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“As pessoas precisam tomar vergonha na cara e parar de lesar nosso produtor de leite”

Citação é do deputado e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Produção de Leite na Agricultura Familiar do RS, Capitão Macedo

A Câmara Municipal de Vereadores de Anta Gorda sediou, na tarde desta quarta-feira, 22, uma reunião com produtores de leite do município, integrantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) e da Emater/RS-Ascar, vereadores, prefeito Francisco Frighetto, secretário da Agricultura Junior Maso, e o deputado Capitão Macedo. A pauta do encontro foi a desvalorização do pequeno produtor de leite, comparado ao grande.

O presidente do STR, Delmar Moresco, destacou que a maioria dos países paga o leite pela qualidade, diferente do Brasil onde o preço é pago pela quantidade produzida. “Acho isso muito ruim porque desestimula o pequeno e o médio produtor. O que o mercado está fazendo é uma grande desvalorização, e de ano em ano a perda de produtores é considerável. Fomos na Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS) buscar apoio e discutir o assunto e verificamos que esse problema afeta outros municípios além do nosso. Precisamos começar um movimento para tentar diminuir essa grande diferença de preço entre o pequeno e o grande produtor, que chega a quase R$ 1 por litro, o que é muito injusto”, destacou ele ao ressaltar que a pauta foi levada pelos próprios produtores ao STR e à Secretaria de Agricultura.

Atualmente Anta Gorda conta com 245 produtores de leite, sendo que 30 não comercializam. Em 2019 eram 286 produtores. “Estamos buscando, junto ao STR, trazer cursos gratuitos por meio do Senar para qualificar nossos produtores e consequentemente fazer um bom trabalho na sucessão rural. Queremos que os nossos jovens assumam as propriedades. Tenho certeza que as capacitações irão agregar bastante”, enfatizou o secretário de Agricultura, Junior Maso.

Presentes na reunião, os vereadores Dirceu Sperandio e Volmir Ferrari, também se colocaram em defesa do pequeno produtor. “Para trabalhar com o leite é preciso dedicação, mas atualmente só ganha dinheiro na agricultura quem produz grão e erva-mate”, opinou Sperandio.

Já Ferrari sugeriu algumas mudanças. “O mesmo caminhão que passar recolher leite no grande produtor, na mesma viagem também recolhe do pequeno, ou seja, o pequeno está pagando a conta do grande e além do mais, dentro do caminhão todo o leite é misturado. São coisas que a empresa faz porque tem domínio. Acho que tem que haver leis para isso. Se quiserem recolher um produto por qualidade e outro por quantidade, que separem os caminhões então. A empresa não se dá por conta que hoje está indo bem, vivendo encima do pequeno produtor, mas que amanhã pode ter que pagar só o grande pela produção, e aí vai estourar no consumidor ou os grandes produtores também vão parar de produzir”, disse.

Ferrari, que comercializa ração, destaca que também está sendo afetado com o abandono de atividade dos pequenos produtores. “Já estou notando a diferença. A cada mês um produtor me diz que será a última vez que vai comprar ração, porque no outro não terá mais vacas”, colocou ao acrescentar: “Temos que bater forte contra a importação do leite que entra de outros países com um custo mais baixo e está matando com o nosso”, disse.

 

O que diz o produtor rural

O produtor de leite José Ademar Furlanetto, ressalta que o único produto pago pela quantidade é o leite, diferente da soja milho, erva-mate ou suínos. “Estou ganhando R$ 0,50 menos que um grande produtor. Mas precisamos levar em conta que o pequeno produtor consegue produzir com mais qualidade diferente do grande, que tem maior dificuldade de manter esse controle”, colocou. “Queremos que o deputado abrace essa pauta, pois quero que os produtores permaneçam na atividade e não desistam como eu estou desistindo”, lamentou.

 

“O que interessa é a pauta de quem toca esse país, de quem tem a mão calejada”

O deputado estadual do PSL e presidente da Frente Parlamentar em defesa da Produção de Leite na Agricultura Familiar, Capitão Macedo, além de participar da reunião esteve visitando propriedades para averiguar a realidade dos produtores. “Vamos trabalhar para que essa não seja só mais uma reunião. Vamos trabalhar em prol do produtor, vamos ir atrás e brigar por isso, doa a quem doer. O que interessa é a pauta de quem toca esse país, de quem tem a mão calejada, de quem acorda às 4h da manhã para trabalhar e está tendo dificuldade no seu reconhecimento”, pontuou. “Eu não sou de ficar no ar climatizado do meu gabinete. Eu vou e averiguo pessoalmente a realidade das pessoas”, frisou.

Na ocasião ele explanou sobre o projeto de lei 469/2019, ano em que foi criada a Frente Parlamentar. A proposta, de sua autoria, tem como objetivo obrigar as empresas e cooperativas a informarem antecipadamente aos produtores o preço pago pelo litro de leite no mês subsequente, sob pena de perda de benefícios e isenções fiscais. “Antes de ser deputado eu venho do meio rural. Eu sou pequeno produtor, sou homem da mão calejada e sinto a dor que sentiam meus avós e meus pais vendo a situação de uma classe que está jogada ao destino”, disse ao revelar que a pauta reclamatória do produtor de leite em receber 45 dias após a entrega motivou a Frente Parlamentar.

Conforme o deputado, as reuniões vão continuar acontecendo. “As pautas serão levantadas e cada vez mais se alinha para um desfecho em prol do produtor. Vou continuar lutando por essa classe que sofre muito, que tem que competir com o leite que entra pela fronteira e que não sabemos sequer a origem. Não podemos deixar o pequeno produtor de leite desaparecer, temos que primeiramente discutir a situação do frete que é bastante gritante causando prejuízo ao pequeno produtor. A segunda situação é barrar esse leite importado que entra no Estado com facilidade. Após, temos que executar o que está exposto no meu projeto de lei, e ainda, temos que bater encima da questão do fornecimento de energia elétrica, que é precária. As pessoas precisam tomar vergonha na cara e parar de lesar nosso produtor de leite”, finalizou.

Na última semana a Emater/RS-Ascar divulgou um balanço onde consta que o Rio Grande do Sul deve perder cerca de 50% de seus pequenos produtores de leite nos próximos anos.

Produtor José Furlanetto

 

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