A falta de mão de obra e o risco de baixar o preço do produto em função da grande oferta é são preocupações dos produtores da região
Produtores da região já estão viabilizando a vinda de trabalhadores de outros países para a região, para poder dispor de mão de obra. Este é o caso de duas famílias do Paraguai, da Cidade Del Este, que estão residindo em Itapuca, Anta Gorda, e tendo sua mão de obra muito disputada para a realização da colheita da erva-mate.
Como muitas famílias estão carentes de mão de obra, em função da evasão dos filhos e do envelhecimento dos produtores, a solução encontrada está sendo viabilizar a vinda de pessoas de fora para a região, conforme conta Délia Adorno, de 38 anos, natural de Cidade Del Este, no Paraguai, que está na região há dois anos. “Por um ano morei e trabalhei em Ilópolis e há um ano estou residindo em Itapuca/Anta Gorda, onde compramos uma casa. Vim para o Brasil, pois depois da pandemia não se conseguia nada de trabalho. Tivemos que aprender, então, a trabalhar com a erva-mate. Somos diaristas e estamos felizes, porque aqui tem serviço, não corremos o risco de ficar sem dinheiro. Voltamos para o Paraguai somente no Natal e Ano Novo para visitar a família”, pontuou.

Délia veio em função do convite de um familiar que já está aqui há sete anos e que encontrou na região a possibilidade de ganhar a vida com dignidade. Délia e o marido, juntamente com este casal que veio antes, têm se desdobrado para atender a demanda de trabalho na região.
Aumento da produção
Que Anta Gorda se destaca no Estado pela produção de leite e nozes todo mundo já sabe, mas o município tem focado recentemente em uma outra atividade: o cultivo de erva-mate, e as três atividades demandam muita mão de obra e estão em expansão.
Morador do distrito de Itapuca, Telmo Mezzalira, cultiva erva-mate há cerca de 45 anos. “Plantamos erva-mate e milho atualmente. Vemos que tem muita gente plantando, investindo no ramo da erva-mate em Anta Gorda. Aqui, em Itapuca, já tem bastante erva-mate plantada, mas ainda tem quem está plantando”, disse.
Conforme ele, se não fosse pela erva-mate, a agricultura do distrito de Itapuca não existiria. “Porém, ultimamente baixou um pouco o preço que recebemos pela erva-mate, embora não seja época de isso acontecer. Geralmente no inverno a erva-mate sobe o preço. Além do mais, os insumos são caríssimos. Para quem não precisa contratar mão de obra a produção é lucrativa, caso contrário é preciso repensar”, frisou.
Sua produção é comercializada para uma ervateira local. “Na verdade, nessa região tem pouca área de terras onde podem entrar com maquinários, por isso, acredito que aumentou a produção de erva-mate no município”, considerou.
Já o ilopolitano Santiago Bagnara, possui área de terras no acesso para Anta Gorda. No total são cerca de 30 hectares de erva-mate cultivados. “Agora, adquirimos mais um pedaço de terra e pensamos em plantar mudas de erva-mate. É uma cultura que passa de geração para geração e que demora tempo para se consolidar. Eu herdei do meu pai e estou ampliando a produção para passar para meus filhos”, destacou ele que neste ano plantou sete hectares de erva-mate, cerca de 15 a 20 mil mudas.
Questionado sobre como vê o crescimento do plantio de erva-mate em Anta Gorda, ele explana: “Preocupa, pois tem muita gente abandonando outras atividades para apostar no ramo da erva-mate e daqui a pouco vai ter sobra de produto. No momento que as indústrias tiverem erva-mate sobrando, automaticamente o preço vai ser outro. Investimos há tantos anos nessa atividade e pode ser que lá na frente sobre erva-mate nos pés e não tenhamos para quem vender”, lamentou.
Segundo ele, hoje o preço pago pela erva-mate não está muito bom (cerca de R$ 17). “Já teve épocas bem melhores. Para nós isso machuca, pois o custo de produção não baixou. Conseguimos sobreviver ao longo desses anos cultivando a erva-mate e aí todos pensam que dá dinheiro, mas não vi ninguém levantar grandes patrimônios plantando erva-mate. Quem consegue fazer uma lavoura braçal, tudo bem, pois uma lavoura mecanizada tem mais custo de produção”, salientou
Ele ainda aponta outras duas problemáticas: a estiagem e a falta de mão de obra. “Nesse ano o clima também foi desfavorável. Em razão da estiagem a produção é menor e a despesa não muda. Deveria ter se mantido o preço da erva-mate e reduzido um pouco o custo de produção e não vice-versa, como aconteceu”, ressaltou.
Aumento estimado é de 200 hectares por ano
Com cerca de 2.400 hectares de terras com plantação de erva-mate atualmente, principalmente nas comunidades de Tunas e Itapuca, a área plantada está aumentando em torno de 200 hectares por ano no município de Anta Gorda, conforme dados da Emater.
Falta de mão de obra
Ele concluiu: “A mão de obra é uma grande preocupação que temos. Estamos plantando, mas não sabemos se vamos colher. Eu, por exemplo, adubo e faço a limpeza da área, mas contrato mão de obra para a colheita, porém nem sempre é fácil de encontrar”, declarou.
Muitos produtores da região estão estudando estratégias para poder suprir a demanda por mão de obra, entre as opções está a atração de pessoas de outros países que poderão vir morar na cidade e contribuir com a produção.