Ovelhas e gados estão sendo atacados por cães de caça
Por Divanei Mussio/Oneide Marcos
Os proprietários rurais, criadores de gado, da região do Campo Bonito, interior de Itapuca, estão há um bom tempo passando por uma situação preocupante e sem solução até o momento. Seus animais, que ficam soltos nos campos, são seguidamente atacados por cães de caça, prática criminosa, que causa prejuízos, ferimentos graves e morte no gado. Os caçadores saem com seus cães para caçar animais silvestres (lebres, tatus, javalis), e os mesmos, acabam invadindo as propriedades, atacando o gado que está dentro dos limites das propriedades.
A delegada Regional de Polícia, Fabiana Bittencourt, explicou o que caracteriza a prática dentro da legislação. “A caça ilegal, é uma prática criminosa que envolve a captura, morte ou perturbação de animais selvagens sem autorização legal. Essa atividade tem impactos devastadores no meio ambiente, na biodiversidade e nas comunidades locais”.
Ela continua descrevendo como os animais são mortos: “os métodos utilizados na caça ilegal, como armadilhas, venenos e armas de fogo, frequentemente causam sofrimento desnecessário e morte dolorosa aos animais”.
No Brasil, a caça a animais silvestres e selvagens é proibida, conforme explica a delegada. “Especialmente quando realizada sem licença ou em áreas protegidas, ou em propriedades particulares em que não haja expressa autorização. Existem leis e regulamentos que regem a caça para proteger a vida selvagem, preservar a biodiversidade e garantir a conservação dos ecossistemas”.
Como resultados da ilegalidade, a ação pode resultar em penalidades severas, incluindo multas, confisco de equipamentos, revogação de licenças de caça e até mesmo prisão em casos graves.
Ao identificar uma situação de caça ilegal, a policial pede que a comunidade acione a Brigada Militar, que fará a verificação da situação e encaminhamento dos autores até a Delegacia de Polícia.
Proprietários não sabem mais o que fazer
Adilson Antônio Cavalini de Oliveira, relata os transtornos que os cães causam à sua propriedade. “Fazem cerca de cinco a seis anos que estamos nos incomodando com os caçadores de javalis; eles entram nas terras sem ordem. Já perdi criação, tem pegadas de cachorros, gastei com veterinário, salvei gados, gastando o valor da criação para não ver o bicho sofrendo. Agora, fazem uns 30 dias, quebraram o cadeado de uma porteira e levaram até a corrente. Não sei o que vamos ter que fazer com esses invasores. Nos finais de semana, vamos ao campo e vemos até três, quatro equipes de caçadores com os cães”, conta, desanimado, sem saber o que fazer.
Outro morador do Campo Bonito, região de criação de gado de forma extensiva, Anderson de Oliveira, também conta sobre os ataques aos seus animais. “Foram dois finais de semanas seguidos que os caçadores apareceram com os cães; quando foram embora, os cachorros ficaram perdidos por aí, matando ovelhas e bois nas redondezas. Temos problemas também, com cachorros largados na estrada e causam danos nas propriedades, e outros, são de moradores aqui da vizinhança que têm seus cães amarrados e quando chove, são soltos e vêm matar as ovelhas”, relata, completando que os cachorros dos caçadores incomodam, mas os dos moradores locais incomodam mais atualmente, visto que a caça na propriedade não é mais permitida. “Nunca ninguém é dono deles”, afirma, referindo-se a questão que, quando há ataques, os donos dos cães não assumem a responsabilidade e não se identificam.
Oliveira, conta que, em 2022 e 2023, perdeu mais de 50 ovelhas nesses ataques. “Tenho fotos de ovelhas atacadas, que nem queremos mais as imagens, de tão feio, de tão machucadas que ficaram. A gente nem pode aproveitar, acaba indo tudo fora e causando muitos prejuízos. Está bem complicado”, lastima o criador.
Ele diz que está pensando em criar apenas algumas ovelhas ao redor da casa e abandonar a criação em campo aberto.
“Não autorizo ninguém a entrar em minha propriedade”. Com esse aviso, Antenor Miguel de Lima Neto, informa que sua propriedade, localizada na região do campo, em Itapuca, também foi alvo de vandalismo cruel com seus animais. “Cachorros desconhecidos atacaram o meu gado, acabando por matar uma terneira e ferir mais quatro animais. Acredito que foram caçadores”.
“A caça ilegal de javalis leva a todo esse transtorno para os criadores”
Outro proprietário da região, o médico veterinário Rodrigo de Oliveira, também tem seus animais atacados pelos cães que circulam entre as propriedades. “Os cães de caça atacaram uma terneira braba, que sob o alto impacto do estresse causado pelo ataque e a liberação do cortisol em excesso, foi a óbito”, relata.
Oliveira, é o veterinário do Município de Itapuca, e atende os criadores de gado de todas as linhas. Ele conta que já atendeu animais que sofreram com os cachorros que se perdem dos caçadores e acabam atacando o que vem pela frente, para se alimentar ou simplesmente matar, seguindo seu instinto de animais treinados para isso. “A caça ilegal de javalis leva a todo esse transtorno para os criadores, para as pessoas de bem, que trabalham para produzir alimentos. Num momento de crise como esse, perder um animal significa perder bastante dinheiro, é perder a rentabilidade da propriedade. Além dos animais que morrem, têm aqueles que não morrem e precisam ser cuidados, tratados, resultando em gastos com medicamentos como antibióticos, anti-inflamatórios e curativos, estimados entre R$ 1.500 e R$ 2.000 por animal, para tentar salvá-lo, o que, às vezes, equivale ao seu valor de venda”.
O veterinário acrescenta que juntamente com os caçadores, estão também abigeatários, receptadores, que levam animais das propriedades, como está sendo relatado por proprietários.
Os animais criados em campo aberto sofrem muito com essas atividades ilegais e criminosas. “Tiros e cachorros causam estresse e sofrimento aos animais; acabam apartando-se uns dos outros, às vezes. O próprio dono deles, corre riscos de tomar um tiro ao se arriscar ir ao campo quando escuta barulho de cachorros e tiros”, alerta Oliveira, que menciona outros problemas que estão acontecendo como cercas cortadas, porteiras abertas, gado perdido e solto nas estradas. “Os caçadores são um problema”, finaliza o veterinário e criador de gado.