Falta de produto no mercado faz com que preço da erva-mate suba
O produtor vê com bons olhos os números que se apresentam no mercado da erva-mate. A grande procura e redução na oferta de matéria-prima tem feito com que sejam aumentados os preços, nas propriedades. Isto deve repercutir em toda a cadeia produtiva e chegar nas prateleiras dos supermercados.
Esse não é um fator isolado do polo do Alto Taquari. No Vale do Iguaçú, no Paraná, que se apresenta como maior área de produção sombreada do país, o produtor Naldo Vaz, do Sítio Três Meninas, em Bituruna, percebe esta diferença. O valor que era R$ 18 por arroba já está em R$ 21 e tende a subir ainda mais.
“Este valor é pago para quem não tem a certificação. Quem consegue a garantia de que seu produto é de qualidade, recebe ainda mais”, conta. A explicação, diz Vaz, é a quebra na produção, com redução entre 20% e 25%, motivada por fatores climáticos, e o aumento da exportação. “Tivemos uma venda muito grande para o exterior, ao mesmo tempo que houve a diminuição da matéria-prima”, explica.
A expectativa está baseada na próxima safra. Se for boa, deve manter o preço, caso tenha algum problema, a tendência é que o valor aumente ainda mais.
No Vale do Taquari, a situação é semelhante. Morador de Pinhal Queimado, em Arvorezinha, Edelmar Salini (54), atua há 25 anos no setor e vê de forma positiva o momento. Ele destaca que, com os valores que vinham sendo praticados, manter a produção estava representando um alto custo, pois os insumos tinham um expressivo peso na contabilidade da propriedade. “Com o aumento dos valores de insumos, estava quase inviável manter a produção, quando o valor estava em R$ 12, R$ 13; agora, com a expectativa de que aumente, ainda mais, deve melhor os resultados para quem atua no setor”, diz.
A expectativa, tendo em vista o desempenho da produção é de aumento. Atualmente, destaca, a média da arroba é R$ 16 e pode subir ainda mais. Assim, a ideia de manter o erval, e até ampliar a produtividade, ganha força na família Salini. Ele fornece, atualmente, apenas para uma ervateira, garantindo a fidelidade e melhor negociação.
“Houve maior demanda de erva-mate e menor oferta de matéria-prima”
O presidente do Sindimate e empresário do setor ervateiro, Alvaro Pompermayer, afirma que anualmente, no período que compreende os meses de setembro, outubro e novembro, é comum a diminuição da oferta de erva-mate. “É um período em que baixa muito a oferta de erva-mate porque o produtor tem outras ocupações como cuidar da lavoura de fumo, preparar a terra para o plantio. A erva-mate pode ficar no pé, mas se ele atrasar o plantio de fumo ele perde tudo. Junto com isso ocorrem outros fatores como a queda de rendimento da erva-mate e o desestimulo do próprio produtor pela ampliação do número de indústrias”, conta.
De acordo com Pompermayer, no Paraná, por exemplo, em função de secas passadas, a erva-mate colhida agora, comparada ao corte anterior, teve uma redução de 20 a 30%. “Na Argentina também houve uma redução de 30% na safra, e aqui, não está sendo diferente. Houve maior demanda de erva-mate e menor oferta de matéria-prima. A indústria, por sua vez, criou novos produtos e investiu pesado no tererê. A questão não é comprar erva-mate, mas repassar o preço para o consumidor”, salienta.
Pompermayer destaca que a matéria-prima vai existir, em menor quantidade, mas haverá oferta e em determinados momentos o preço deve oscilar. “Haverá de se achar um ponto de equilíbrio entre indústria, produtor e consumidor. Enquanto isso, o Sindimate pede cautela, pois se a indústria se preocupar apenas em comprar o produto, ela terá problemas com o mercado. O consumidor está acima de tudo e está com pouco dinheiro para gastar”, pontua.
Quanto à erva-mate cultivada no Paraná, Pompermayer revela que o preço da produção plantada, tem preço semelhante ao do Rio Grande do Sul. “No Paraná há a erva-mate nativa e a plantada. A nativa tem um patamar de preço e o valor da plantada se assemelha ao nosso. Vale ressaltar que qualquer produtor aqui que tenha uma oferta de erva-mate nativa, a indústria dá a ele outro tratamento e preço”, frisa.
“Acredito que em médio prazo teremos qualidade e produção comparável ao Paraná”
São vários os fatores que fazem com que o preço da erva-mate no Rio Grande do Sul esteja mais baixo que no Paraná, conforme o presidente do Ibramate, Alberto Tomelero. “O Rio Grande do Sul tem apenas 30% (em números aproximados) de matéria-prima de excelente qualidade que são os ervais considerados nativos e sombreados, em torno de 40% cultivados de boa qualidade e, 30% considerados de baixa qualidade. Estes números são aproximados para mais ou para menos.
No Paraná tem a região do Vale do Iguaçu que tem a maior produção de erva-mate sombreada do mundo.
Portanto, o clima, a sombra e o solo favorecem para que a qualidade seja superior à erva-mate gaúcha”, destaca.
Tomelero acrescenta que a erva-mate do Paraná agrega mais sabor ao chimarrão produzido no Rio Grande do Sul porque a média de qualidade da matéria-prima é um pouco superior à gaúcha. “Agora, o Rio Grande do Sul por meio de incentivos do Governo do Estado, vem trabalhando para melhorar a produção e qualidade de nossos ervais. O Ibramate e a Emater/RS-Ascar estão desenvolvendo um excelente trabalho, desde pesquisas, produção de mudas de qualidade, correção de solo, plantio em áreas adequadas, sistema de manejo, podas adequadas, sistemas de sombreamento e recuperação de ervais degradados. Acredito que em médio prazo teremos qualidade e produção comparável ao Paraná”, frisa.
O presidente salienta ainda que o preço da erva-mate está aumentando na região por dois motivos. “O primeiro é a queda de produção de safra colhida a partir de março e abril deste ano, em função de geadas e estiagem mais acentuadas. Na região produtora do Paraná ainda não se tem o percentual apurado. Outro motivo é o aumento na procura pelas indústrias que exportam para recompor estoques para atenderem suas demandas, também novos arranquio das plantações de erva-mate”, relata. Segundo Tomelero, nos próximos meses, deve haver menos oferta de matéria-prima. “A produção desta safra está um pouco menor e os ervais em período de forte brotação principalmente nos meses de outubro e novembro, o que prejudica sim a qualidade da erva-mate, pois a composição do chimarrão não é a mesma em relação ao período de menor brotação e a sua durabilidade em relação a cor é bem menor. Em dezembro deverá normalizar a oferta”, alerta.
Aumento nos preços
O ervateiro revela ainda que os preços nos supermercados já estão sendo alterados devido ao aumento nos custos de industrialização referente à matéria-prima, combustíveis e energia elétrica.
“Nos meses de outubro e novembro acontece uma quebra de rendimento na conversão da folha para erva-mate seca, e isso, significa aumento de custos e com certeza o consumidor vai pagar mais caro pelo produto no supermercado”, ressalta.
Tomelero conclui informando que o mercado normalmente se regula por si próprio, ou seja, de acordo com a oferta e procura. Ele destaca ainda, que a falta de recursos financeiros do Ibramate faz com que a entidade fique ausente nesse processo de auxílio na estabilização do mercado. “O Ibramate é uma entidade nova que surgiu em 2013 com o objetivo de congregar e ajudar no desenvolvimento de toda a cadeia que envolve a produção, industrialização e fomento no consumo da erva-mate, como chimarrão e outros derivados. As atividades no momento estão limitadas aos recursos financeiros. A entidade tem duas fontes de recursos: uma é a contribuição de seus associados, que no momento, não está sendo suficiente para pagar os direitos executivos; a outra é o convênio com o Fundomate. O plano de trabalho 2018 já foi entregue e está em fase de análise para posterior liberação”, conta.