Maior Operação da história realizada na região apreende mais de R$ 10,4 milhões da Facção
A ação contou com a participação de 200 policiais, entre civis e militares que miraram o coração financeiro do grupo
Na manhã da quinta-feira, 17 de agosto, a Polícia Civil, por intermédio da Delegacia Regional de Soledade, sob coordenação da delegada regional Fabiane Bittencourt, cumpriu a segunda etapa da Operação Monopólio. A ação teve apoio de delegacias de Cruz Alta, Passo Fundo, Santa Cruz, Ijuí e Carazinho, Brigada Militar e Corpo de Bombeiros.
Participaram da operação, que ocorreu nas cidades de Soledade, Arvorezinha, Fontoura Xavier e Lagoão, um efetivo de 120 policiais civis (inclusive com suporte do grupamento aéreo), 80 policiais militares e dois bombeiros militares (que estiveram à disposição para pronto atendimento caso houvessem confrontos). Na operação, foram cumpridos 32 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva, bloqueio de contas bancárias, e a indisponibilidade de bens imóveis e veículos que ultrapassam o valor de R$ 10,4 milhões. Os presos foram encaminhados para Soledade.
A Operação Monopólio foi deflagrada em 2021, sendo que as investigações se estenderam por mais de dois anos, até ocorrer a segunda fase. O objetivo da ação é combater uma organização criminosa atuante na região de Soledade, que se utiliza do tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. A facção, segundo a polícia, age de forma complexa e elaborada. A lavagem de dinheiro era realizada através de diversas práticas criminosas, dentre elas a utilização de contas de “laranjas” para armazenar e transferir grandes volumes financeiros, envolvimento de terceiros que guardam dinheiro em espécie, utilização de empresas “de fachada” e de empresas “fantasmas”, além de compras reais e simuladas de bens móveis e imóveis.
Dentre as empresas “de fachada”, há vários segmentos: revenda de veículos, barbearia, mercado e boate. Também foram identificadas diversas empresas “fantasmas” como locadora de veículos, revenda de produtos de limpeza, comércio de produtos esportivos e supermercado. Inclusive, eram negociados cavalos de raça em transações para ocultação de patrimônio.
Conforme a polícia, os criminosos utilizavam uma técnica denominada “reverse flips”, que consiste em simular a valorização ou lucro a partir de venda de bens móveis ou imóveis. Eram adquiridos imóveis com preços muito abaixo de seu valor de mercado, de usuários de drogas, buscando esconder a origem ilícita do dinheiro no suposto lucro da venda.
A investigação logrou êxito em identificar dois líderes, três operadores que coordenavam o esquema de lavagem de capitais, 14 integrantes que atuavam como “laranjas” ou em outras atividades relacionadas e, por fim, 13 pessoas jurídicas atuantes na facção. Um advogado era o principal operador financeiro no esquema de lavagem. Ele advogava em favor dos membros da facção, recebendo valores mensalmente por seus honorários. Servidores públicos também participavam do esquema, como “laranjas”.
“Foi a maior operação que já realizamos na história de Soledade”, diz delegada
A delegada Fabiane Bittencourt, ressalta que o objetivo principal da operação foi desarticular financeiramente uma das maiores organizações criminosas de Soledade. “E para isso contamos com um mega estrutura. É uma investigação que envolve milhares de páginas, provas e documentações coletadas”, frisou.
Ela recorda que na Operação Monopólio I, em 2021, 23 pessoas foram presas. “Mas percebemos que não adiantava mais bater encima apenas do tráfico de drogas, pois embora fizemos uma grande operação e prendêssemos inúmeras pessoas, no outro dia o tráfico continuaria a ocorrer normalmente. Então, começamos a pensar num trabalho mais aprofundado para conseguir aniquilar de vez a organização criminosa. Passamos a desenvolver um trabalho relacionado ao crime de lavagem de dinheiro que se direcionou para dois anos de investigação técnica, a qual foi processada em Porto Alegre pela Vara de Lavagem de Dinheiro, e culminou na apreensão de R$ 10,4 milhões em patrimônio de pessoas que nunca trabalharam na vida. Estimamos que a movimentação tenha sido muito maior, cerca de R$ 20 milhões no decorrer da investigação”, destacou.
A autoridade ainda dá mais detalhes sobre os imóveis apreendidos/bloqueados. “Foram oito no Bairro Fontes, nove no Bairro Botucaraí e um no Bairro Missões em Soledade; um imóvel em Arvorezinha e um em Lagoão. São imóveis que na maioria não se encontram em nome dos reais proprietários. Também tivemos mais de 30 veículos apreendidos, armas, telefones, computadores e focamos principalmente em apreender documentos que reforcem as provas que já temos em relação ao gerenciamento financeiro dessa organização”, revela. “Essa foi a maior operação que já realizamos na história de Soledade, pois o foco foi a questão financeira. Inclusive, parte desses valores, futuramente, após o tramite do processo, devem ser revertidos para a polícia local. Cumprimos a operação com êxito total”, comemora.
Em relação às prisões preventivas, a delegada ressalta que das quatro decretadas, apenas três indivíduos foram presos. “Temos um dos indivíduos que ainda não foi localizado, que está com mandado em aberto”, pontua ao acrescentar: “Embora sejam mais de 30 investigados, esses quatro indivíduos com prisão decretada eram os principais articuladores da organização criminosa e atuantes no esquema de lavagem de dinheiro. Temos pai e filho, sendo que o pai ficava com o gerenciamento de Soledade e Arvorezinha e o filho assumiu Fontoura Xavier e Barros Cassal; um advogado e seu irmão que é proprietário de uma revenda de automóveis que teve uma participação bastante considerável na organização criminosa. Inclusive, a maior parte dos veículos que estavam nessa revenda foram apreendidos”, relata Fabiane. Ela destaca que em relação ao advogado, durante todo o procedimento foi seguido o estatuto da OAB e conferidas todas as prerrogativas inerentes ao cargo.
Ela segue: “Alguns dos indivíduos presos já haviam sido detidos em inúmeras operações e continuavam atuando na traficância, muitas vezes, de dentro do presídio e coordenando execuções, o que não é aceitável. Por isso, trabalhamos para tirar deles todo o patrimônio auferido com o tráfico de drogas. Desta vez esperamos que essas pessoas cessem a atividade criminosa justamente pela incapacidade de atuação”, declarou.
A delegada declara ainda que a organização criminosa é veiculada à facção “Os Manos”. “Faz parte de uma ala dessa facção. Era o maior grupo criminoso dos Manos que comandava a região”, frisou ao ressaltar que o crime de lavagem de dinheiro tem um apenamento alto.
Em Arvorezinha foram cumpridos três mandados de busca. “Tivemos um imóvel apreendido e muitas pessoas envolvidas. Inclusive essa organização criminosa é responsável por toda a traficância de Arvorezinha, por diversos homicídios”, explanou a delegada. “Já em Fontoura Xavier, tivemos um ponto de busca e os integrantes dessa organização também coordenavam a traficância naquele município”, salientou.
Questionada sobre o que acontece com os “laranjas”, que emprestavam seus nomes, Fabiane destaca: “Se a pessoa for usada sem ter conhecimento, ela não faz parte da organização, mas no momento que empresta o nome de livre vontade e sabe daquilo que é realizado, tem participação e será responsabilizada também”, declarou.
As instigações, segundo ela, seguem ainda por no mínimo seis meses, com a segunda parte que diz respeito à analise de documentação que ainda será recebida em relação às movimentações financeiras realizadas por essa organização.
Brigada militar reforça a importância do trabalho integrado
O tenente coronel Cilon, da Brigada Militar, explanou sobre a operação. “Estamos aqui celebrando a vitória das ações integradas policiais que têm trazido ótimos frutos não apenas em Soledade, mas em todo o Estado. É um trabalho que só tende a crescer, pois mais ferramentas estão sendo adicionadas”, disse.
Já o tenente coronel Navarro, ressaltou: “Queremos mostrar que a polícia está trabalhando para tentar diminuir o tráfico de drogas. A tropa de choque tem cada vez mais sido acionada para participar dessas operações. Estamos aqui para buscar uma sociedade melhor e mostrar que o crime não compensa de forma alguma”, pontuou.
Olho
“Focamos no lado financeiro da facção para tentar aniquilá-la, pois na Monopólio II prendemos 23 pessoas, e essas continuaram coordenando o tráfico e ordenando prisões de dentro do Presídio, então compreendemos que seu poder está no dinheiro e trabalhamos duro para obter este resultado de hoje”, declarou a Delegada Fabiana.