Família Teló abandona a avicultura após prejuízos ocasionados pela falta de energia
A má qualidade da energia elétrica fornecida pela RGE na zona rural de Anta Gorda tem inviabilizado diversas culturas, sendo os criadores de aves uns dos mais prejudicados. As frequentes oscilações de tensão e as quedas no fornecimento têm causado sérios prejuízos, com perda de equipamentos e baixa na produção.
Com a climatização sem funcionar, as temperaturas próximas ou superiores a 40°C causam a morte de plantéis de aves. Tal motivo tem levado os produtores a abandonarem as atividades diante dos elevados danos causados. O casal morador da Linha Cabral, interior de Anta Gorda, Antoninho e Tereza Teló, contabiliza mais de R$ 30 mil em prejuízos somente no último lote de aves, que morreram sufocadas. O episódio foi registrado no dia 24 de janeiro, seguindo nos dois dias posteriores.
Tereza relata os momentos de desespero vivenciados por ela no momento da queda de energia, que em alguns locais do município chegou a levar 120 horas para ser reestabelecida. “Eu estava sozinha em casa, pois meu marido há mais de dois anos viaja para Lajeado três vezes por semana para fazer hemodiálise. Foi um pânico, eu me desesperei, chorei”, lembra ela.
Das cerca de 17 mil aves do lote, poucas sobreviveram. “Ainda que meu cunhado, ao saber que eu estava sozinha e que estava sem luz, se preocupou em vir ver como estava a situação. Chegando aqui eu disse a ele que não tinha mais nem coragem de voltar no aviário, eu estava em desespero. Ele então foi para casa, buscou a esposa e vieram me ajudar. Caminhávamos em cima dos frangos mortos, tirávamos um vivo aqui, outro vivo lá, mas eram poucos, e nada de a luz voltar. Eu não sabia se eu recolhia as aves, se eu fugia, eu não sabia o que fazer. É uma situação que deixa a gente doente”, conta Tereza.
Ela atribui à RGE a falta de organização e de responsabilidade, tendo em vista que Anta Gorda é um dos municípios mais desassistidos pela concessionária. “É triste. Nos tornamos empregados sem carteira assinada, sem apoio de ninguém. A instabilidade na energia nos deixa sempre sem segurança e sem a liberdade de podermos sair, pois as quedas acontecem constantemente. Pagamos a conta de energia em dia, caso contrário a RGE corta, mas direitos nunca temos. Alguém tem que tomar uma providência, afinal, é de responsabilidade da RGE arrumar os postes e fazer as podas antes que essas coisas aconteçam. Ela não tem feito esse trabalho de prevenção”, lamenta.
No total, foram 2,6 mil frangos mortos, com uma média de 3,6 quilos cada. O lote seria carregado no dia posterior ao ocorrido. “Os frangos ficavam em média 42 dias aqui no aviário, porém, neste último lote, a carga foi adiada para 50 dias em razão de problemas técnicos no frigorífico e, um dia antes de as aves serem carregadas, faltou energia”, conta Tereza, com os olhos cheios de lágrimas. “Estamos revoltados, e quem fica prejudicado somos nós. Ninguém se preocupa pelo fato de vivermos disso e ninguém toma uma providência. Além da morte das aves, as quedas de energia fazem queimar os aparelhos, pois quando a luz vem com menos potência os ventiladores não conseguem dar o giro, começam a ligar e desligar e acabam queimando. Enfim, só temos tido prejuízos com a RGE”, acrescenta ao destacar que nem mesmo as ligações têm sido atendidas na central.
“Estamos entregando os pontos”
Teló tem 70 anos, Tereza, 71. Casados há 48 anos, eles deram início à avicultura logo após a união, ou seja, já dedicam mais da metade de suas vidas, 24 horas por dia, com zelo e dedicação, para essa atividade. “Na verdade, eu comecei com dez anos trabalhar com meu pai na avicultura, mas depois paramos. Em 1973, construímos o primeiro aviário na Linha Quarta. Fomos os primeiros criadores de aves do município. Em 1974, eu e Tereza nos casamos e fomos tocando a atividade”, recorda Teló.
“Na época, investi cerca de R$ 200 mil na construção desse aviário. Caso fosse construído hoje, ele custaria mais do dobro. Lembro que comprei um mato com eucaliptos em pé para fazer as torras para a construção. Foram 18 cargas. Olhando para trás, sinto orgulho de ter feito o que fiz. Esse aviário era o melhor da região quando foi inaugurado. Todos os técnicos vieram prestigiar, porque era muito bem feito. É um aviário para durar cem anos. A estrutura dele é toda de ferro e concreto, e é coberto de telhas”, destaca.
Porém o orgulho e a vontade de trabalhar foram por água abaixo diante do último episódio de falta de energia. “Estamos pagando para trabalhar. Esse último lote nos deu muito prejuízo. Foram mais de dez mil quilos de aves mortas, sem luz, sem comida e sufocadas, fora que as que sobreviveram perderam cerca de 300 gramas nos últimos dois dias”, conta Teló, chorando.
Isso fez com que Teló e Tereza decidissem recentemente abandonar a atividade, deixar de lado os 48 anos de história e de árduo trabalho e dedicação. “O coração doía ao ver a prefeitura fazendo os buracos com a retroescavadeira para enterrarmos as aves, e com essa inconstância da falta de energia fornecida pela RGE, não nos sentimos mais seguros em dar continuidade a esse trabalho e muito menos de investir na propriedade. Estamos entregando os pontos, e os prejuízos causados pela falta de energia é o único motivo”, destaca.
O casal, que tem quatro filhos, atuava sozinho na propriedade. “E amávamos o que fazíamos. Porém a RGE não cumpre com a sua função e não nos deixou alternativa. Só para constar, tinha dois postes podres na Linha Viena e, mesmo as pessoas pedindo, eles não trocavam. Os fios estavam segurando os postes. Esperaram acontecer o que aconteceu para arrumarem, porém já é tarde demais”, encerrou Teló.