Atividades estão sendo desenvolvidas e planejadas para diminuir o impacto da suspensão das aulas na aprendizagem dos alunos
A preocupação com o aumento de casos da Covid-19, em Fontoura Xavier, levou a Administração Municipal a anunciar a adoção de medidas restritivas, como a proibição de música em bares e restaurantes, velórios com apenas três horas de duração e a suspensão das aulas presenciais.
De 14 a 22 de junho, foram registrados 99 novos casos de coronavírus no município. O secretário de Saúde, Eduardo Souza Santos, esclarece que essa não é uma característica apenas de Fontoura Xavier, mas pede que a população obedeça aos protocolos sanitários para que os casos possam diminuir. “Sabemos que o aumento de casos é geral, não apenas aqui. Mas a nossa preocupação é com o nosso município, pedimos a população que evite reuniões, mesmo que seja entre os familiares. Agora no inverno os ambientes tendem a ficar fechados, devido ao frio, e assim o vírus encontra um ambiente propicio para se espalhar. Então mantenham os ambientes ventilados, evitem ir a bares, usem máscara, lavem as mãos. Precisamos da colaboração de todos”.
O secretário enfatiza que o Poder Público está fazendo a sua parte, mas que isso não é o suficiente. “Nós estamos orientando, pedindo que todos obedeçam aos protocolos. A nossa vacinação está andando muito bem, mas precisamos que todos façam a sua parte. Esse não é o momento de acharmos culpados e sim de cada um cuidar de si e da sua família. É importante que quando sentirem sintomas gripais procurem a Unidade de Saúde, pois muitas vezes quando procuram já é tarde e o caso está grave, e os sintomas são muito semelhantes”.
Sem previsão de volta das aulas
A Secretaria de Educação vem monitorando os casos de coronavírus para estudar a possibilidade de retornar as aulas presenciais. De acordo com a secretária Laudete Bortoncello Nunes, nesse momento ainda não é possível o retorno. “A cada dia a gente percebe que está aumentando os casos em crianças. E esses alunos, pelo que a gente constatou, muitos deles tinham assinado para voltar às aulas presenciais, alguns já estavam frequentando. Então, temos certeza que a interrupção das aulas é a decisão mais acertada no momento. Esperamos que logo essa nova onda passe e que possa voltar ao normal, mas não se vê uma perspectiva tão logo para isso, pois os casos tem aumentado em todo o Estado”.
Atividades para os alunos
Mesmo sem as aulas presenciais os alunos continuam tendo atividades, que são disponibilizadas pelos professores. “Nós continuamos levando o conteúdo das aulas até os alunos que não têm acesso ao transporte escolar. Os diretores e coordenadores estão fazendo plantões nas escolas. E uma coisa que nós estamos frisando bastante é que os professores corrijam a remessa que voltou e devolvam para o aluno, para que o que ele não aprendeu, com algumas estratégias, ele consiga entender a atividade que veio em branco ou muitas vezes errada”, salienta Laudete.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas é a falta de internet na maioria das comunidades do interior, o que impede a interação do professor com o aluno, via aulas online ou em grupos em redes sociais. A secretária afirma que mesmo assim, para os alunos que têm acesso, esse atendimento está sendo feito. “A maioria dos nossos alunos não têm acesso à internet, mas para os que têm estamos disponibilizando vídeos com aulas pelo WhatsApp, e alguns professores estão realizando as aulas pelo MIT. Sabemos que não é o ideal e que terá desigualdades de aprendizado no retorno, mas esses alunos poderão inclusive auxiliar os colegas que não tiveram essa oportunidade. Então, a desigualdade social que está acontecendo nesse momento, no momento em que a gente voltar para sala de aula presencial, que tudo voltar ao normal, como a gente diz, vai ter esse auxílio de um aluno com o outro e com o professor, e através das intervenções pedagógicas dos coordenadores pedagógicos, juntamente com os professores, a gente acredita que vai facilitar então a recuperação da aprendizagem desses alunos que estão sendo prejudicados com essa pandemia”.
A secretária afirma que a Administração Municipal está buscando parcerias para viabilizar o sinal de internet no interior. “Estamos vendo através de algumas parcerias para colocar uma antena em cada comunidade. Porque na escola nós temos, por mais que ela seja um pouco fraca. O problema é a comunidade onde a escola está localizada, o aluno que mora perto, poderia ter esse acesso da escola. Porém, são os alunos que moram muito distante que não vão ter acesso, mesmo colocando na comunidade onde a escola está inserida”.
Segundo a secretária, a maior preocupação no momento é com a saúde, mas que não está se negligenciando a aprendizagem. “A preocupação nossa com aprendizagem dos alunos vem desde que nós entramos aqui. Temos em mente alguns projetos, mas a gente também gostaria de sentar com os professores e fazer esse planejamento com os professores. No momento que a gente puder voltar às aulas presenciais, com todos os alunos, a gente vai ter que fazer uma avaliação diagnóstica, para ver o nível que se encontra cada turma, cada aluno e então em cima disso, propor e buscar sugestões com os professores para recuperar essa aprendizagem. Sabemos que nós podemos ter mil projetos, mas que se não for o professor na sala de aula e trabalhar com o aluno, não vamos ter sucesso. Eu acredito que a preocupação não é só nossa, não é só da coordenação pedagógica, a preocupação é dos pais e principalmente dos professores”.
Saúde x aprendizagem
A diretora do Centro de Educação Municipal (CEM), Elenice Geraldo Dexheimer, argumenta que a suspensão das aulas é necessária, devendo-se levar em conta a saúde, mas da mesma forma ela mostra preocupação com a aprendizagem dos alunos. “Acredito que a Administração Municipal está sendo orientada por técnicos da área da saúde para tomar tais decisões, entretanto, pedagogicamente falando, isso causa um desequilíbrio pedagógico. Quando falo isso, estou me referindo à rotina escolar que estava se instaurando novamente, tanto para os profissionais da educação como para os estudantes, e isso se compromete novamente. Mas, por outro lado, compreendo e reforço a importância do distanciamento social, principalmente agora, momento em que o município vem tendo um aumento de casos de coronavírus. Estamos vivendo um momento peculiar, ao qual jamais imaginávamos viver, porém, precisamos compreender que para tudo há dois lados, e ambos precisam ser avaliados, com sabedoria, comprometimento ético/moral e técnico”.
Ela complementa: “Quanto à aprendizagem, a situação é preocupante, como mencionei anteriormente estamos vivendo um momento que nos leva a reinvenção constante, e as mudanças ocorrem quase que na velocidade da luz. No entanto, observo estudantes cansados e desmotivados, e famílias que também sentem este cansaço e desmotivação em relação à educação/aprendizagem de seus filhos, pois para compreender como ocorre o processo de ensino e aprendizagem, as famílias necessitariam ter uma compreensão técnica dos aspectos pedagógicos que envolvem todo o processo de ensino e como de fato motivar uma criança para que ela aprenda. Não quero dizer com isso que os pais não saibam ensinar algo a seus filhos, apenas quero dizer que lhes falta compreensão técnica dos aspectos que envolvem os processos pedagógicos de ensino e aprendizagem. Não desmereço de forma alguma a função da família neste processo, porém isso é função da escola, juntamente com seus professores, e aliados às famílias, exatamente nesta ordem”.
A diretora fala também das dificuldades enfrentadas nesse período. “A maior dificuldade encontrada, posso dizer que se resume na motivação, tanto das famílias quanto dos estudantes, e isso infelizmente compromete todo o processo pedagógico de ensino e aprendizagem. Infelizmente vivemos em uma sociedade imensamente capitalista, e a educação não é vista por muitas famílias como um investimento futuro, e aí acabam deixando de motivar seus filhos a estudarem. Muitas pessoas também não possuem uma compreensão clara da importância pessoal e social que a educação escolar possui”.