Missionária Scalabriniana está atuando no continente Africano desde 2009
Por Manoela Alves
A Irmã Neide Lamperti, Irmã Missionária de São Carlos Borromeo Scalabriniana, natural do município de Anta Gorda, está desde abril de 2024 atuando novamente na África do Sul, desta vez, coordenando o departamento de migrantes e refugiados e o departamento de tráfico humano na Conferência Episcopal da África Austral que compreende os países de África do Sul, Swazilândia, Botsuana e Lesotho.
“Saí de casa para morar com as Irmãs Scalabrinianas em 1989. Foi neste ano que iniciei meus estudos para a Vida Consagrada. Após cinco anos de estudos, fiz minha primeira profissão religiosa em 10 de julho de 1994. Como missionária, trabalhei em Bento Gonçalves, Roca Sales, Cascavel-PR, Passo Fundo. Neste período trabalhei em escolas, centro sociais para menores carentes e na animação vocacional das juventudes de diferentes dioceses do Rio Grande do Sul e Santa Catarina”, conta a Irmã.
Morar longe de casa sempre é desafiador
Viver longe da família é uma experiência complexa que envolve muitos sacrifícios pessoais, marcada por uma mistura de desafios e recompensas. A distância física da família e dos amigos, por vezes, gera um sentimento constante de saudade. Entretanto, a tecnologia, como videochamadas e mensagens, ajuda a mitigar essa distância, mas não substitui a presença física.
“Muitas vezes o desafio maior é na adaptação cultural, ou seja, é preciso aprender outra língua, precisamos adaptar-nos aos costumes diferentes, comidas diferentes, exigindo de nós um grande esforço de integração e compreensão cultural”.
“Entretanto, os desafios são superados quando nos damos conta de que fazemos um trabalho importante para aquela parcela da humanidade, promovendo a educação, cuidando dos doentes, defendendo os direitos humanos dos migrantes e refugiados, ajudando-os a cultivarem a sua fé, entre tantos outros. São ações que fazem a diferença positiva na vida das pessoas e isso torna nossa vida extremamente gratificante”, declara.
Ser missionária é ser resiliente
Pode-se dizer que sendo missionárias, se desenvolve uma resiliência, adaptando-se ao clima, língua, costumes, conforme já citado. “Nos enriquecemos com tudo o que de novo aprendemos, vivemos e conhecemos. Encontramos outras famílias que nos acolhem, nos protegem, nos fortalecem e nos apoiam na vida e missão. Por vezes estes laços familiares perduram por muitos anos ou para sempre. A alegria de servir as pessoas, os mais pobres, os que sofrem e ver suas vidas transformadas, supera qualquer desafio de distância e saudades. É a fé que nos fortalece. Temos a certeza de que é Deus que nos conduz, nos dá forças de seguir, especialmente naqueles momentos em que a missão se torna mais difícil”, explana a Irmã.
Lançamento do livro
Neste ano a Irmã lançou o livro intitulado “Ser Mulher e refugiada: desafios de inserção no mercado laboral angolano”. “A motivação para abordar esse tema decorre de um trabalho de onze anos com mulheres refugiadas em Angola, a partir da Comissão Episcopal da Pastoral para os Migrantes e Itinerantes de Angola e São Tomé – CEPAMI. Durante esse período, pude observar a falta de progresso em suas condições de vida, e muitas dessas vulnerabilidades estão associadas as questões de gênero e linguagem, bem como, à negligência por parte de departamentos públicos, especialmente no que diz respeito à documentação”.
E continua: “Por isso, o livro é como se fosse uma fotografia da realidade das mulheres refugiadas que vivem em Angola. É uma das formas de dar voz às mulheres refugiadas. Este livro fala de vidas humanas, de pessoas concretas, de histórias reais de mulheres que se colocaram a caminho para salvar a própria vida. Ao mesmo tempo, em que elas buscaram uma vida nova em Angola, elas sonhavam reconstruir suas vidas num espaço que lhe pudessem proporcionar segurança, liberdade e a concretização dos seus sonhos”.
Ser missionária, é, acima de tudo, um ato de amor. Amor por Deus, amor pelas pessoas que se encontram no caminho, amor pela humanidade. “Cada dia é uma oportunidade de servir, de dar um pouco de si para transformar a vida do outro. Este amor é a força que nos move e nos sustenta, mesmo nos momentos mais difíceis”, enfatiza.
E finaliza com uma mensagem: “Ao longo dos 30 anos de vida consagrada enfrentei inúmeros desafios. Mas aprendi a florescer através deles, encontrando força na nossa fé e na nossa missão. Olho para trás com um coração cheio de gratidão. Gratidão a Deus por me guiar nesta jornada, gratidão às comunidades que me acolheram, e gratidão a todos que apoiaram minha missão. Cada passo, cada sorriso, cada mão estendida fez parte desta linda trajetória. Para aqueles que sentem o chamado para a missão, minha mensagem é simples: sigam seu coração, confiem em sua fé e estejam abertos às maravilhas que Deus tem reservadas para vocês. A missão é uma jornada de amor e serviço que transforma não apenas as vidas daqueles que ajudamos, mas também as nossas próprias vidas.