Agropecuaristas perceberam que podem agregar valor ao que produzem e viram empresários gestores de agroindústrias
O Brasil tem por característica o foco no meio rural. O país produz muito e transformou-se, com o tempo, em um dos grandes exportadores mundiais de alimento. A lucratividade com este tipo de comércio não é tão expressiva quanto poderia ser, porque o agronegócio nacional é basicamente dedicado à venda de comodities, que são produtos que funcionam como matéria-prima. Assim, outros países compram esta produção, manufaturam e o país acaba importando por um valor maior.
Os produtores rurais que não fazem exportação, porque atuam em áreas menores, com menor volume de colheita ou criação, costumam manter o mesmo sistema, vendendo a matéria-prima para empresas ou integradoras, que agregam valor e colocam no mercado um produto que poderia ter sido feito no próprio local onde é colhido. Isto geraria menor custo com logística, barateando o valor para o consumidor, aumentando a renda familiar, a oportunidade de emprego, a circulação de dinheiro no município e a autoestima de quem produz: são as agroindústrias, em se pensando na região, por suas características, agroindústrias familiares.
São casos como da família Izoton, em Linha Primeira Itapuca, interior de Anta Gorda. Com mão de obra familiar, Joacir Izoton, a esposa e uma filha, que ajuda no contraturno escolar, estão empenhados em oficializar a Agroindústria Izoton. A ideia é produzir pepino, minimilho, cebolinha, picles, amora, mertilo, morango, figo verde, além de abóbora, em conservas e compotas. Para isto, não precisa mais do que os dois hectares e meio que dedica à plantação destes itens.
O encaminhamento da documentação está em fase final. O objetivo é conseguir a autorização para colocar no mercado local o seu produto e, com o tempo, de acordo com a demanda, ir ampliando para outras cidades. Izoton acredita que a rentabilidade que conseguirá com a industrialização conseguirá garantir a subsistência da família e ir ampliando, aos poucos, a empresa que está se formando.
Para que a agroindústria se firme, além do produto e da boa vontade é preciso atender a uma série de requisitos. No caso dos Izoton, já foram adquiridas mesas em inox, que possibilitam maior higienização no processo produtivo, o que é considerado fundamental. Em Arvorezinha, uma parceria entre a Prefeitura e a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) possibilita o aprimoramento de técnicas para o melhor resultado no processo produtivo. O curso Boas Práticas de Manipulação do Alimento, que conta com 26 alunos, deve ser concluído no dia 18 de março. Eles aprendem desde questões de higiene até organização para melhores resultados, como rotulagem e embalagens.

para a agroindústria que deve
comercializar a sua produção
Apoio técnico
Em Arvorezinha estão instaladas cinco agroindústrias: duas de embutidos, sendo uma de Cérgio Perin e a outra de Carlos Borsatto, a de panificação de Vandro da Silva, a de farinha de milho de Marino Guerini e a granja de ovos de Tereza Valter de Lima. De acordo com o chefe do escritório da Emater local, Cléber Schuster, a entidade deu à essas agroindústrias total apoio com elaboração das plantas, cadastramento no Programa Estadual de Agroindústria Familiar e capacitação por meio de cursos de Boas Práticas de Fabricação.
Schuster destaca ainda que para montar uma agroindústria é ideal que o interessado produza pelo menos 80% daquilo que será consumido. “Além disso, deve cumprir com todas as exigências do Serviço de Inspeção Municipal (SIM), o qual Arvorezinha já dispõe, e do Sistema de Inspeção Federal (SIF). A Secretaria da Agricultura e a Emater auxiliam no processo”, explica.
Recentemente, o secretário da Agricultura, Nelsinho Debona, acompanhou o veterinário Guilherme Peukert Silveira, em uma visita aos frigoríficos Perin e Ferri. O profissional da saúde animal costuma fazer inspeção semanalmente, atendendo o que regra o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), que é o que pode viabilizar a comercialização dos produtos dentro de Arvorezinha.
O Frigorífico Perin tem produção própria de salame, linguiça, torresmo, banha, queijo de porco, copa, entre outros. O Ferri comercializa a carne nos açougues do município. Os resíduos de ambos são levados ao frigorifico Cason, em Putinga. “É muito importante o acompanhamento do médico veterinário para garantir um produto de boa qualidade aos consumidores”, disse Alfeu Ferri, agradecendo pelo serviço prestado da Administração Municipal.
“Já estamos encaminhando os documentos necessários para o Susaf, tudo acompanhado da Secretaria da Agricultura local. Assim, queremos abranger mais vendas dos nossos produtos em outras cidades do estado”, enfatizou Cérgio Perin. O Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte (Susaf) é uma outra etapa no processo de industrialização do que é produzido na agroindústria. Com esta liberação, a empresa pode passar a atuar em todo o Rio Grande do Sul e cabe ao Estado manter a vigilância para conferir se o processo produtivo está de acordo com as normas sanitárias.
Higiene
Além de conceder a autorização para a comercialização dentro do município, o SIM também é responsável por fazer as avaliações periódicas. No final de janeiro, o secretário Debona e o veterinário Silveira fizeram o check-list das condições de higiene nas instalações da empresa Embutidos Borsatto e na Granja Vó Tereza. As inspeções são realizadas semanalmente pelos funcionários especializados da Prefeitura, assim, garantindo um produto de procedência e de boa qualidade a todos os consumidores.
Até o momento tais produtos são comercializados somente dentro do município de Arvorezinha. “Através do acompanhamento dos profissionais da Prefeitura, certificamos de vender um produto inspecionado para os clientes. Ressalto, ainda, que estamos em andamento para ingressar no Susaf e poderemos vender nossos produtos em todo estado”, disse Carlos Borsatto, sócio da Embutidos Borsatto.
“Procuramos fazer todas as adaptações necessárias para vender um produto de boa qualidade aos consumidores, sempre acompanhado do trabalho dos profissionais da Prefeitura”, relatou Edmilson Finatto, proprietário da Granja de Ovos Vó Tereza.

