Médica e secretário da Agricultura alertam quanto ao fenômeno
A semana começou com temperaturas mínimas, em torno de três graus, na região. O vento gelado tem predominado, o que resultou numa semana fria, chuvosa e com pouca variação térmica.
Fenômeno El Niño está de volta
O fenômeno EL Niño está de volta ao Oceano Pacífico após anos, mas isso já era esperado desde o ano passado pela MetSul, quando os modelos de clima começaram a indicar um acentuado aquecimento das águas na faixa equatorial do Pacífico. Essa previsão foi feita oficialmente pela Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA). O El Niño ocorre depois de três anos seguidos de La Niña, a qual chegou ao fim em fevereiro deste ano, e foi esta a responsável por anos seguidos de estiagem no Sul do Brasil.
O trimestre climatológico de inverno que ocorre nos meses de junho a agosto, se dará com a presença do fenômeno El Niño. Durante esse fenômeno, os ventos enfraquecem e a água quente é empurrada para Leste, em direção à costa Oeste das Américas, mais especificamente no Peru e Equador.
Existem dois tipos principais de El Niño: o costeiro e o clássico (canônico). O El Niño na sua forma clássica é marcado por um aquecimento mais abrangente na faixa equatorial do Pacífico e suas consequências são globais. A última vez que o trimestre de inverno (junho a agosto) teve anomalias de temperatura do mar em padrão de El Niño foi em 2015, quando começou o Super El Niño do biênio 2015/2016. O trimestre teve chuva acima da média em grande parte do Sul do Brasil.
O fenômeno altera o clima no mundo inteiro. Nenhum continente escapa aos seus efeitos. Em algumas áreas, o fenômeno exacerba o risco de secas e em outras o de excesso de chuva. O mesmo ocorre com a temperatura, com mais ou menos frio. No Brasil o fenômeno reduz a chuva na Amazônia Legal, sobretudo no Norte e no Leste da região e diminui também as precipitações na maior parte do Nordeste, com a seca e temperatura muito alta. No Sudeste e Sul da região Centro-Oeste a influência na chuva é mais variável, mas a temperatura tende a ficar acima da média. No Sul, o aumento da chuva, com extremos de precipitações, cheias e enchentes, não deixa de fazer frio, mas as estações tendem a ser mais quentes.
Como o El Niño e o inverno impactam na saúde
No Rio Grande do Sul, verões de El Niño são mais quentes e úmidos. Isso pode turbinar a dengue, pois o clima mais quente e úmido é perfeito para uma maior proliferação de mosquitos, mas essa é apenas uma das problemáticas. A médica Letícia Araújo Rosa, que possui consultório no Hospital São João, em Arvorezinha, ressalta que alguns vírus precisam de um ambiente frio para se proliferarem mais.
“Não só em razão do fenômeno, mas no inverno em si nós temos a tendência de estar mais tempo em ambientes fechados devido ao frio e entra pouca luz do sol nas residências, por isso, elas tendem a ficar úmidas. Com isso, além dos vírus, temos fungos e bactérias, que vão se proliferar mais. Quem tem doenças como rinite, sinusite, bronquite e asma, tem a tendência de exacerbá-las nesse período”, alerta, ao ressaltar que existem medidas medicamentosas para auxiliar na prevenção. “Em caso de resfriado é importante sempre procurar uma orientação médica para tratar de forma adequada”, salientou.
Segundo a profissional, em relação às medidas não medicamentosas para fugir das doenças respiratórias nesse inverno estão: manter o organismo hidratado; evitar fumar ou se expor a ambientes com muita poeira ou fumaça; manter o ambiente arejado (as bactérias ficam concentradas em ambientes fechados); evitar o contato com pessoas gripadas ou com resfriados, pois essas doenças são adquiridas pelo ar; manter a respiração sempre pelo nariz e não pela boca, pois as narinas têm a função de filtrar o ar e aquecê-lo; lençóis, edredons e roupas devem ser expostos ao sol e lavados sempre que necessário; as pessoas que já possuem problemas respiratórios devem evitar o contato com bichos de pelúcia, tapetes e produtos que possuem pelos; a alimentação deve ser balanceada com sopas e caldos ricos em verduras e legumes. As frutas são essenciais, principalmente aquelas que contêm vitamina C, como a laranja, pois ajudam a prevenir gripes e resfriados.
A médica ressalta ainda um maior cuidado em relação às pessoas idosas. “Com o frio nós temos o fenômeno da vasoconstrição. Nossas veias tendem a fazer isso, diminuindo a passagem do sangue. Pessoas idosas, com problemas de pressão alta, problemas cardíacos e diabetes, têm que estar em dia com seu cardiologista e manter sempre os pés bem aquecidos, caso contrário, o coração tem que trabalhar dobrado para aquecer esse membro periférico. Isso pode aumentar risco de doenças cardiovasculares, ou mesmo, torná-las mais graves”, frisou. Quanto às crianças, conforme ela, ainda têm seu sistema imune em formação, por isso também merecem atenção dobrada.
Letícia ressalta ainda que o El Niño é caracterizado por uma semana úmida e uma semana muito seca. “Na semana úmida nós temos uma quantidade enorme de germes e microrganismos que vão estar dentro das casas e na atmosfera em si. O ar fica mais pesado”, disse. “Na semana seca o líquido que era para ser produzido nas glândulas sudoríparas vão estar produzindo calor. É como se diminuíssem nossos agentes protetores”, explica.
“Além das doenças respiratórias e cardiovasculares estarem exacerbadas, é importante fazer um check-up junto ao médico, manter aquecidos pés e mãos, proteger cabeça, tórax e pulmões do frio. Se aquecermos nosso corpo com roupas, nosso corpo precisará trabalhar menos na produção de calor e vai poder trabalhar mais nas funções normais, bem como na função imunológica de proteção contra os microorganismos invasores. Uma dica válida é o uso das máscaras nessa época”, salientou.
A saúde mental também merece atenção, de acordo com a profissional. “O inverno é uma época que tende a aumentar as doenças psíquicas, pois temos menos luz, os dias são menores, as pessoas tendem a se recolher mais, diminui o convívio social, as pessoas tendem a ficar mais em casa, diminuem o ritmo de atividades físicas, a alimentação fica mais pesada, se diminui a ingestão de líquidos, frutas e verduras. Se a pessoa não estiver se sentindo bem que procure seu médico, um grupo de ajuda, uma terapia. E que procure um hobby para se dedicar a fim de ocupar a mente. Me coloco à disposição, para tirar dúvidas e ajudar”, encerrou.
Efeitos do El Niño na agricultura
O Rio Grande do Sul por ser um estado predominante agrícola, depende muito de chuva, porém, nem sempre anos de El Niño registram aumento da produtividade de milho e soja, culturas as quais foram bem castigadas pela La Niña entre 2020 e 2023. Por outro lado, cresce o risco de pragas pelo tempo mais úmido. O arroz, por exemplo, com mais chuva e menor insolação, tem anos menos favoráveis sob o fenômeno. Já o excesso de chuva e menos frio na primavera podem ser prejudiciais ao trigo.
O secretário de Agricultura do município de Ilópolis, Jurandir Marques, explana sobre os impactos que o El Niño causa na agricultura, principalmente na erva-mate. “A erva-mate é uma cultura perene e com isso tem uma resistência maior, mas também tem perda. Como consequência das estiagens dos últimos anos, agora, na colheita da erva-mate, estamos observando uma queda na rentabilidade e na produtividade. Em torno de 40% a menos está pesando a folha da erva-mate”, conta.
E segue: “Todo o efeito da natureza vai causar um prejuízo ou um acréscimo para os produtores ou para as culturas que precisam de determinadas horas de frio, determinadas horas de calor e determinadas quantidades de água para se tornarem plantas saudáveis e com potencial de produtividade em 100%. Quando algum fenômeno da natureza acontece é claro que a planta sente, faz as suas reservas e muda seu metabolismo. Isso causa um decréscimo na produtividade e às vezes até na qualidade”, avalia.