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Comunidade se frustra com perfuração de poço

Foram 15 meses de espera até que o Poder Público decidisse investir recursos próprios na perfuração, que ainda não obteve sucesso

Por Rosemary Piccinini

Após aproximadamente 15 meses de espera, a comunidade de Linha Contini, interior de Anta Gorda, ainda não teve resolvida a sua principal demanda: água potável para que em um novo período de estiagem os moradores não venham a sofrer como nos mais recentes, registrados em 2021 e início 2022.

O que mais tem causado indignação, porém, é o fato de que em maio do ano passado, o prefeito Francisco Frighetto anunciava que era necessária a liberação por parte da Funasa, para a perfuração de um novo poço, sendo que o já existente na comunidade não supria mais as necessidades das 15 famílias moradoras. Na época, o Executivo divulgou ainda que, além do da Funasa, outro projeto estava em andamento, este do Governo do Estado por meio da Secretaria de Agricultura, que também estaria aguardando liberação e era necessário esperar.

Longos meses se passaram onde as famílias da comunidade necessitavam de “caridade” do Poder Público (que enviava água da hidráulica municipal), para poder sanar suas necessidades diárias como tomar água, fazer comida, tomar banho, e com o pouco que sobrava tentar salvar os animais. Além do mais, plantações foram perdidas quase que em sua totalidade em razão da grande estiagem. Foram meses de angústia, incertezas e dor, até que finalmente iniciou-se o período chuvoso, trazendo um ar de esperança à comunidade.

E foi então que o Poder Executivo (mesmo inserindo há meses a obra num projeto de financiamento de R$ 3,5 milhões) decidiu que seria possível, sim, perfurar o poço com recursos próprios, vindo ao desencontro do que havia sido dito aos moradores na ocasião em que mais necessitavam.

 

A perfuração

Da fonte de recurso livre da Administração Municipal, foram investidos, conforme dados do Portal da Transparência, R$ 4 mil em estudo de identificação de local para perfuração do poço, por meio de imagens de satélite, cartas do Exército e trabalho de campo e elaboração de termo de referência para a contratação da perfuração a fim de identificar o local mais adequado; R$ 14.064 para a aquisição de bomba submersa trifásica para a manutenção do poço; R$ 457,94 para compra de demais materiais necessários como válvulas e outros; e R$ 25,5 mil para a perfuração do poço, compra de tubo, laje de proteção sanitária, teste de verticalidade e alinhamento do poço, ensaio de bombeamento, coleta e análise física, química e bacteriológica, desinfecção do poço, relatório técnico e outros.

Segundo informações do morador Roberto Ramos, o Executivo iniciou a perfuração do poço na tarde da quinta-feira, 17, seguindo até a tarde da sexta-feira, 18. E mesmo o Poder Executivo tendo investido um valor significativo no estudo da área para posterior perfuração do poço, não foi possível encontrar grande vazão de água, o que frustrou as famílias residentes naquela comunidade.

“Acharam água, mas não chegou a jorrar para cima, que era o que todo mundo esperava. Agora eles querem fazer uma medição para ver quanta água vai sair em 24 horas. O que a prefeitura contratou na licitação era a perfuração de 200 metros de profundidade, pois achava-se que com 150 metros escavados já seria possível encontrar água. Porém, chegaram a perfurar até 228 metros, e não se obteve muito sucesso”, conta Ramos, que procurou o Executivo nesta semana para saber da situação. “Não sei como ficará a situação agora, mas acredito que se não der volume de água suficiente na medição a ser feita, terão que perfurar outro poço. Neste não tem como afundar mais”, disse.

Ramos enfatiza que graças ao período chuvoso, a situação se normalizou. “Hoje a situação da água normalizou para nós, pois choveu, mas temos que estar preparados para a próxima estiagem, que infelizmente sabemos que virá. O próximo poço deve ser perfurado dentro do espaço onde o geólogo veio fazer o estudo, afinal tem o mapa, tem as linhas que ele traçou para perfurar, e tudo mais, além de ter sido investido um bom dinheiro por parte do Poder Público”, avaliou.

Outro morador da comunidade, Mauro Lui, recentemente também manifestou sua indignação quando em janeiro deste ano, há exatos dois meses, concedeu entrevista ao Eco Regional. Segundo ele, logo no início do mandato da atual Administração, representantes da comunidade reuniram-se com o Poder Público para buscar uma solução. “A Administração Municipal prontamente atendeu quando foi chamada, para conosco estudar o que era possível fazer. Havia na época a indicação de três poços a serem perfurados via Estado e o prefeito pediu que um deles fosse na nossa comunidade”, recorda.

De acordo com ele, o Poder Público enviou um projeto para a Câmara de Vereadores, pois de um financiamento de R$ 3,5 milhões, parte seria designada para perfuração do poço na Linha Contini. Em razão da demora para a perfuração, Lui chegou a encaminhar uma licença a fim de fazer a perfuração de um poço particular.

 

O que diz o Legislativo

Um dos vereadores engajados para a solução desta problemática na Linha Contini, Círio Francisco de Freitas, se manifestou quanto à situação do poço que não teve a vazão esperada. “Agora virá novamente o geólogo, será feita a medição, acredito que na semana que vem, para ver se a água será suficiente ou não para abastecer as 15 famílias, se não, será preciso partir para a abertura de outro poço. O que não pode acontecer é a comunidade ficar sem água”, frisou.

Ele segue: “Geralmente o que acontece é que quando se perfura um poço espera-se que a água jorre, mas isso se ela tiver uma grande pressão. O que às vezes pode acontecer é que no subsolo o lençol d’água já esteja abastecendo outro poço, mais distante, e então quando se perfura o segundo poço pode ter água sim, mas ela não vai explodir com aquela pressão”, salienta.

Outro vereador empenhado na causa é Estevão Cauzzi, que inclusive, ao usar a tribuna em outubro do ano passado em sessão ordinária, questionou o financiamento de R$ 3,5 milhões a ser realizado pelo Executivo. “Apresentamos uma emenda para reduzir o montante para R$ 2 milhões, mas esta foi reprovada. Minha preocupação é que esse financiamento de R$ 3,5 milhões acabe com a capacidade financeira do nosso município. Por enquanto temos dinheiro em caixa, mas e daqui uns anos? Ainda, esse financiamento nos impossibilita de fazer outros pelos próximos dez anos”, disse na ocasião.

“A minha preocupação é que estamos votando algo sem audiência pública, sendo que um cidadão que talvez quisesse manifestar sua opinião sobre esse projeto não vai conseguir. O prefeito divulgou que tinha em caixa R$ 6 milhões, será que com esse valor não conseguiríamos comprar a máquina que teria maior necessidade? Será que com esse valor não conseguiríamos perfurar os poços artesianos que sim, são essenciais, afinal água é vida? Lembrando que esse financiamento terá como juros mais de R$ 800 mil”, frisou na época, e hoje reafirma seu posicionamento questionando o porquê o Executivo não fez a perfuração dos poços antes, com o valor que tinha em caixa.

 

Contraponto

O Eco Regional entrou em contato com a Administração Municipal de Anta Gorda questionando o porquê foi investido um valor considerável na contratação de um geólogo e estudo técnico, sendo que poderá ser necessário um novo processo, perfuração e consequentemente novos gastos; e o porquê o Executivo comunicou, meses atrás, que o poço somente poderia ser perfurado após a aprovação de um projeto junto à Funasa ou por meio de um projeto junto à Secretaria de Agricultura do Estado, e quando cessou a estiagem optou por fazer a abertura do poço com recursos próprios, sendo que poderia ter realizado a perfuração muito antes.

Em resposta, a Administração Municipal de Anta Gorda afirmou que se comprometeu a ajudar a encontrar uma solução para a falta de água na comunidade da Linha Contini, sendo feitos vários pedidos de ajuda junto ao Governo do Estado, que dispõe dos equipamentos fazer um novo poço, mas não obteve êxito.

Com isso, e para não haver mais demora em resolver o problema, o Poder Executivo diz ter contratado um geólogo para realizar um estudo técnico para um possível local, onde pudessem encontrar água. A Administração menciona que em seguida foi realizada uma licitação para contratar a empresa que faria o poço propriamente, que executou os serviços nos dias 17 e 18 deste mês.

O Poder Executivo diz ainda que, segundo o operador dos equipamentos, a vazão é baixa, mas para chegar a qualquer conclusão, a empresa que perfurou o poço deverá realizar um teste de vazão de 24h, para cumprir com o que estava previsto no edital do processo licitatório, para somente após a Administração Municipal tomar as devidas decisões.

O Município afirma ainda que recebeu a informação de que o teste de vazão será realizado na semana que vem, mas empresa ainda não soube informar a data.

 

Foto disk 21 – Rose – Pasta: Poço Linha Contini

001 – Morador Roberto Ramos mostra onde o poço foi perfurado

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