Por Oneide Marcos
A tranquilidade de quem mora no campo às vezes contrasta dolorosamente com a turbulência enfrentada por ocasião de sucessivas crises. Exemplo disso, é o drama vivido por Fábio Scarci, um jovem produtor de leite de 31 anos, morador de Linha Oitava, interior do município. Após a falência da cooperativa Piá, a família Scarci se viu em meio a um pesadelo financeiro e emocional que abalou suas esperanças e colocou em risco sua subsistência.
Por mais de cinco anos, Fábio, com sua esposa e seus pais, confiou na cooperativa Piá, sediada em Nova Petrópolis, para escoar a produção de leite da propriedade familiar. Sempre pontual em seus pagamentos, a Piá era sinônimo de segurança. Essa estabilidade foi brutalmente interrompida entre abril e maio do ano passado, quando a cooperativa decretou falência, deixando de pagar 45 dias de coleta de leite. O débito acumulado alcançou quase R$ 25 mil, um golpe devastador para as finanças da família.
“Foi um choque. A gente sempre confiou na Piá. Quando eles deixaram de pagar, ficamos sem chão,” relembra Fábio, com um olhar que mistura tristeza e determinação. “Hoje, entregamos leite para outra empresa, com uma média de 300 litros por dia,” explica o jovem produtor, tentando se reerguer. Na propriedade, eles mantêm 15 vacas em lactação e outras 14 novilhas e vacas secas, lutando diariamente contra as adversidades.
A frustração e o desânimo tomaram conta. “Cheguei a pensar em desistir e começar outra profissão. Ficamos sem receber o dinheiro e, além disso, o tempo também não ajudou. As crises sucessivas no setor leiteiro desanimam qualquer um,” desabafa, referindo-se às estiagens entre 2022 e 2023 e às recentes enchentes que devastaram as pastagens. As importações de leite pelo governo adicionaram mais um obstáculo à já complicada situação.
Determinados a buscar justiça, os Scarci entraram com uma ação judicial contra a cooperativa Piá. “Fomos a duas audiências, e em ambas a cooperativa não aceitou acordo. Ganhamos a última audiência, mas a empresa não aceitou negociar e foi para a terceira instância. Agora, aguardamos a decisão final do juiz,” relata Fábio, como ele mesmo diz, “cansado, mas ainda esperançoso”.
“Infelizmente, essa é a vida de quem mora no campo. Nem sempre a força de vontade é suficiente para prosperar. Mas, apesar de todas as dificuldades, seguimos em frente, esperando uma decisão favorável,” conclui o produtor rural, com uma mistura de resiliência e fé.