Os impactos na saúde, no comércio e na agricultura serão sentidos de forma intensa nos próximos dias, pois essa será uma das mais fortes do ano
Por Divanei Mussio
O final de maio de 2025 reserva uma situação meteorológica muito especial. O Brasil vai viver a primeira onda de frio de 2025, segundo previsões dos institutos de meteorologia. Será um frio que os brasileiros ainda não sentiram esse ano. O resfriamento causado por essa onda certamente ficará entre os mais intensos.
Algumas áreas no Sul do Brasil vão literalmente congelar na passagem desta onda de frio.Temperaturas abaixo de 0 °C vão ser observadas nos três estados da região Sul do Brasil. O frio abaixo dos 10 °C deverá ser observado no Centro-Oeste e também no Sudeste do Brasil.Desta vez, o ar polar entra intenso pelo interior do país, causando uma queda de temperatura muito acentuada não apenas na região Sul, mas muitas áreas do Sudeste e do Centro-Oeste do país, em Rondônia, no Acre e no sul do Amazonas.
Primeira neve de 2025
A frente fria vai propiciar uma combinação muito especial de umidade e de temperatura, em vários níveis da atmosfera, que vão possibilitar a ocorrência de neve e de outros tipos de precipitação invernal no Sul do Brasil. As áreas com maior chance de neve devem ser regiões serranas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
Com a chegada do frio intenso, alguns hábitos devem mudar entre as pessoas, seja para se proteger ou para a prevenção de problemas de saúde relacionados às baixas temperaturas.
Maior circulação de vírus respiratórios
Com a chegada do outono e a queda nas temperaturas, tem sido notado um aumento expressivo na circulação de vírus respiratórios. Esse fenômeno é comum nessa época do ano, especialmente porque as pessoas tendem a permanecer por mais tempo em ambientes fechados e pouco ventilados, o que favorece a transmissão de agentes infecciosos.
A médica generalista da Unidade Básica de Saúde de Itapuca, Patrícia Menegoto, esclarece os quadros mais comuns atendidos nessa época pelos sistemas de saúde. “Em grande parte, os sintomas se limitam a quadros leves, como resfriados e gripes, que se resolvem espontaneamente. No entanto, em pessoas mais vulneráveis — como crianças pequenas, idosos e portadores de doenças crônicas — essas infecções podem se agravar, acometendo os pulmões e evoluindo para formas mais sérias, como a pneumonia viral ou bacteriana, que são, inclusive, uma das principais causas de internação das pessoas.
Quando os vírus se concentram nas vias aéreas superiores, os sintomas tendem a ser mais leves. Já infecções que atingem os pulmões representam maior risco e exigem atenção. É por isso que, nos meses mais frios, aumenta a preocupação com vírus como a influenza, o VSR (vírus sincicial respiratório) e o SARS-CoV-2, causador da Covid-19”, detalha ela.
Vacinação: a principal aliada na prevenção
A imunização é a estratégia mais eficiente para prevenir formas graves de gripe e reduzir internações e mortes. “A vacina contra a influenza é reformulada todos os anos, com base nos vírus que mais circularam no ano anterior no Hemisfério Sul, motivo pelo qual é necessário tomar uma nova dose a cada campanha, mesmo para quem já foi vacinado anteriormente”, esclarece a médica.
Ela ainda reforça que, além da vacina contra a gripe, outras imunizações são fundamentais nesse período: a vacina contra a Covid-19 continua sendo crucial para evitar complicações e hospitalizações e a vacina contra o VSR já está disponível para gestantes e idosos. Quando aplicada durante a gestação, ela permite a transferência de anticorpos para o bebê, oferecendo proteção nos primeiros meses de vida — uma fase em que o risco de bronquiolite e outras infecções respiratórias são maiores. Em idosos, essa mesma vacina ajuda a evitar pneumonias graves e outras formas de SRAG.
“A proteção por meio da vacinação é especialmente importante para os grupos de risco, como crianças com menos de um ano, pessoas com doenças pulmonares crônicas, imunossuprimidos e idosos”, frisa Patrícia, endossando a importância da vacinação para a prevenção das doenças da estação.
Medidas simples que fazem diferença
Além da vacinação, atitudes do dia a dia também ajudam a conter a propagação de vírus respiratórios. Entre as principais recomendações, a médica da UBS indica: lavar as mãos com frequência ou utilizar álcool em gel; evitar tocar olhos, nariz e boca com as mãos sujas; tossir ou espirrar cobrindo o rosto com o braço; manter os ambientes arejados e bem ventilados; evitar contato próximo com pessoas gripadas ou com sintomas respiratórios; utilizar máscara em locais fechados, em unidades de saúde ou ao apresentar sintomas; manter uma alimentação equilibrada e garantir boa hidratação.
Patrícia destaca que os sistemas de saúde estão diante de um cenário de sobrecarga e a prevenção é, mais do que nunca, essencial. “A vacinação e os cuidados básicos ajudam não apenas a evitar complicações graves, mas também a proteger as pessoas ao nosso redor. Cuidar de si é também um ato de responsabilidade coletiva”, afirma, pedindo à população que faça a sua parte diante do cenário atual.
Temperaturas baixas x aquecimento do comércio
Quando o frio chega e chega valendo como nesta semana, derrubando as temperaturas e com perspectivas de ter um repique em seguida, normalmente as pessoas avaliam o que têm nos armários para ver se estão preparadas para enfrentar o ar gelado, se as roupas serão suficientes para aquecer o corpo. Mesmo para quem a resposta é positiva, bate uma vontade de comprar uma roupa nova, quente e aconchegante. As mudanças de clima sempre aquecem o comércio de roupas.
A empresária do ramo de confecções, Ana Lígia Lasta Pinto, estabelecida com sua loja há muitos anos no centro de Arvorezinha, avalia as perspectivas com a variação climática e os impactos no comércio de roupas de inverno. “São bastante positivas as vendas de vestuário e calçados, pois são altamente influenciadas por variações na temperatura. Portanto, as empresas devem estar preparadas para se adaptar às mudanças climáticas e ajustar as estratégias de marketing e estoque de acordo com a estação”.
Entre os tecidos preferidos e mais vendidos, pelo conforto e capacidade de aquecimento, alguns destacam-se, conforme esclarece Ana: “a lã é um dos mais populares e eficientes para manter o corpo aquecido, além de ser resistente e durável. O Cashmere é leve e macio, perfeito para tricôs, cachecóis e casaquinhos”, descreve. Ela ainda cita os tecidos sintéticos, como o fleece, tecido tecnológico, com ótima proteção térmica, também é uma ótima opção. “O nylon, fibra sintética e impermeável, é resistente ao vento; o couro ou PU (poliuretano), conhecido como o couro sintético, também são ótimas opções para enfrentar esse frio tão típico da estação”, complementa a comerciante.
Tendências
Sempre que chega uma estação climática nova, a indústria do vestuário lança as tendências em cores, modelos dos tecidos e calçados. Para este outono/inverno, as tendências são os tons terrosos, o vinho ou vermelho, o verde profundo e o “Mocha Mousse” que é o tom marrom escolhido como a cor do ano para 2025, representando conforto, sofisticação e um retorno à simplicidade, detalha Ana, que segue: “E quanto aos modelos, casacos estruturados, tricôs, peças com bastante sobreposição e também estão em alta os conjuntos, que são combinações de peças que priorizam o conforto e a praticidade, sem sacrificar o estilo”.
Quanto aos valores do vestuário de inverno, a empresária informa que “houve um aumento significativo nos custos em relação ao inverno passado”.
Riscos para a agricultura
O técnico e extensionista da Emater de Ilópolis, Cleber Schuster, em um prognóstico sobre os impactos do frio intenso na agricultura da região, acredita que não haverá grandes prejuízos. “Creio que não vamos ter problemas com os frios, pois as culturas de grãos já foram colhidas”. Já para as plantas frutíferas, o frio é benéfico. “Elas necessitam frio neste período para maturação de gemas e para a dormência das plantas”, destaca o técnico.
Ainda assim poderá haver alguma preocupação com os citros, conforme Schuster: “o único problema que podemos ter é nos pomares de citros, principalmente com as mudas plantadas no último ano que se houver geada pode comprometer as plantas. Orientamos os citricultores a proteger as mudas plantadas recentemente, principalmente naquelas áreas de maior incidência de geadas. Pode ser enrolada uma folha de jornal no caule principal no período de inverno para a proteção contra as geadas”, orientou ele.