Muitas foram as promessas e expectativas alimentadas para o Plano Safra atual, mas parece que não se confirmou o esperado pelos agricultores e setor agro
O Plano Safra 2024/2025, divulgado pelo Governo Federal, no dia 03 deste mês, estava rodeado por grandes esperanças e expectativas, especialmente pelo setor agro do RS, atingido gravemente pelas enchentes de maio. Porém, parte do que era esperado acabou frustrado.
Claudemir Lodi, produtor rural de Camargo, subiu à tribuna da Câmara de Vereadores, na noite do último dia 15, para manifestar sua insatisfação e indignação com o que foi anunciado, com grande alarde, pelo próprio presidente Lula. Lodi é, também, vereador em seu município, mas na oportunidade estava se pronunciando como um trabalhador rural.
“Todos estavam ansiosos por essa divulgação, já que em agosto vencem os custeios da safra passada. Esses custeios foram prorrogados em dois meses, mas não nos beneficiou porque são dois meses a mais pagando juros, sendo que a soja e o milho baixaram de preço e o que parecia ser uma ajuda se tornou em uma piora na situação” inicia ele. “Quem não pagar ao banco, vai constar no cadastro como inadimplente”, informa.
Proagro
O Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) da próxima safra continuará sendo de 6%; dinheiro para os produtores, por enquanto, não tem, Lodi afirma. “Pode ser que tenha, mais para frente, e a contratação do Proagro, o seguro agrícola contra as intempéries, ficou mais difícil”, conforme a análise do agricultor. Ele cita como exemplo: “Se eu tivesse, antes desse plano, perda total da minha lavoura, o Proagro pagava a minha lavoura e ainda depositava, na minha conta, R$ 22 mil para passar o ano, como garantia de renda mínima; agora, depois desse atual plano, só receberia R$ 9 mil. Isso é uma queda muito grande. E a cobertura máxima do seguro, caiu de até R$ 335 mil para R$ 270 mil, diminuindo a cobertura para 90%. A taxa do seguro é individual para cada município, com muitas regras e exigências. A taxa de juros está em 8,77% em Camargo, para o milho, no Poagro Mais. Se for no Proagro tradicional, a taxa é de 13,14%. Em Nova Alvorada, por exemplo, essas taxas são maiores ainda. E não é só isso; soma-se, além dessas taxas, mais 6% como taxa do banco para contratação do seguro”, segue ele, relatando os pormenores do plano governamental.
Diante disso, Lodi afirma: “O Proagro está com os dias contados, se continuar o governo que está aí, ele vai acabar com o Proagro”.
Temor
A indignação do produtor se justifica pelo temor que o rumo do seguro agrícola está seguindo. “Se uma intempérie levar a minha lavoura, quem vai pagar meus custos? E problemas climáticos estão acontecendo todos os anos e é preocupante o futuro”, diz, temeroso com a situação.
Agricultura familiar
Outra dúvida de Lodi é sobre o enquadramento dos agricultores como familiares ou não. “Pelo que pude ver, no Plano Safra, não somos considerados agricultores familiares, que se enquadram numa renda bruta máxima anual de R$ 100 mil, para poder ter um juro de 2 ou 3%. Aqui, na região, tenho certeza de que 95% dos produtores não se encaixam nos critérios da agricultura familiar; somos considerados agro negócio, então não teremos redução de taxas”.
Bancos e produtores estão em situação preocupante, frisa o produtor. “Os gerentes dos bancos já estão dizendo que começou a inadimplência dos agricultores, algo que não existia e nunca existiu”.
Ele cita que o setor leiteiro teve algum benefício com o Plano Safra, na redução de juros para compra de ração e equipamentos, mas não para compra de animais. Esse seria o único setor que teve alguma redução.
Ele finaliza um tanto receoso quanto ao futuro. “A safra do trigo, que está na fase de germinação, está horrível devido às chuvas; não está havendo germinação das sementes plantadas e agora esse plano do governo que não nos ajuda em nada. Estamos muito preocupados com o que está por vir. Plantei canola e estou com a lavoura praticamente perdida, porque poucas sementes germinaram e, essas que germinaram, a geada matou. Vou esperar a safra de soja; até lá, vou ficar com a lavoura parada, acumulando prejuízos, com contas para pagar”.
Agência do Sicredi de Itapuca espera superar os R$ 6 milhões em custeio
Na última sexta-feira, dia 12 de julho, o Sicredi Botucaraí RS/MG realizou o lançamento do Plano Safra 2024/2025. O sistema Sicredi, conta com R$ 66,5 bilhões de recursos, dos quais R$ 584,63 milhões são destinados à própria cooperativa. As taxas de juros partem de 2% ao ano para custeio e 2,5% ao ano para investimentos.
Além das novas taxas de juros, houve algumas mudanças no seguro agrícola Proagro. As agências do Sicredi já estão recebendo os projetos dos associados interessados.
Segundo Maiquel Concatto, gerente da agência de Itapuca, a expectativa para a unidade é bastante positiva. “A expectativa da agência de Itapuca é superar os R$ 6 milhões em custeio e os R$ 5 milhões em investimentos.”
Ainda segundo Concatto, o lançamento do Plano Safra representa um passo importante para o fortalecimento da agricultura local. “Esse recurso irá proporcionar aos produtores rurais acesso a financiamentos que possibilitam o crescimento e a sustentabilidade de suas atividades, que foram muito afetadas nos últimos tempos em razão do clima”, finaliza o gerente.