Nedi Canello, moradora do centro de Anta Gorda, é mais uma das centenas de pessoas que perderam suas casas com a enchente registrada em maio. Agora, ela busca reconstruir o lar onde morou por 35 anos.
Tudo aconteceu no dia 01 de maio. “Naquele dia, meu sobrinho de Nova Prata me ligou e me mostrou um vídeo onde a água tinha invadido e estourado o assoalho da casa dele. Eu, brincando, disse que logo o rio chegaria na ponte perto da minha casa. Há 35 anos eu morava naquele local e isso nunca aconteceu. Mas depois que brinquei com ele, não deu meia hora, os vizinhos vieram me dizer para tirar os móveis do porão onde meu filho morava. Só que não conseguimos tirar tudo, somente algumas roupas, documentos, o colchão e uns calçados, pois a água veio violenta e foi entrando”, recorda.
Quando o rio recuou, foi possível ver que ele tinha chegado a um metro dentro da casa. “Com a ajuda dos vizinhos começamos limpar o porão. À noite eu queria dormir na minha casa, pois morava no segundo piso, mas meus irmãos falaram que não era para ficar lá, pois o rio poderia avançar novamente. Para ficar de consciência tranquila, fui no meu irmão dormir, mas às 3h da manhã o vizinho veio nos chamar e disse que na minha casa a situação estava muito pior. Mesmo sem luz e chovendo, meu irmão pegou a lanterna, foi até lá e viu que a água entrava, mas saía pelas janelas. Quando ele se virou para voltar para a casa dele, deu um estouro. A água entrou com tanta força que arrebentou as paredes debaixo e puxou três paredes do piso de cima onde eu morava. Se eu estivesse lá não tinha sobrevivido. Eu ia querer sair e o rio ia me levar”, declara.
Nedi conta que, quando o vizinho foi chamar, ela e a cunhada levantaram-se da cama e ficaram na cozinha. “Quando meu irmão voltou perguntei se a casa tinha se ido e ele me disse que quase, eu me desesperei, mas tinha que esperar amanhecer o dia. Quando consegui ir até lá, chorei muito, mas gente que eu nem sequer conhecia me deu apoio, por isso consegui me reerguer, pois o povo, quando quer ser solidário, é impressionante”, disse.
Um dos vizinhos ofereceu seu caminhão para carregar os móveis que estavam na casa. “Todos ajudaram e em questão de uma hora tudo estava no caminhão. Porém, eu tinha que descarregar os móveis em algum lugar, e foi aí que surgiu esse homem, dono da casa onde estou hoje, que me ofereceu um lugar. Ficarei aqui até conseguir reconstruir”, salienta.
Nas redes sociais, uma vaquinha está sendo divulgada para arrecadar recursos. “Eu me sinto até envergonhada de o povo estar me ajudando, porque é algo que para mim nunca aconteceu. Eu preferia sempre ajudar as pessoas. Mas os meus sobrinhos começaram a organizar a vaquinha e as pessoas estão colaborando. Eu agradeço imensamente. Estão todos em minhas orações”, frisa ela, que finaliza: “Eu ganho um salário mínimo e é difícil reconstruir, mas vou fazendo o que der com a ajuda recebida e depois farei um empréstimo do valor que faltar. Meu sonho é reconstruir a casa em que eu morava. Vou fazer mais simples, mas encima do que é meu”, pontuou.
Nedi revelou ainda que o aluguel social está encaminhado, assim como os pedidos para receber o PIX Solidário do Governo Estadual e o Auxílio Reconstrução do Governo Federal e que a Defesa Civil ainda não visitou o local em que sua residência desabou.