Antes das enchentes, Vale do Taquari, vinha se destacando por suas belezas naturais
Por Manoela Alves/Rosemary Picinini
O setor do turismo na região tem de diversas formas se fortalecido, com novos investimentos e há algum tempo vem sendo visto como uma fonte de renda familiar.
No entanto, o setor também tem sofrido diferentes perdas, tendo enfrentado a pandemia de 2020, as enchentes de 2023 e agora novamente, a maior catástrofe climática do Rio Grande do Sul.
Rafaela Roman, proprietária da agência de turismo Vem Comigo, que enaltece as belezas da região Alta do Vale do Taquari, fala que este é um novo cenário desafiador. “Principalmente por conta dos acessos, perdemos uma ponte significativa para realizar os roteiros em Anta Gorda, a Ponte Nova, localizada na Linha Primeira, nas proximidades do Camping Ponte Nova, que dá acesso ao Distrito de Itapuca. No entanto, conseguimos contornar essa perda, com o trajeto de Ilópolis, que dá acesso ao Distrito”, explica.
Rafaela, assim como outros empreendedores de Anta Gorda, fazem parte do “Percorsi”, um roteiro personalizado no município para recepcionar turistas. “Nós ainda conseguimos fazer o roteiro da mesma forma. Porém, é necessário levar em consideração o momento atual como um todo, visto que os acessos para chegar até aqui são limitados e que por hora, a população está “sem clima” para fazer viagens. O momento, agora, é de nos solidarizarmos uns com os outros, para que, consigamos passar por essa fase o mais breve possível. É inegável que muitas famílias dependem do turismo como fonte de renda, por isso, permanecemos a disposição para passeios futuros e para proporcionar uma experiência de cultura e alegria aos visitantes”, esclarece Rafaela.
Camping Ponte Nova não retomará atividades após a destruição
Localizado no interior de Anta Gorda e em funcionamento há 12 anos, o Camping Ponte Nova viu sua história ser destruída na noite de 1º de maio, quando as chuvas torrenciais desceram sobre a região transformando aquele dia e os dias seguintes, nos mais catastróficos da história da região e do estado.
“A chuva começou às 21 horas e, quando parou, às 4h da manhã, só tinha a casa; o resto já tinha ido”, relata Gilberto Alba, sócio proprietário do empreendimento, que era referência na região e descrito pelos seus clientes como um lugar muito bonito, agradável e aconchegante.
Ele também revela que a família sabia dos alertas emitidos pelos órgãos governamentais e dos pedidos para que os moradores próximos aos rios, fossem para um lugar mais seguro. O rio próximo ao Camping, já estava alto no dia anterior, 30 de abril, dando sinais do que estava por vir nas próximas horas. “Tinha uma árvore no meio do rio que sempre resistiu a todas as enchentes; mas na quarta-feira, dia 1º, quando levantamos, de manhã, ela já não estava mais lá”, continua.
O empresário continua dando detalhes daquele dia que sempre será lembrado como o dia derradeiro do local ao qual dedicaram, ele e a esposa Carine, muitos anos de sua vida, muito trabalho e dedicação para receber os muitos clientes que o frequentavam, principalmente no verão, para passar momentos bons, ao ar livre, perto da natureza. Agora, eles são memórias. “ÀS 8h, o rio subiu do lado de cá da pinguela, e, às 11h, ele levou a pinguela. De noite, foi a vez do quiosque ser levado”.
Na noite fatídica, a família foi abrigar-se na casa de um vizinho, mais longe do rio, com medo das águas, que emitiam um barulho assustador. À tardinha, até pensaram em carregar alguns pertences num caminhão e levar para um lugar seguro, mas, julgaram não ser necessário. Enganaram-se.
Na madrugada, na casa do vizinho, que não oferecia riscos de alagamentos, todos foram para fora de casa desobstruir as valetas para evitar que a água invadisse a residência. Gilberto e um outro vizinho foram até o Camping ver como estava a situação e, avistaram apenas a casa; “o quiosque já não estava mais”, conta.
A casa, preservada da inundação, é vista como uma benção. Onde estava o quiosque, os proprietários indicam o lugar dos móveis e os outros utensílios. “Sobraram as louças, uma vidraça, uma porta inteira, o alicerce e mais algumas coisas. Já acostumei com essa situação, de chegar aqui e ver tudo destruído”, afirma, relutando ainda contra as tristes lembranças daquele dia, quando em alguns pontos, as águas do rio subiram até quatro metros.
Sobre o futuro próximo, eles sabem que terão muito trabalho para limpar e retirar tudo o que está sujo, estragado e deteriorado; não pretendem retomar o negócio. Por enquanto, é pensar dia por dia e tocar a vida.
Ligação com Itapuca é prioridade
No cenário atual de pós-enchentes, as maiores da história do estado e da região, os gestores municipais têm a dura e indigesta missão de eleger as prioridades, entre elas, que serão atendidas antes, no vasto cenário de destruição em que seus municípios estão mergulhados.
Em Anta Gorda, o prefeito Xico Friguetto, destacou como uma das prioridades a passagem entre a sede do município e o distrito de Itapuca, que teve a ponte arrancada de seu lugar. “Por ora, vamos construir uma passagem paliativa para atender a comunidade de Itapuca, seus alunos, professores, produtores de erva-mate, entre outros”, explanou Friguetto, na terça-feira, 21, in loco. Ele seguiu explicando a logística dos trabalhos. “Estaremos trabalhando nas cabeceiras da ponte e a empresa na colocação da ponte. Não temos ainda uma data para a conclusão da obra, por isso estamos trabalhando num acesso paliativo para atender à comunidade por enquanto”.
Não desistir do sonho é fundamental
Deivid Junior Frighetto e sua esposa Francine Bertuol Frighetto, tem investido no “Condado Selva de Pedra”, na Linha Quarta Ferronato. A iniciativa turística contará com pousada e casa de eventos, ainda estão em fase de construção e já sofreram com esse revés do tempo.
“Nós seguimos com o mesmo objetivo, mas no momento estamos sem acesso ao local, o que vai atrasar ainda mais a inauguração. A estrada que margeava o rio não existe mais e a estrada mais elevada desmoronou uns 60 metros. Vamos ter que aguardar ter máquina das empresas de terraplanagem disponíveis para ajeitar o acesso”, explica Deivid.
Ele também explica que o maior prejuízo financeiro, no momento, é refazer a estrada e a jardinagem do local. “Agora é parar e respirar fundo. Eu vejo que o turismo no momento é secundário, porém, uma ferramenta muito importante para a reconstrução. Acredito que no momento certo iremos voltar a falar de turismo e com mais ênfase do que falávamos”, defende o empreendedor.
Perau do Facão irá retomar as visitações a partir de 25/05
A mais bela cascata do estado, eleita em 2024, o Perau do Facão em Arvorezinha, retornará as visitações a partir de sábado, 25 de maio. O sócio proprietário, Valdacir Bresciani, fala dos prejuízos do ponto turístico. “As águas do Arroio Figueirinha que cruzam o Cânion Perau do Facão destruíram parte das trilhas situadas na beira do arroio, e também, acabaram levando a passarela da passagem do arroio que dava acesso às duas cachoeiras secundárias, a cachoeira da grutinha e a cachoeira das corticeiras. Perdemos também alguns mantimentos da lancheria devido à falta de energia elétrica por dois dias. As trilhas que dão acesso ao pé da Cascata Perau do Facão estão recuperadas”, esclarece.
Devido às enchentes, o turismo regional terá o grande desafio do recomeço tanto na reconstrução dos empreendimentos como o reaquecimento da economia para a viabilização e retomada dos passeios turísticos. “Com a força e coragem do povo gaúcho, não demorará para que, em breve, estejamos próximos da normalidade. Acreditando na retomada do turismo, projetamos novos investimentos para o Cânion Perau do Facão como tirolesa, Sky Bike, pinguela, torre de observação. Estes investimentos deverão estar disponíveis para os visitantes no próximo verão”, declara.
E continua: “Temos agência de viagens vindo com grupo de pessoas no feriado de 30 de maio. Outras agências também estão novamente se mobilizando para a retomada dos passeios, especialmente das regiões menos atingidas pela enchente”.
E finaliza: “Embora o momento não é favorável, ainda assim, acreditamos que o turismo pode ser um dos setores que ajudará muito na retomada da economia do Vale do Taquari”.
“Agora é parar e respirar fundo. Eu vejo que o turismo no momento é secundário, porém, uma ferramenta muito importante para a reconstrução”, Deivid Frighetto, empreendedor antagordense.