O Rio Grande do Sul enfrenta um dos períodos mais desafiadores de sua história recente. Três estiagens sucessivas castigaram nosso setor primário, seguido por duas enchentes devastadoras que deixaram marcas profundas na infraestrutura, na economia e, sobretudo, na vida das pessoas. Agora, enfrentamos novamente uma estiagem severa. Em meio a esse cenário, o Governo do Estado anuncia um novo modelo de concessão rodoviária, impondo um aumento expressivo no número de praças de pedágio.
Atualmente, um trajeto entre Marau e Porto Alegre pode ter de três a quatro pedágios, dependendo da rota escolhida. Com a concessão das rodovias do Bloco 2, esse número pode chegar a 11. O impacto não será apenas para quem utiliza essas estradas diariamente, mas para toda a economia. O aumento no custo do transporte inevitavelmente se refletirá nos preços das mercadorias, pressionando ainda mais o setor produtivo e o consumidor final.
É importante lembrar que, nos últimos anos, o Estado realizou privatizações que somaram cerca de R$ 30 bilhões e promoveu reformas que, segundo projeções, resultarão em uma economia de R$ 25 bilhões. Também buscou renegociar sua dívida com a União, embora sob condições que muitos especialistas apontam como desvantajosas. No entanto, mesmo diante desses esforços fiscais, a população se vê novamente diante de uma política que transfere o ônus para aqueles que já vêm enfrentando grandes dificuldades.
Não se trata de ser contra investimentos em infraestrutura ou melhorias nas rodovias. Pelo contrário, é fundamental que tenhamos estradas seguras e bem conservadas. Mas é justo que essa conta recaia, mais uma vez, sobre os ombros da população e dos setores produtivos, que já lidam com tantas adversidades?
A concessão de rodovias deve ser debatida com transparência e equilíbrio, garantindo que os interesses da sociedade sejam preservados. Não podemos aceitar que, sob o pretexto de modernização, sejam criadas barreiras que encarecem a produção, dificultam o escoamento agrícola e penalizam os cidadãos. O desenvolvimento deve caminhar com a justiça social e econômica, e não à custa delas.
O Rio Grande do Sul precisa de soluções inteligentes e sustentáveis, não apenas de mais encargos. Que essa discussão seja feita de maneira ampla, responsável e com o devido respeito ao momento difícil que atravessamos.