Essa matéria é exclusiva para assinantes do jornal digital.

Já sou assinante do jornal digital!

InícioDestaqueEducação em Tempo Integral gera insatisfação entre pais e alunos da Escola...

Educação em Tempo Integral gera insatisfação entre pais e alunos da Escola Bento

Continuação do projeto pode aumentar evasão escolar

 

Por Divanei Mussio/Oneide Marcos

O Ensino Médio em Tempo Integral, o EMTI, projeto da Secretaria de Educação do RS, a Seduc, começou a ser implantado no ano de 2018, como um novo modelo de educação.

Na região da 25ª Coordenadoria Regional de Educação, CRE, em 2024, quatro escolas tem o EMTI, entre elas a Escola Estadual de Ensino Médio Bento Gonçalves da Silva, de Itapuca, que iniciou este ano, no 1º Ano do Ensino Médio. Nos próximos anos, há a previsão de expansão dessa modalidade para mais escolas.

 

Controvérsia e insatisfação

Na Escola Bento, o tempo integral tem causado controvérsias e insatisfação entre pais, alunos e até entre alguns trabalhadores da instituição. A realidade tem revelado falhas estruturais e pedagógicas que preocupam a comunidade.

A proposta, implantada no 1º Ano do Ensino Médio, avançando gradativamente nos anos seguintes para as demais turmas até atingir todo o Ensino Médio, enfrenta críticas devido à falta de infraestrutura e de apoio adequado.

 

Escola prefere o silêncio

Um dos principais problemas apontados é a ausência de uma estrutura que suporte ao ensino em tempo integral, além de promessas não cumpridas que inicialmente convenceram os pais a apoiar o projeto. A escola foi procurada, mas não quis se manifestar. Porém, uma fonte que preferiu permanecer anônima, informou que várias melhorias foram prometidas pela Seduc, mas não se concretizaram.

“Foi informado ao diretor que seria necessário escolher três cursos para a escola, mas houve confusão e falta de orientação sobre como implantar o modelo. Fizemos uma votação de um dia para o outro, onde a maioria dos pais votou, exceto dois. Quando o ano começou, os pais perceberam que várias promessas não estavam sendo cumpridas. Não há café da manhã adequado, nem merenda de qualidade, nem espaço apropriado para os alunos descansarem depois do almoço, laboratórios ou salas temáticas. Além disso, faltam materiais para as aulas”, relatou a fonte.

Ainda segundo a mesma fonte, reclamações foram enviadas à CRE, à ouvidoria da Seduc e até mesmo ao Ministério Público, mas as respostas foram insuficientes ou inexistentes. “Precisamos de condições adequadas para manter o ensino integral, o que hoje não temos”, completou a fonte.

 

Pais se manifestam

Marisa Rita Kullmann, mãe da aluna, Mérly Kullmann Albano, expressa sua frustração com a situação: “Para mim, o Ensino Médio integral deveria ser cancelado. Em cidades maiores, esse modelo pode fazer sentido, mas aqui em Itapuca, onde muitos alunos ajudam nas tarefas de casa, não. Além disso, eles perdem a oportunidade de trabalhar como jovens aprendizes e ganhar um dinheiro próprio, pois têm que estudar o dia todo”. Segundo ela, os pais estão mobilizados para cancelar o turno integral, visto que, caso isso não ocorra, muitos optarão pela transferência dos filhos para outra escola, inclusive organizando transporte particular.

Elaine Maria Marques de Sousa, mãe do aluno Roger Antônio de Sousa, também se manifestou: “Eu até concordaria com o turno integral se houvesse benefícios, mas do jeito que está, não funciona. A maioria dos professores não está presente no turno da tarde e os alunos, com 16 ou 17 anos, sentem que o turno integral é entediante e pouco produtivo, preferindo trabalhar, nessa situação.”. Esse descontentamento tem gerado muitas faltas às aulas. A expectativa é que, se as mudanças não ocorrerem, a evasão aumente em 2025.

 

Medo de evasão escolar e fechamento da escola

Professores e funcionários também expressam preocupação com o futuro da escola. Alguns temem represálias, mas, de modo geral, demonstram insatisfação com o novo modelo apresentado pela Seduc. Um dos receios principais é o aumento da evasão escolar. Atualmente, três alunos já deixaram a turma, e outros estão considerando a transferência para municípios próximos. Uma professora, que também preferiu o anonimato, destacou: “Hoje só temos o Ensino Médio. Se os alunos deixarem a escola no próximo ano, há uma possibilidade real de que a instituição seja fechada. Seria o fim do ensino estadual em Itapuca”.

 

 

Impacto na mão de obra local

Outro ponto levantado pelos pais é o impacto na economia familiar com a permanência dos alunos todo o dia na escola. Em Itapuca, é comum que os adolescentes ajudem nas tarefas agrícolas e contribuam com o orçamento doméstico. Muitos jovens que desejavam ingressar em programas de jovem aprendiz, por exemplo, têm suas oportunidades limitadas pelo horário escolar. “Precisamos de mão de obra, mas essa situação da escola impede que os jovens trabalhem e adquiram experiência, o que é essencial em uma cidade pequena”, comenta o pai de um aluno, que preferiu não se identificar.

Diante da insatisfação generalizada, os pais pedem a revisão da modalidade ou até mesmo sua revogação, apontando que a realidade da comunidade rural do município exige um modelo de ensino que respeite as especificidades locais e permita aos jovens conciliar os estudos com o trabalho e o apoio à família.

 

25ª CRE esclarece

O Eco Regional entrou em contato com a 25ª CRE para esclarecer a situação da escola de Itapuca. Roseli Eliane Schmitz, chefe de Divisão Pedagógica informou que “todas as escolas foram consultadas, em especial a Escola Bento Gonçalves, que teve a decisão registrada em ata no ano de 2023”.

Roseli destacou as melhorias que estão sendo implantadas para atender as necessidades das escolas na expansão do Ensino Médio. “No âmbito pedagógico, toda a equipe escolar, professores, alunos e gestores, estão participando de cursos de formação subsidiados pela Seduc de forma a qualificar o trabalho e atender as diretrizes do Tempo Integral, cujo princípio maior é o protagonismo do aluno e seu Projeto de Vida. Todos os professores têm dedicação exclusiva, ou seja, 40 horas semanais na escola, de forma que possam se dedicar exclusivamente ao planejamento e execução do projeto pedagógico proposto. A escola já recebeu mobiliário para as salas de aula e estão previstos ainda mais equipamentos, como laboratórios, armários, entre outros”.

No âmbito financeiro, o Coordenador Regional de Educação, Alessandro Nunes da Costa, destacou que, em todos os aspectos, as escolas de EMTI têm preferência, quer seja nos recursos financeiros (maior repasse de merenda, agilidade para aquisições, etc), quanto ampliações e reformas que são executadas pela Seduc. “Além disso, o MEC também disponibiliza um aporte maior de recursos e equipamentos. Porém, estes equipamentos ainda não foram designados para a Bento. Através do Programa Agiliza, a escola recebeu R$ 83.391,05; parte desse recurso foi empregado na pintura do prédio. Na merenda também o recurso é maior, pois tem quatro refeições diárias”, informou o gestor.

 

Melhor formação e qualificação

Ao ser questionado sobre a insatisfação de alunos e pais, Costa contemporiza. “É próprio da faixa etária, pois há uma ansiedade de entrar o quanto antes no mundo do trabalho e há resistência de ter dedicação em tempo integral aos estudos, concorrendo com as mídias, redes sociais, telas, etc. O projeto defende que a permanência do aluno na escola em tempo integral propicia melhor formação e qualificação, para que quando atingida a idade certa para o mundo do trabalho ou cursos técnicos subsequentes ou ensino superior, eles tenham uma formação mais qualificada, o que dará a eles uma vantagem sobre os demais”, pondera.

Roseli informou que toda a equipe escolar está recebendo a formação para atender o EMTI
Coordenador Alessandro destacou que os alunos do EMTI estarão melhor preparados para o mercado de trabalho

Deixe uma resposta

Digite seu comentário
Por favor, informe seu nome

SIGA-NOS

42,064FãsCurtir
23,600SeguidoresSeguir
1,140InscritosInscrever

ÚLTIMAS