Cultura local é feita de miscigenação de diversos povos e culturas que vieram para a região ao longo dos séculos
Por Jaqueline Merlin
Além dos imigrantes italianos e afro-brasileiros, a formação e desenvolvimento de Arvorezinha também teve a contribuição de imigrantes alemães e espanhóis.
O projeto “Povos de Arvorezinha” destaca a vinda e a contribuição dos imigrantes alemães e espanhóis para a região e justifica-se diante da necessidade de salvaguardar a história de Arvorezinha, promovendo o resgate e registro intercultural da sociedade local. Através deste resgate, buscou-se desenvolver mecanismos que auxiliem no conhecimento e na proteção dos registros, apontando as diferenças que identificam cada etnia, seja na religiosidade, nos usos e costumes, no trabalho, na gastronomia, no lazer, nas habitações, valorizando o ser e o fazer cultural, protegendo os saberes e a história.
Para que a produtora R2C Comunicação e Marketing realizasse a produção do audiovisual, foi imprescindível a colaboração e apoio da Administração Municipal, do financiamento da Lei Paulo Gustavo, com recursos obtidos através do Ministério da Cultura e dos depoentes, Ítalo Pedro Auler, Ernesto Lampert e Décio Bozzetto.
O audiovisual está disponível em meio digital, através das plataformas oficiais do Município e da produtora responsável pelo projeto. Ao Município foi disponibilizado meio físico para divulgação das pesquisas realizadas, em salas de audiovisuais, escolas, organizações e outros, ficando também disponível nas mídias sociais, de forma aberta, gratuita e irrestrita.
Para ter acesso ao riquíssimo material que faz parte de nossa cultura local, os interessados podem acessar as páginas das redes sociais da Agyle Produtora.
A história dos imigrantes alemães e espanhóis
Alemães
Foi por volta de 1900 que desbravadores, imigrantes em busca de desenvolvimento em sua maioria (italianos, portugueses, afro-brasileiros e alemães e alguns espanhóis) chegaram a estas terras com uma grande vontade de progredir. Na bagagem, trouxeram a fé, os costumes e as tradições que se mesclaram e formaram a rica cultura local.
Por entre morros, vales e planícies, surgiu a localidade do Alto da Figueira, hoje município de Arvorezinha, a 750 metros acima do nível do mar, com uma superfície de 577 km², onde os desbravadores encontraram as principais riquezas econômicas da região em meio às matas nativas, araucárias e erva-mate.
A possibilidade de criar um novo potencial econômico, aliada à coragem, ao trabalho, à competência para os negócios e ao espírito empreendedor, trouxe os imigrantes alemães, como, por exemplo, as famílias Auler e Scheffer.
Espanhóis
Durante o período colonial, o Tratado de Tordesilhas estabeleceu o Rio Grande do Sul como parte do território espanhol. A Companhia de Jesus buscou catequizar os habitantes da América do Sul e proteger os interesses da Espanha, fundando Reduções. A região do Planalto Médio foi povoada por exploradores, bandeirantes e tropeiros, com destaque para as Reduções de São Carlos do Caapi e Santa Tereza, nos arredores de Passo Fundo e Carazinho. Conforme relatos de pesquisadores, no Campo Bonito, próximo à Itapuca, foram encontrados vestígios do início de uma Redução chamada Vitória.
No entanto, os bandeirantes destruíram as reduções em busca de escravos, deixando para trás o gado vacum que se reproduziu pelos campos e atraiu expedições em busca de rebanhos e de erva-mate, nos séculos seguintes.
Impulsionada pelo tropeirismo, a região foi habitada por remanescentes destes povos. A agricultura de subsistência, a atividade extrativista e a pecuária foram atrativas para a migração europeia (alemães e italianos) no século XIX, seguidos de outras nacionalidades, como os espanhóis.
Arvorezinha está situada no Alto do Vale do Taquari, entre as regiões da Serra e do Planalto Médio, tendo em sua população traços e influências destes colonizadores.
Os espanhóis, apesar de serem o terceiro grupo maior de imigrantes, chegaram, na maioria, de forma clandestina. Sua assimilação foi tão rápida e natural que se fundiram com a população local sem formar grupos distintos, mas deixaram uma forte influência na cultura gaúcha, como as atitudes cavalheirescas e o espírito bravio; costumes como o uso do sombreiro – chapéu de feltro e abas largas, o barbicacho, o lenço no pescoço, a bombacha, o chiripá, as botas de couro, os ponchos e termos da língua falada principalmente na campanha e nas atividades pastoris.
Na arquitetura, os ladrilhos hidráulicos, originados no final do século XIX e difundidos artesanalmente a partir de Barcelona, exibem influência espanhola e são encontrados em Arvorezinha, adornando construções e ruas da cidade, fruto dessa miscigenação cultural.
Dias, Fonseca, Garcia, Lacerda, Marques, Muniz, Ortiz, Rodrigues, Vieira e Figueira são alguns sobrenomes de origem espanhola, que podem ser identificados em Arvorezinha.
Estes povos, de origem e descendência espanhola, ao longo dos anos foram se mesclando com italianos, afro-brasileiros, alemães, portugueses e outros, formando a população de Arvorezinha.