As cidades de Fontoura Xavier e Doutor Ricardo foram as que registraram estragos na agricultura
Por Fabiana Borelli/
Denise Borsatto
No último sábado, 14, a região foi surpreendida por um temporal com chuva de granizo e fortes ventos. Os municípios de Doutor Ricardo e Fontoura Xavier foram os mais atingidos.
Em Fontoura Xavier as comunidades de Linha Santa Catarina, Linha Nova São José e Costa Forqueta sofreram grandes danos principalmente nas lavouras de fumo, mas também foram danificadas lavouras de milho, feijão, erva-mate e fruticultura.
Segundo informações da Administração Municipal, mais de 50 propriedades rurais foram atingidas nessas comunidades, e algumas das lavouras foram totalmente destruídas. Devido a grande destruição deve ser decretada situação de emergência para conseguir recursos e auxiliar os produtores, pois muitos deles não possuem seguro.
Os 68 mil pés de fumo plantados na propriedade de Anderson Ferrari, 38 anos, na Linha Nova São João, foram completamente destruídos. Atuando no plantio de fumo há mais de 20 anos, com os pais Hilário e Onilda, ele lamenta. “Esse ano não vou ter safra, trabalho com fumo há muitos anos e nunca vi uma coisa assim. Agora é arrancar o fumo e plantar milho para tentar salvar o ano e diminuir os prejuízos”.
Além do fumo, a lavoura de milho também foi destruída com as pedras e o vento. “Tinha uma área plantada com dois sacos que já estava pendoando e mais um saco que era mais novo, agora vou ter que replantar tudo”, comenta o agricultor.
Ferrari já acionou a Afubra e espera a ida dos peritos para ver quanto será ressarcido. “O seguro paga até 20 folhas por pé de fumo, eu já tinha tirado a baixeira então essas serão descontadas, e vão contar as outras, os galhos porque não sobrou folha inteira, cada 4,5 mil folhas é considerada uma arroba. Eu espero que cubra a despesa, eu acredito que no máximo vão me pagar 15 folhas por pé isso daria umas 180 arrobas, se eu colhesse acredito que daria umas 700 arrobas, ou seja, o prejuízo é muito grande”, acrescenta.
Moradora da mesma comunidade, Zenira Seguetto Silva, 41 ano, planta fumo com o marido Adilar João Balastreri, o filho Wellington e a nora Liliane.
A família tinha 45 mil pés de fumo plantados, também perderam toda a produção, além disso, tiveram o forno e a varanda descobertos e algumas telhas da casa quebradas. Agora esperam pela avaliação do perito da Afubra. “Agora nos resta plantar milho, aproveitar o adubo que está na terra, porque do fumo mesmo não sobrou nada, as folhas que não caíram estão furadas. Tinha também um saco de milho plantado e também não sobrou nada, vamos ter que replantar”, fala Zenira.
Nizio Luiz Calegari tinha plantado 15 mil pés de fumo e não tem seguro. “Esse ano eu não ia plantar fumo, pois tinha um negócio com lenha, mas o negócio não deu certo, então resolvi plantar esses 15 mil e não fiz seguro, como planto sozinho não posso plantar mais que isso, estava muito bonito, mas as pedras destruíram quase tudo, acredito que um pouco vou conseguir colher porque o fumo ainda não tinha sido tirado a ponta e umas folhinhas ele ainda vai fazer, talvez dê para pagar as despesas, e também vou plantar milho para diminuir um pouco o prejuízo”, comenta, ao complementar: “É o meu último ano plantando fumo porque sozinho não tem como a minha esposa tem problema de câncer de pele, então vou plantar milho e trabalhar com a lenha”.
Junior Cita Silva e o pai Loacir Farias Silva plantam 25 mil pés cada um. “Pode-se dizer que perdemos praticamente todo o fumo, tinha uma parte que não tinha sido desbrotada, nessa ainda pode vir alguma folha, mas muito pouco. Com o seguro espero que dê para pagar as despesas”.
A plantação de milho também foi muito prejudicada, mas esse o agricultor acha que ainda pode recuperar. “Temos três hectares de milho plantados, eu acho que a maioria vai dar para recuperar porque ele estava bem pequeno, ficou bem torcido, mas acho que vem só uma área onde tem duas caixinhas plantadas que não vai ter como, esse destruiu totalmente”.
O casal Rudimar da Silva e Lucia Pinto de França, sempre trabalhou com fumo, já havia passado por isso em 2010, porém com mais destruição. “Em 2010 foi pior porque destruiu o fumo e também estragou a casa, agora pelo menos na casa não fez nada”.
Com um plantio de 45 mil pés, totalmente danificados, Rudimar e Lucia acreditam que com o seguro a despesa será coberta. “Mesmo pagando as despesas eu preferia colher, a gente planta para colher e com 45 mil eu faria 500 arrobas, assim se tudo der certo vão pagar umas 150. Mas bola pra frente, o que importa é que todos estamos bem, com saúde, agora vou plantar o milho e vida que segue ano que vem tem mais uma safra”, salienta Silva.
“A esperança do agricultor é sempre no ano que vem”
A família de Valderes Reginatto Ramos, da Linha Rio Verde, Doutor Ricardo, também registrou prejuízos com o temporal. “A esperança do agricultor é sempre no ano que vem, que vai melhor, mas chega Natal e Ano Novo, vem o temporal e leva tudo embora”, lamenta Valderes.
A agricultora conta que o ano foi ruim para o plantio. “Este ano foi muito complicado. Primeiro com muita chuva que levou todo o adubo que tínhamos colocado. O fumo ficou fraco e amarelado. Então compramos mais adubo e aí não choveu mais. Agora que estávamos esperando a chuva, acontece isso”, conta, ao lembrar que a chuva iniciou por volta das 16h. “Foram 20 minutos de muita chuva, vento e pedra. Quando passou, fomos ver e havia pedaços em que sobrou só o tronco. Muito triste”.