A família Soligo, moradora da Linha Moquém Baixo, investiu cerca de R$ 750 mil na atividade e lamenta a queda do preço
Mais uma família de produtores antagordenses está prestes a abandonar a atividade leiteira. Moradores da comunidade de Moquém Baixo, o casal Delmir e Lourdes Soligo, o filho Darlei Soligo e a nora Diuly se dedicam exclusivamente ao gado leiteiro, porém não estão satisfeitos com os resultados.
Conforme Darlei Soligo, seus avós e seus pais tinham o plantio fumo como atividade principal. “Eles sempre tiveram umas vaquinhas e com o leite faziam queijo, nata, dentre outros para consumo próprio. Porém, com o passar do tempo, o cenário foi mudando, o leite começou a ser mais valorizado e o fumo começou a ficar inviável, pois o trabalho é 100% manual, exigindo praticamente o ano todo de trabalho, pois quando se acabava uma safra já estava na hora de iniciar a outra, e assim sucessivamente”, disse.
Ele segue destacando que o plantio do fumo foi por anos conciliado com a atividade leiteira. “No começo a atividade leiteira era uma segunda opção, mas como a mesma foi aumentando e tomando espaço, chegamos a um ponto onde não dávamos mais conta de tocar as duas atividades, pois tanto o leite como o fumo exigem muita atenção. Nos últimos anos não estávamos mais encontrando mão de obra para ajudar na colheita do fumo, sendo que todos os anos contratávamos alguém. Além disso, essa cultura estava começando a fazer mal para a nossa saúde”, recorda.
Nesta época, Darlei, estava cursando Administração na UPF Soledade. “Na época o agro estava em alta e era muito mais viável trabalhar em casa do que sair, e também se eu saísse jogaria fora o trabalho de duas gerações, dos meus avós e dos meus pais, parando a sucessão. Por conta deste cenário todo, resolvemos largar do fumo e investir na atividade leiteira. Precisamos fazer muitos investimentos, pois toda a nossa estrutura era já de alguns anos e não proporcionava conforto nem para nós e nem para nossos animais”, ressalta.
Pensando nisto, há um ano a família resolveu apostar pesado no leite onde investiu cerca de R$ 750 mil em um confinamento leiteiro visando aumentar a produtividade, o conforto animal e a qualidade de vida. “Como todo investimento, visávamos um bom retorno financeiro. Tínhamos muitos planos e sonhos, mas não sabíamos o que estava por vir: a maior crise leiteira já vista na história em virtude da grande importação de leite vindo da Argentina. O pior de tudo isso é que se poderia mudar este cenário facilmente, porém, pouco se faz. Nosso governo não está preocupado com o nosso agro ou pelo menos não demonstra estar”, lamenta.
Ele segue: “Estamos no inverno e esta deveria ser a melhor época de preço do leite para nós. No entanto, mês a mês vem decaindo o valor. Neste último mês reduziu mais 20 centavos por litro. Nosso custo de produção é altíssimo e já não está mais dando lucro. Estamos há meses trabalhando no vermelho e nosso investimento infelizmente está se tornando a cada dia mais inviável e não está se pagando. Não sei até aonde isso vai, esperamos urgentemente que este cenário mude, pois deste jeito é impossível continuar na atividade”, frisou.
“Estamos vivenciando um pesadelo”
O produtor conclui: “Estamos vivenciando um pesadelo, onde a cada mês vemos nossos sonhos sendo levados embora e pouco podemos fazer para mudar isso. Esperamos que nossos governos olhem para nós e tomem as possíveis medidas cabíveis para salvar essa classe de trabalhadores, pois deste jeito infelizmente não vamos muito longe. Não está nada fácil, mas vamos seguindo até aonde pudermos para tentar manter de pé tudo o que construímos, sonhamos e ainda pretendemos realizar”, encerrou.
Delmir Soligo, pai de Darlei, também comenta sobre o investimento realizado. “No ano passado, como o preço do leite estava bom, decidimos fazer investimentos. Nosso filho até optou por parar com a faculdade para investir na atividade leiteira. Investimos em máquinas, compramos áreas de terras, porém com o preço que o leite está atualmente o investimento não está se pagando. Quando chega a hora de pagar as prestações temos que puxar do nosso dinheiro, pois não há sobras da atividade”, destaca.
Hoje a família tem 34 vacas que rendem 800 litros de leite por dia. São duas ordenhas diárias. “É a única atividade com a qual trabalhamos, já que há dois anos paramos com o plantio do fumo para investir nas vacas. Porém, se continuar assim, vamos desistir da atividade e vamos voltar a plantar fumo ou investir em erva-mate e aviário”, concluiu.