Ana enfrentou as maiores batalhas para cuidar dos filhos e da família
Por Manoela Alves
A antagordense Ana Monica Lourenzi, não consegue esquecer aquela noite, a noite de 4 de setembro de 2023, quando a residência em que morava em Muçum, com o esposo Danilo, e os filhos Vagner e Everton, foi invadida pela água. Ana e Everton abrigaram-se com uma vizinha, mas Danilo e Vagner não tiveram a mesma chance, pai e filho morreram afogados naquela noite.
O filho Everton, de 40 anos, tem paralisia cerebral, e o motivo de tirá-lo de casa e abrigar-se nos vizinhos foi com a intenção de não o assustar com a forte chuva. “Meu filho Vagner, de 43 anos, era cadeirante e o meu marido não quis deixá-lo sozinho na casa, os dois ficaram juntos até o final”, conta emocionada.
A vida sendo mãe
Ana dedicou a sua vida a ser mãe de Vagner e Everton. O filho mais velho sofreu um acidente de carro, no ano de 2007, fraturando uma vértebra, o que o deixou em uma cadeira de rodas. “Ele, após o acidente, voltou a morar conosco e adaptamos a casa para ele. Mas ele era completamente independente e reabilitado, inclusive participava de times de basquete, dirigia, era um orgulho vê-lo animado com os esportes, ele viajou para participar de competições, mas claro, que era difícil devido ao alto investimento, mas mesmo assim, o Vagner era um orgulho para nós”, continua.
Ela conta: “com a paralisia cerebral do Everton, ele sempre precisou de cuidados, por isso a minha dedicação. Ele frequenta escola especial, já passou por cirurgias, faz fisioterapia, e quando ele estava adulto, mais fácil, o Vagner sofre aquele acidente, foi um baque. O coração sofre, mas era preciso seguir em frente, ajudando e apoiando o nosso filho”.
“Foi uma vida de luta”
Ela cita um ditado antigo: “dizem que Deus nunca dá uma cruz maior do que podemos carregar, mas a verdade é que a minha foi realmente pesada e teve momentos que não sabia se iria conseguir. Foi uma vida de luta. Desde que o Everton nasceu e após o acidente do Vagner, eu fui mãe em tempo integral. E agora, com a perda do meu marido e filho, a minha preocupação ainda é o Everton”.
A resiliência de Ana não é algo fácil, mas sim algo que só pode existir no coração de uma mãe. “Como passar por um luto, como o meu, mas colocando sempre os sentimentos do Everton em primeiro lugar? Não foi fácil. Ele, o pai e o irmão sempre estavam juntos, fazendo suas brincadeiras, coisas de meninos como brincávamos”.
“O Everton às vezes não entendia quando as pessoas choravam perto dele, porque ele sente, mas não consegue demonstrar essa tristeza. Por isso, eu precisava ser forte para ele. Mas, a noite, eu rezo, peço a Deus pelas pessoas que eu amo e que amam meu filho. Eu choro, porque ainda dói, mas vamos enfrentando um dia de cada vez”.
Mudança para Anta Gorda
Ana e a família moraram em Muçum desde 1977, quando se casou, mas após as tragédias de 2023, ela voltou às suas origens e à sua família, em Anta Gorda.
“Não podíamos continuar lá, por isso viemos para Anta Gorda. Construí minha casinha, aqui junto da minha irmã. O Everton se adaptou bem, adora os amigos, anda com meu sobrinho e meu cunhado sempre que pode. Eles nos acolheram muito bem. Mãe só fica feliz quando o filho está bem, essa é a verdade”, fala Ana.
Quando fala o que significa ser mãe, ela responde: “significa tudo. Ser mãe é estar 100% para os filhos, é fazer o possível para vê-los bem. A minha vida é ser mãe”, finaliza.