De acordo com técnico da Emater, é uma das atividades de maior rentabilidade, atualmente
Na busca de um alimento saudável, com menor teor de gordura e maior quantidade de vitaminas, os brasileiros têm incluído, cada vez mais, o peixe em seu cardápio. O que antes se restringia, basicamente, à tradição religiosa de alimentar-se com pescado durante a Semana Santa virou rotina semanal para muitas pessoas. E os restaurantes, percebendo esta mudança no paradigma alimentar se adaptaram. Com frequência são vistos diferentes tipos de receitas oferecidas em buffet.
Diante do aumento do consumo, se torna imprescindível a ampliação da produção. E com olho neste filão, alguns empreendedores rurais já despontam como aquicultores, que é como são chamados os criadores de peixes e mariscos. E não fazem errado. De acordo com o técnico em agropecuária da Emater/RS-Ascar de Ilópolis, Fabiano Antônio Zenere, esta é uma das atividades que representa maior rendimento nos dias atuais. “A rentabilidade, claro, depende muito da forma de manejo, mas em se pensando em área, é uma das atividades que mais rende para o produtor”, alerta.
Estrutura
Os viveiros de peixes, em forma de açudes ou tanques, não demandam muito espaço. Com 2 mil metros quadrados já é possível fazer um bom manejo, representando resultados positivos, se o interesse for atuar comercialmente. Zenere destaca que quando o objetivo é vender para alguma empresa, é preciso ficar atento às regras de quem irá fazer a coleta. “Em geral, as empresas só recolhem em grandes quantidades, algo em torno de seis toneladas”, explica. Para quem atua de forma mais modesta, a solução é aproveitar o mercado local, por meio de feiras em espaços específicos ou na taipa do açude.
Quem pensa em iniciar a produção deve estar atento a algumas questões, como licenciamento. Como demanda utilização da água, é preciso que atenda o regramento da legislação ambiental. Onde há banhado, por exemplo, dificilmente será autorizada a abertura de açudes ou tanques para a criação. Em áreas de preservação ambiental a situação é semelhante.
Após conseguido o documento de liberação, o aquicultor deverá preocupar-se com a correção do solo, fazendo com que a água se torne nutritiva; a taipa, que retém o volume de água colocado, ou formado pela umidade do solo, deverá assentar-se e, para isto, é preciso cerca de seis meses.
Assim que a parte estrutural estiver organizada, é possível colocar os alevinos. Em uma área de dois mil metros quadrados, no caso da tilápia, podem ser criados entre 6 mil e 8 mil alevinos. “No caso da carpa diminui bastante, também dependendo da instalação, ou não, de equipamentos para aeração da área”, destaca Zenere. Ele conta que a população de peixe pode variar de um por quatro metros quadrados até quatro por metro quadrado.
Manejo
A manutenção de um viveiro de peixes exige a presença do produtor ou, pelo menos, a instalação de equipamentos que possam fazer, automaticamente, a alimentação dos animais. Diariamente, entre duas ou três vezes é preciso jogar a ração sobre a água. Logo, eles virão para a superfície buscar o alimento de forma afoita, mesmo que tenham comido há pouco.
Mesmo que demande bastante atenção, é possível consorciar com outras cultivares, como a erva-mate, na região. A aplicação de adubos ou outros defensivos agrícolas no erval não chega a atrapalhar a aquicultura.
No prazo inferior a um ano, que é o período que se pode fazer a despesca de tipos como a tilápia, com o ritmo intenso em que se alimentam, chegam entre 800 e 900 gramas. As carpas vão além, representando entre três e quatro quilos. É neste prazo que a carne está mais saborosa. “O peixe pode ficar mais tempo, mas a carne começa a mudar o sabor”, afirma Zenere. Sobre os diferentes tipos, ele alerta que se o interesse é a criação comercial, não é interessante misturar as espécies, porque o tipo de alimentação costuma ser diferenciado.
Assim que estiverem no período de recolhimento, os animais devem ser recolhidos com a utilização de rede, sendo desnecessário esvaziar os açudes, como muitos fazem. Assim, não se machucam, mantendo a integridade, e garantindo a permanência da água, que já tem os nutrientes depositados no início da produção. A renovação do tratamento da água deve ser feita, de acordo com a quantidade de chuva, entre três e quatro anos.
A quebra de produção, de acordo com Zenere, é considerada normal, quando fica dentro dos 10% no modelo comercial, e até 40%, quando é para autoconsumo. Para evitar que estes índices sejam maiores, o técnico orienta que os aquicultores procurem ampliar conhecimento, em especial, se forem criar tilápias, que exigem maior cuidado. A espécie mais usual, na região, é a carpa e seus diferentes tipos, como húngara, cabeça grande e capim.
Maioridade no setor
Enquanto muitos estão adotando a piscicultura como forma de incrementar a renda, atualmente, alguns já podem ser considerados casos de sucesso regional. É o exemplo de Marciano Franzon, de Linha Gramadinho. Com 14 tanques, em dois hectares de área alagada, ele consegue consorciar a produção com erva-mate, atrair público para um ambiente em que serve peixe frito, além de vender congelado e possibilitar o pesque-pague, em que o cliente tem a oportunidade de pescar nos tanques e irá pagar o que tiver conseguido fisgar.
Há 18 anos no setor, ele participa de eventos de qualificação, que reforçam a utilização de uma ração de qualidade e a correção do PH e acidez da água, entre outras orientações. Com o conhecimento adquirido, conseguiu fazer com que a produção seja intensificada na entressafra da erva. “Mesmo com o clima não ajudando muito, porque é bastante frio, conseguimos umas seis, sete toneladas de carpa por ano”, conta. E o trabalho é, praticamente, familiar. Em caso de algum acúmulo, chama diaristas que auxiliam na tarefa, que parece fácil. “O pessoal ainda não conhece muito como faz. Não é possível visualizar o desenvolvimento deles, mas exige muito cuidado para que dê tudo certo”, ressalta.
Ilópolis tem projeto de incentivo
A Prefeitura de Ilópolis está em fase de implantação de um projeto de incentivo à aquicultura. Assim que estabilizar o clima, será possível incrementar a produção e diversificação das propriedades. “Trinta famílias serão beneficiadas, sendo oito em parceria com o Estado”, destaca o secretário da Agricultura, Jurandir Marques. Ele adianta que o município será responsável pela abertura do açude ou tanque, até um limite de horas-máquina. Além disto, irá prestar orientação técnica sobre fornecimento de ração de qualidade, por exemplo.
O compromisso do aquicultor será de produzir a espécie tilápia. Em contrapartida terá a venda garantida para um frigorífico, que recolhe animais entre 600 e 800 gramas. “É mercado garantido para o produtor, além de diversificar a sua propriedade, eles vão ter ganho extra”, afirma. A produção comercializada deve ser feita por meio da emissão de nota fiscal do produtor, o que irá representar aumento de arrecadação para os cofres públicos.
Para se habilitar a ser beneficiado pelo projeto de piscicultura, o produtor deve ter o CAR, fazer análise de solo do açude, manter o talão de notas revisado, apresentar Certificado de Cadastro de Imóvel Rural, não estar em débito com a tesouraria, produzir em sua propriedade, seguir a assistência técnica, apresentar coordenadas da propriedade, assumir compromisso com a secretaria conforme projeto, ter registro no Pronaf, participar de curso e treinamento de 16 horas, oferecido em parceria com a Emater, e ter licenciamento ambiental.
aquicultura pode diversificar propriedade