já ligamos para a RGE mas eles respondem que não tem tempo e gente para trabalha”. Diana Malaggi produtora de leite da Linha Segunda.
Em sua rede social Facebook, o vereador Alvimar Tremea surpreendeu a todos com uma publicação elogiando o trabalho da RGE. “Serviço concluído, chave é fechada com segurança. Parabéns a equipe da RGE, fizeram o que foi possível, consciência, responsabilidade e competência”, escreveu ele como legenda de um vídeo publicado onde mostra a equipe da RGE trabalhando em poste. A postagem gerou comentários de repúdio.
O que diz a RGE em relação à problemática
A reportagem do Eco Regional enviou à assessoria de imprensa da RGE os seguintes questionamentos:
1 – Como a RGE analisa a situação da região, que tem sofrido com tantas quedas de energia, bem como com a demora para restabelecimento? A que essa problemática se atribui?
2 – A RGE planeja algum investimento para melhorar essa situação que afeta principalmente o meio rural?
3 – Hoje a RGE conta com mão de obra suficiente para atender a região? Aproximadamente quantos colaboradores atuam pela RGE na região?
4 – Como é a organização de trabalho de vocês? O que tem sido prioridade?
5 – Na região muitas pessoas estão abandonando ou pensando em abandonar suas atividades, principalmente na lavoura, em função das constantes quedas de energia, que prejudicam e muito a produção. Isso também prejudica a sucessão familiar, sendo os pais não querem que seus filhos passem pela mesma situação, e assim acabam deixando a propriedade. Como a RGE vê esse retrocesso?
6 – Por vezes a energia retorna nas propriedades, porém com baixa qualidade, o que faz com que equipamentos e eletrodomésticos queimem. A que se atribui isso?
7 – Quais os projetos futuros e em andamento para melhorar essa situação?
Em resposta ao e-mail, a assessoria escreveu: “A RGE informa que os investimentos no Vale do Taquari, em 2021, representam 10,6% do total de investimentos da RGE no ano, em toda a área de concessão. Esse percentual significa em torno de R$ 100 milhões. Foram pelo menos 18 obras de confiabilidade e flexibilidade, 34,81 km de rede, além de 150 obras de reforma e melhorias, em 76,74 km de rede. Foram substituídos 1.478 (mais de quatro por dia, em média).
Somado à manutenção de 866 km de rede, foram instalados 59 religadores automatizados, beneficiando 21 municípios da região.
Referente aos serviços de podas foram percorridos 37 km de redes, em sete mutirões, 6 km em áreas rurais, 40 km em redes urbanas, 99 km por casos de reincidência nas redes primária e secundária e 157 km, por onde passam redes troncais, totalizando 36 mutirões com ações de podas. Sobre o plano de revisão, na região, a cada cinco anos a RGE revisa 100% de sua rede, visando identificar necessidades de manutenção e melhorias. No Vale do Taquari, em 2021, foram inspecionados 2.973 km de rede.
Durante os temporais os trabalhos das equipes da RGE, organizadamente, partem de locais e serviços prioritários, como hospitais, postos de saúde, entre outros essenciais, desta forma restabelecendo a energia de forma lógica, até que atinja as pontas das redes, muitas destas, localizadas no interior e em áreas de difícil acesso. Portanto, de nada adiantaria que serviços de religamento fossem realizados nas pontas se as áreas iniciais e centrais não forem priorizadas, pois é destas que parte o fornecimento da energia. Por fim, sobre reclamações referentes à “qualidade da energia”, faz-se necessário o envio dos números das UC’s dos clientes que tiveram interrupção para que possam ser feitas as verificações caso a caso”.
Investir em geradores talvez seja a melhor opção
Para atender a demanda da região e Estado no segmento geradores, há dois anos surgiu em Arvorezinha a Tassi & Tassi LTDA, de propriedade dos irmãos Roger e Rodrigo Tassi, que explanam sobre as vantagens de dispor de um gerador nas propriedades e empresas, principalmente nos momentos de falta energia.
“A pessoa deve fazer um cálculo dos prejuízos que teria na produção caso falte energia por um longo período, e então deve analisar a viabilidade de comprar um gerador. Costumo dizer que um gerador é como um seguro de carro, você paga para não precisar ocupar, mas se precisar ele estará lá, disponível para servir”, destaca Roger. “É claro que além do investimento da compra, há a despesa de consumo de diesel ou gasolina, mas o gerador vai ser muito útil no momento que se puder usufruir dele, seja na propriedade rural, seja no comércio, em razão dos freezers, geladeiras que precisam oferecer segurança alimentar para os clientes”, enfatiza.
A empresa trabalha com geradores novos e usados (compra e venda). “Em relação aos usados, não trabalhamos com uma marca em específico. Hoje estamos com apenas um gerador novo na empresa, que é o Caterpillar, de 100 KVA, automático, fechado, silenciado, que a princípio está vendido para o Hospital São João de Arvorezinha. Acredito que será colocado em funcionamento em no máximo 15 dias. Após, vamos tentar comprar outro novo para ter aqui disponível a pronta-entrega”, ressalta.
Rodrigo frisa que a intenção é crescer neste mercado. “Nós estamos começando agora, mas temos a intensão de crescer, inclusive estamos iniciando uma parceria a Caterpillar para venda dos geradores novos”, disse. “Nós pensamos em apostar nesse segmento por não ter ninguém que atenda essa demanda aqui na região e Estado. Hoje temos para comercialização cerca de 14 geradores, entre novos e usados, que vão de 7 KVAs até 340 KVAs. Os valores vão de R$ 17,9 mil a R$ 130 mil, variando do tamanho e da necessidade do cliente”, salienta. Todos geradores são vendidos com nota, com possibilidade financiamento via agência bancária. “Não conseguimos parcelar direto, como somos uma empresa pequena, mas a maioria dos geradores tem código que permitem o financiamento”, informa.
A entrega dos geradores nas residências/comércios em cidades vizinhas não tem custo de frete. “A instalação é por conta do cliente, mas podemos fechar um pacote caso o cliente necessite que façamos a instalação, destacando que temos parceria com um técnico que vai até o local fazer um estudo, tanto para a instalação (caso ela ocorra por nossa parte), tanto para verificar a potência necessária em KVAs, caso o cliente não saiba no momento da aquisição”, explica Roger.
Ele acrescenta: “Se o gerador for novo, depois da instalação um técnico da Caterpillar vai até o local conferir se a instalação está ok, dá a partida e dá as explicações ao cliente de como vai funcionar. Na compra dos geradores usados somos nós quem damos as orientações”, pontua ao destacar: “Vale frisar que se o gerador for automático, se cair a luz ele vai se ligar por conta. Se for manual, o proprietário vai ter que bater arranque, deixar o gerador trabalhar um pouco, e então fazer a transferência da rede para o gerador”, informa.
O gerador, segundo Roger, tem sido usado em outras ocasiões, além da falta de energia. “Nós vendemos um gerador de 220 KVAs para um cliente que está usando de segunda a sexta-feira. Ele ocupa em horário de ponta, das 18h às 21h. Segundo relato dele, ele está conseguindo economizar mais de R$ 6 mil por mês na conta de energia. Há dois anos ele pagou cerca de R$ 100 mil pelo gerador. É um investimento para se pensar”, finaliza ao colocar a empresa à disposição. “Se for preciso, atendemos aos sábados, domingos, feriados ou fora de horário comercial, com o maior prazer.”