Uma história de fé e superação contada por uma senhora de 80 anos que venceu muitos desafios ao longo da vida
Josefina Galelli Debortolli, moradora da Linha Auxiliadora, interior do município de Nova Alvorada, conta um pouco sobre a história da sua comunidade e também sobre a sua marcante trajetória de vida.
Ela conta que sua mãe veio da cidade de Veranópolis e seu pai de Anta Gorda. Eles foram um dos primeiros moradores da comunidade, por volta do ano de 1941. “Como a família era bem conhecida na época e por ser a mais antiga, todos se referiam à comunidade como Linha Galelli”, comenta.
“Sempre morei na comunidade e até que eu possa viver bem aqui, não pretendo sair, pois foi aqui que me criei, conheci meu esposo hoje falecido, e construí minha família”, comenta. Josefina trabalhou na agricultura até sair um concurso para professora. Após, começou a lecionar para alunos de 1º à 5º ano na Escola Monteiro Lobato, que na época pertencia ao município de Marau.
“Desde pequena meu sonho era ser professora, não me via em outra profissão. Me sinto realizada por isso. O maior desafio foi lecionar para adultos não alfabetizados. Na comunidade em que lecionava tínhamos 18 adultos, pais de famílias que não eram alfabetizados, sequer sabiam segurar uma caneta direito, mas com muita dedicação tivemos bons resultados”, relembra.
Após 17 anos lecionando, a professora decidiu se aposentar. Mesmo aposentada, procura sempre estar lendo e aprendendo cada vez mais.
[O amor pela leitura – foto]
De vizinhos a companheiros de vida
Josefina e Antônio Debortolli conheceram-se na comunidade de Linha Auxiliadora, eram vizinhos e participavam dos filós. Eles começaram a namorar e oito meses depois se casaram, e em seguida tiveram dois filhos, um biológico e uma adotiva. “Passamos muitas coisas juntos, alegrias, tristezas, dificuldades, mas sempre um sendo companheiro do outro, e assim foram nossos 44 anos juntos”, relata.
“Teve um ano que plantamos soja e choveu muito, as plantas apodreceram na lavoura, tivemos um prejuízo enorme. Eu chorava todas as noites pensando como íamos fazer para pagar as contas. Meu esposo me disse para ter calma, que ele daria um jeito. Ele possuía propriedades em Santa Catarina, plantava árvores para madeira, então foi até lá e vendeu. Conseguimos o dinheiro para pagar as despesas causadas pelas fortes chuvas”, relembra aliviada.
Antônio passou sete anos acamado, devido a uma doença degenerativa. Nos últimos quatro anos, antes de falecer, perdeu o movimento das pernas e dos braços, precisava de cuidados constantes. “As enfermeiras vinham aqui ver ele, fazer avaliações e curativos quando necessário, mas quem cuidava dele em tempo integral era eu. Tinha um sobrinho que vinha todos os dias me ajudar levantar e tirar ele da cama”, relembra.
Hoje faz quase dois anos que Antônio faleceu e as lembranças de uma vida juntos são relembradas com muito amor e saudade pela esposa.
A professora sempre foi muito participativa com a comunidade. Além de lecionar, foi ministra da Eucaristia durante 24 anos, participava das diretorias da comunidade, do Clube de Mães e até chegou a ganhar o concurso “Mãe do Ano”.
Esse concurso foi realizado no município de Nova Alvorada, onde haviam mães de mais onze municípios. Dona Josefina lembra com carinho da noite que ganhou o concurso.
A descoberta do câncer
Neste período em que ela cuidava do esposo, mais especificamente, no período mais crítico da doença, Josefina descobriu um câncer de mama. “Quando fui diagnosticada, me desesperei! Só me perguntava, por quê eu? […] Respirei fundo, me concentrei, sabia que não podia me desanimar, então me recompus para enfrentar com força e determinação essa doença”.
Josefina passou por uma cirurgia e 35 radioterapias. “Todos os dias levantava às 5h da manhã para ir à Passo Fundo fazer as sessões. Antes de sair, deixava tudo pronto para ele (Antônio). Muitos dias, chegava em Nova Alvorada às 18h. Além de cuidar dele, preparava o serviço para o dia seguinte, e antes de dormir fazia compressas de água quente para colocar sobre os cortes da cirurgia”, relata.
Força e fé que trouxeram a cura
“Lembro como se fosse hoje, o dia em que sai de casa para fazer a cirurgia, parei em frente à livraria da Marilene Guerra, minha amiga, e ela veio com um cartão e uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e me disse: tenha força”.
“Passados uns 15 dias, uma amiga de Monaturi participou de uma romaria de Santa Tereza. Ela se lembrou de mim e me trouxe uma rosa benta de presente”, lembra.
Ela conta ainda, que na sala das sessões de radioterapia havia um quadro de Jesus da Divina Misericórdia. “Eu olhava para o quadro e pedia para Jesus olhar para mim!”.
Uma amiga de infância de Josefina, que reside na cidade de Cascavel, no Paraná, com a qual se comunicava corriqueiramente, enviou de presente um quadro de Jesus da Divina Misericórdia. “Parece mentira contar, mas é verdade, chego me emocionar. Ela não sabia que eu pedia tanta força e proteção a Jesus da Misericórdia e me deu de presente um quadro. Fiquei muito feliz, acreditei que era um sinal. Hoje tenho ele pendurado na parede da sala da minha casa”, conta.
“Os médicos foram muito importantes na minha recuperação, mas meu esforço e minha fé me ajudaram a superar tudo isso. Parece mentira tudo que passei e ainda estou aqui, viva, mas é uma luta que ganhei e me orgulho!”, finaliza.
Em meio a tantas lutas e superações, Josefina perdeu seu companheiro de vida, Antônio, mas segue com muita força e vontade de viver.