InícioDestaqueMesmo com produção modesta, erva-mate mantém economia girando

Mesmo com produção modesta, erva-mate mantém economia girando

 

Com dedicação e amor à terra, produtor rural mostra que a cultura ainda é símbolo de resistência e prosperidade.

Por Oneide Marcos

Enquanto municípios tradicionalmente produtores de erva-mate como Arvorezinha, Ilópolis, Fontoura Xavier e Anta Gorda se destacam com grandes volumes e estruturas robustas, em Nova Alvorada, a produção é mais modesta. No entanto, ela segue viva e pulsante graças à paixão e persistência de produtores como João Wanderley Portela Bageston.

Com aproximadamente 20 hectares cultivados, João é referência na região de Linha Marmeleiro. Seu compromisso com a cultura da erva-mate vai além da produtividade: é um legado de família e uma forma de manter a economia local em movimento.

“Minha história com a erva-mate começou com meu pai. Ele já trabalhava com isso, e eu praticamente nasci no meio do erval. Trabalhei 17 anos e meio na prefeitura e, quando me aposentei, voltei para a atividade”, conta o produtor, orgulhoso.

Orgulho e resistência

A cultura da erva-mate exige esforço braçal e muita dedicação. Mesmo enfrentando desafios como os altos custos de insumos e a falta de mão de obra jovem, Portela mantém o entusiasmo. “Hoje, ser produtor de erva-mate é um orgulho para mim. É uma planta nativa, parte da história do nosso Rio Grande do Sul. Já são mais de 30 anos lidando com ela”, afirma.

A produção da propriedade gira em torno de 25 mil arrobas por ano. Para João, mesmo com o preço defasado da matéria-prima, a erva-mate ainda é um negócio mais lucrativo do que muitas lavouras convencionais. “Se tu comparares um hectare de erva-mate com um de soja, a erva ainda dá o dobro de retorno. Claro, é tudo no braço, diferente da soja que é mecanizada. Mas, para o pequeno produtor, não tem negócio melhor”, explica.

Apoio técnico e dedicação

O produtor também destaca a importância do conhecimento técnico e da assistência especializada. “Eu sempre busco apoio com a Emater. Nosso técnico Romeu Deon me dá muita assistência. Já ganhei 50 mil quilos de calcário por incentivo da prefeitura. E se tu não trabalhares com técnica, não adianta, porque hoje tudo muda muito rápido”, comenta Portela, sabendo da importância do conhecimento.

Ele conta que utiliza adubos de marcas consagradas, mantendo contato com profissionais renomados da área, como Jurandir Marques e Evandro Barreto de Melo, nomes importantes no fomento da cultura na região.

Sucessão e mão de obra: os principais desafios

Apesar da produção exemplar, a sucessão familiar e a escassez de mão de obra preocupam. “Hoje em dia não tem jovem na roça. Minha equipe de colheita tem cinco ou seis pessoas, tudo gente de idade. Os filhos estão nas firmas, ninguém quer saber de erva-mate”, lamenta.

Por sorte, o produtor conta com o apoio da ervateira Bernardon, que compra a produção e fornece a equipe para a colheita. “Eles mandam uma caminhonete com cinco ou seis peões e fazem tudo. Isso me ajuda muito, porque hoje achar quem tire erva não é fácil.”

Parceria de décadas

Outro pilar essencial da produção é João Batista, morador nas terras do produtor, parceiro de longa data e verdadeiro braço direito na lida. “A parceria com o João Batista já dura mais de 40 anos. Ele é meu xará e meu companheiro de todas as horas. Quando eu falto um dia na roça, ele já liga preocupado. Se não fosse ele, eu já teria parado. Confio cegamente nele”, emociona-se.

Futuro promissor

Mesmo diante das dificuldades, o agricultor mantém a esperança e segue investindo. “Todo ano eu planto de duas a três mil mudas novas. Enquanto eu viver, vou investir na erva-mate. Acredito que ainda vamos ganhar dinheiro com isso, especialmente se houver mais incentivo do governo.”

Ele acredita que a cultura ainda tem muito a oferecer, inclusive no mercado internacional. “A nossa erva-mate é uma das melhores do mundo. Hoje, além de Argentina, Uruguai e Paraguai, a Europa também está descobrindo as qualidades da erva pra outras funções”, explica.

A história do produtor nova-alvoradense é um exemplo de como, mesmo com limitações estruturais, a tradição e o amor pelo cultivo da terra podem manter viva uma atividade importante para a identidade e economia do sul do Brasil, gerando emprego e renda, além de preservar a própria história familiar.

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