Mesmo com atraso na maturação, colheita e qualidade devem superar as expectativas de família viticultora de Anta Gorda
Conseguir alcançar o resultado que agrade o paladar dos apreciadores de vinho não é uma tarefa fácil. É preciso que uma série de fatores esteja de acordo para que o produto final seja de qualidade, garantindo a manutenção do bom conceito que a bebida feita no Rio Grande do Sul tem em todo o mundo. E se muitos dos segredos estão nas vinícolas, com as medidas adequadas de todos os compostos, outros estão nas propriedades, de onde sai a principal matéria-prima: a uva.
A família de Fabiane e Cesar Cenci, em Linha Santos Filhos Arossi, Anta Gorda, é um exemplo de que com a devida atenção ao parreiral é possível se garantir um bom produto, além de um considerável rendimento para a propriedade, utilizando uma pequena área. Tanto é que eles tinham outras plantações, como o milho, mas acabaram focando a uva, porque é uma cultura que rende mais por hectare e necessita de pouco espaço, permitindo que ainda seja mantida a criação de suínos. “Atualmente, é possível se viver apenas com a produção de uvas, mas nós temos os suínos”, destaca.
A atuação com as uvas já dura oito anos, o que faz com que fique atento aos eventuais problemas que o cultivar pode apresentar. Cenci conta é preciso cuidado diário com o parreiral, além da torcida para que o clima colabore e possibilite boa formação dos cachos e amadurecimento. Uma das principais pragas que deve ser combatida é a pérola-da-terra. Ele alerta que, após infestado, não há mais controle.
Variedades
A família Cenci mantém em sua propriedade o cultivo de três variedades de uvas. Em cerca de 2,3 hectares, colhe Isabel, Bordô e Niágara Branca, que são três dos tipos de maior comercialização entre os produtores gaúchos. Optaram por estas, justamente, pela possibilidade de comercialização, que é feita, diretamente, na propriedade ou pelo telefone: (51) 99693-2684. Cenci alerta, entretanto, que é preciso antecipar-se para não correr o risco de ficar sem produto.
A colheita, que deve ser feita entre os meses de janeiro e fevereiro, é realizada utilizando a mão de obra familiar, o que garante menor investimento para a área produzida. Assim que é retirado do parreiral, o produto pode ser pego na propriedade dos Cenci ou, de acordo com a encomenda, entregue, diretamente, na casa do cliente. “Temos o diferencial, que é o separador de cacho e moedor, entregando a uva pronta para ser utilizada”, enaltece.
Em se mantendo a média, a expectativa é de que sejam colhidos até 55 mil quilos, neste ano. Haja vista que cada um dos 5,5 mil pés pode render até dez quilos. Isto é possível, porque o tempo colaborou, atrasando um pouco a maturação, pela extensão dos dias frios, que foram registrados até outubro, mas permitindo um bom desempenho com clima seco e sem grandes tempestades. “Tivemos três ou quatro anos que foram registradas perdas causadas pelas chuvas de granizo. Então, se São Pedro colabora, a safra é boa e de qualidade”, recorda.


Pérola-da-terra
A pérola-da-terra foi descoberta em 1922, no Rio Grande do Sul. De acordo com o levantamento da Embrapa é um inseto em forma de pérola, que vive no solo e, para se alimentar, suga as raízes das plantas, retirando os nutrientes que as mantêm vivas. Sem a nutrição necessária, em três ou quatro anos, após a contaminação, elas morrem. O animal não ataca somente parreirais. Pode ser encontrado em, pelo menos, 80 tipos diferentes de plantas. E, apesar de não voar, tem se espalhado rapidamente pelo país, especialmente, por meio de mudas contaminadas.
Manuseio
Após feito o plantio, o produtor deve estar ciente de que deverá ficar atento ao desenvolvimento da planta.
Em cerca de dois anos o pé começa a produzir, mas é preciso que seja feita a limpeza permanente, além da poda, entre agosto e setembro, o que vai garantir bons cachos entre janeiro e fevereiro. Se for bem cuidado, conta Cenci, o parreiral dura cerca de 70 anos. “Mas é preciso muita atenção. Todos os dias damos uma olhada para ver se está tudo certo”, alerta.
Saiba Mais
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) definiu, em dezembro, valores mínimos a serem pagos pela uva de variedade Isabel para a safra 2018/19. De acordo com o órgão federal, não deve baixar de R$ 1,03 por quilo na propriedade, mantendo o valor que havia sido solicitado pelos produtores para a safra 2017/18. Há variação para cima deste valor.