Recentemente ele ganhou uma medalha da Defesa Civil
Um colecionador de histórias. Assim pode ser definido o putinguense Glacir Gheno, de 79 anos. Filho de Augusto Franklin Gheno (in memoriam), ele tem uma ligação forte e antiga com a barragem de Putinga.
O rompimento da barragem em 1953
No dia 12 de setembro de 1953, às 16h60min, aconteceu o rompimento da barragem de Santa Lucia, a qual servia de reservatório para a Usina Hidrelétrica, colocando em risco toda a população, uma vez que a água da represa desaguou no Arroio Putinga, que atravessa o centro da cidade.
Mas graças a um ato heroico do pai de Glacir, houve apenas danos materiais. “Meu pai foi verificar as águas na tarde de 12 de setembro de 1953 e viu que a barragem rompeu por baixo. Então, ele saiu com o caminhão da empresa, desceu o morro e chegou até a casa de máquinas onde tinha um casal de alemães com seu filho. Conseguiu avisar eles que saíssem porque havia rompido a barragem. Ele seguiu, passou onde a água passaria e conseguiu chegar na cidade, avisando o povo que se retirasse. Nesse momento, chegou a água, levando embora tudo, mas não afogou ninguém”, relata. “E desta vez acredito que meu pai colocou a mão sobre Putinga”, acrescentou.
A recente enchente que destruiu parte de Putinga
Recentemente, Glacir recebeu uma medalha da Defesa Civil. “Ganhei essa medalha pelo serviço que prestei nessa enchente em Putinga, sendo que no dia 07 de maio chegou na minha casa o prefeito Paulo Lima e me pediu se eu poderia acompanhar o pessoal da Prefeitura para fazer a abertura da ‘borboleta’ na barragem. Eu me prontifiquei e fiz questão de ir, pois cuidei dessa barragem por 25 anos”, frisou.
“Fomos lá com ferramentas e abrimos a ‘borboleta’ que é uma vazão de água nos canos. Antigamente, quando rompia os canos da barragem que ia até a casa de máquinas, tínhamos que fechar essa ‘borboleta’ para segurar a água e fazer o conserto dos canos com enxofre. Logo soltávamos a água para fazer a turbina girar”, conta.
Questionado o porquê de não ter feito o trabalho de abertura da ‘borboleta’ antes, ele disse: “Eu não sei quem está cuidando dessa barragem. Quando eu cuidava dela e chovia, tirávamos umas tábuas para deixar a água correr mais livre, abríamos as tampas, e os tubos eu cuidava como se fossem meus, pois é uma relíquia essa barragem. Eu era funcionário da prefeitura na época”, pontua.
Ele ressalta ter se sentido orgulhoso ao ser procurado pelo prefeito para auxiliar na barragem. “Eu gosto de prestar serviço, de ajudar a comunidade. Hoje eu trabalho com taxi, mas cuido do relógio da igreja há 30 anos, por exemplo. É muito bom saber ajudar as pessoas”, ressalta.
Receber a medalha da Defesa Civil de São Paulo também foi uma alegria. “Me senti muito feliz em receber a medalha, foi algo inesperado. Meu pai recebeu a medalha de honra ao mérito por salvar o povo de Putinga e eu por ter ajudado para que não houvesse uma catástrofe como em outros municípios. As pessoas culpam a barragem, mas veja quantos municípios no Estado tiveram destruição e nem todos tinham barragem. A barragem é a história de Putinga. Não tenham medo da barragem. Todo mundo dizia que ela iria estourar e eu era o único que tranquilizava a população dizendo que ela não rompia”, conta.
De acordo com Glacir, deveria haver uma lomba no meio da barragem para não deixar a água transbordar. “Caso tivesse isso e os valos fossem canalizados, não teria acontecido nada na cidade”, declarou. “Mas infelizmente os idosos não são mais considerados na sociedade. Eles são excluídos e nada do que dizem parece ter sentido. Tem muitos partindo e com eles muitas histórias e ensinamentos. Por isso acredito que precisava fazer um livro sobre Putinga, pois tem muita história para ser contada”, encerrou.