Momentos difíceis durante a doença da filha Paola, as orações comunitárias, a fé e a cura: Flávia Salini Spinelli passou por várias provações durante a maternidade e a cura alcançada é bênção e bálsamo em todos os Dias das Mães
Por Jaqueline Merlin
Flávia Salini Spinelli, mãe, esposa (é casada com Renato Panis) e empresária, conta a sua história de superação, vivenciada com toda a família: a doença e a cura da filha Paola.
“A gente tem uma história que acredito que todas as pessoas, em algum momento, se deparam com algo parecido. Nós fomos pegos de surpresa em 2023, que era para ser o ano muito feliz da nossa vida de casal, já que no finalzinho de 2022 nasceu o Lauro, nosso caçulinha, planejado com muito amor”, inicia ela.
Surgimento da família
Flavia descreve como a família foi formada: “a Paola veio de surpresa, a gente não planejou, quando tivemos a notícia de que eu estava grávida, foi uma correria, não estávamos preparados, nós não morávamos juntos, não tínhamos casa, nada. Mas foi a partir dela que tudo começou a tomar forma. Que tudo mudou para melhor”, relembra, emocionada, a jovem mãe.
Antes da chegada do segundo filho, Lauro, ela e o marido Renato ficaram oito anos discutindo e planejando se teriam outro filho, se já estava na hora certa, entre outras questões.
“O planejamento deu certo, assim como todo casal, eu gostaria de poder ter a graça de ter uma menina e um menino, e fui atendida. E aí nasceu o Lauro, dia 19 de dezembro de 2022.”
Nascimento do filho e manifestação da doença da filha
Antes do nascimento do Lauro, a Paola teve uma pontada de pneumonia e precisou fazer umas injeções para combater, porém, o antibiótico via oral não teve o resultado esperado. Logo chegou Natal e chegou 2023.
“A gente começou a se reorganizar, porque mesmo que seja planejado o nascimento de um filho, tudo muda. E a Paola começou com sintomas e a se queixar de dor no peito, ter dificuldades para engolir. Até pensei que ela tivesse desenvolvido uma ansiedade e que estivesse gerando esse desconforto. Levei-a para uma consulta, ela recebeu um tratamento, porém o médico orientou que, se não melhorasse, era para voltar e foi o que aconteceu. Ela foi encaminhada para um gastroenterologista e, dois dias depois da Páscoa de 2023, ela fez uma endoscopia e foi internada, já na UTI. Os médicos se depararam com uma obstrução muito grande no esôfago e aí coletaram vários pedaços para a biópsia e ela ficou na UTI por questão de segurança”, conta a mãe, com a emoção transbordando ao lembrar daqueles dias de apreensão e incertezas.
Dali em diante, começou a batalha. Foram encaminhados a um hospital de Porto Alegre, onde ficaram mais 13 dias internados fazendo exames e ela teve alta sem diagnóstico. Porém, os médicos já tinham quase certeza de que era um câncer que ela estava encarando, mas não conseguiam definir nome para poder tratar. “Então, eles deram alta até em função de ter um neném pequeno, porque ela sentia muita falta do irmão e ele não podia entrar e ver ela. Eles já sabiam que, a partir do momento que tivesse diagnóstico, a internação dela seria maior. No dia 1º de maio, feriado, a gente voltou para Porto Alegre e ela não estava bem”.
O diagnóstico
Flavia sempre pensou ser insubstituível no seu trabalho, na empresa da família; era a primeira a chegar e a última a sair. Seu marido ia para casa com Paola de mãos dadas à noite e ela ficava trabalhando para terminar as atividades. A família tem uma ervateira na comunidade de Pinhal Queimado, interior de Arvorezinha.
Ela segue refletindo sobre aqueles dias. “Eu me tornei mãe a partir do momento em que tive o sentimento de perda e não no momento em que ela nasceu, porque no nascimento, a gente nunca pensa que vai passar por uma situação grave. A lei da vida, é que os filhos percam os pais e não os pais percam seus filhos”.
No dia 3 de maio, foi definido o diagnóstico de Paola: linfoma anaplásico de mediastino não Hodgkin, um câncer muito raro em crianças, comum em pessoas idosas, fumantes e alcoólatras. No hospital que ela se tratou, na capital gaúcha, foi o primeiro caso em criança, sendo considerado bem agressivo e de difícil tratamento.
Olho
Eu me tornei mãe a partir do momento em que tive o sentimento de perda e não no momento em que ela nasceu, porque no nascimento, a gente nunca pensa que vai passar por uma situação grave. A lei da vida, é que os filhos percam os pais e não os pais percam seus filhos”.
Momento mais difícil
Flavia comenta que foram muitos momentos difíceis, mas um em especial: “a situação que mais me marcou e que ainda me emociona, foi quando tive que deixar meu filho pequeno para poder acompanhar a Paola na internação. Até levei a maquininha para tirar leite, para estimular e continuar produzindo para quando chegasse em casa, mas quando voltei, peguei ele e fui para o quarto, para dar de mamar, e ele não quis. Rejeitou o peito. Naquele momento, eu me senti rejeitada como mãe”. O choro, nessa hora do relato, é inevitável.
Flavia também menciona outro momento marcante: a não aceitação do marido da doença da filha, no início. Com o tempo, tudo foi se ajeitando, com muita fé, orações e a medicina.
A fé e o apoio da comunidade
A ajuda da comunidade e dos amigos, foi muito importante no momento difícil que a família enfrentou. “Lembro de que nem na missa de véspera de Dia das Mães, nem de quaisquer outras datas comemorativas, a igreja do Pinhal Queimado encheu como na novena que foi feita pedindo pela saúde da Paola; a nossa comunidade abraçou a causa, em favor de minha filha. Teve muita oração, nós ainda não terminamos de pagar as promessas que o pessoal fez. Nós iremos para Aparecida assim que possível e no ano passado fomos para Santa Catarina pagar uma promessa”, segue contando.
“Tenho muito a agradecer ao padre Felipe Bernardon, uma pessoa muito alegre, muito carismática, que convida, que recepciona, ele chama a gente pelo nome na igreja. Isso levou nós a sermos mais participativos e com uma crença mais forte em Deus”, salienta Flávia.
Mensagem para as Mães
Flavia deixou uma mensagem para todas as mães, dizendo que nem todas vão passar pelo que ela passou; ela recomenda que as mães valorizem o amor, o abraço e aquele pedido de colo do filho. “Então, tire o tempo para os seus filhos, deem atenção no momento em que eles estão pedindo, porque, mais tarde, quando teremos tempo, eles não querem mais colo. A fase deles passou. Então, sejam mães presentes, prestem atenção nos seus filhos, principalmente na saúde deles e na educação”, finaliza, ainda com a emoção tomado conta do peito, com a certeza que a doença e a cura da filha Paola lhe trouxe poderosos ensinamentos na sua jornada como mãe.
Como está a Paola hoje?
“A Paola está curada do câncer!”. É mais uma emoção forte, agora positiva, quando Flavia responde sobre a saúde da filha no momento. A menina segue em acompanhamento, considerada pelos médicos, após os exames, em remissão completa. A doença está, hoje, nas lembranças de um passado recente, e não mais no presente. Esse é o maior presente que a mãe Flavia receberá nesse Dia das Mães.