O imóvel, que já foi tombado, e doado à A.A. Moinhos
Um patrimônio histórico que anseia por restauro há quase quatro anos. Construído em 1935 por Narcioso Burille (in memorian), o Moinho Burille atuou incansavelmente na produção de farinha, que abastecia dezenas de lares do município.
“O moinho tem uma grande história por trás dele. Aqui foi produzida muita farinha para alimentar muitas pessoas. Tínhamos serviço para trabalhar de dia e de noite, e assim fazíamos, principalmente na véspera de Natal, quando a cavalo, inúmeras pessoas vinham buscar farinha para fazer os doces de final de ano”, recorda Claudino Antônio Burille, de 86 anos, que comprou de seu irmão o moinho que era de seu pai, Narcioso.
Doação à AA Moinhos
Há cerca de quatro anos, Claudino fez a doação do Moinho Burille para a A.A. Moinhos, a fim de que o imóvel fosse restaurado, preservando sua história. “O moinho já foi tombado, mas me sinto triste ao vê-lo assim, porque o doei para a associação para que o restaurasse e o deixasse em memória da família Burille, já que minha idade está avançada e não consigo mais mantê-lo como antigamente, porém já fazem quase quatro anos e praticamente não fizeram nada, sou eu que estou cuidando”, lamenta.
O idoso garante ter reservado para si, após a doação, somente a casa e um espaço para fazer plantios nas proximidades, não estipulou um prazo para que fosse realizado o restauro. “Porém recebi um contrato que só beneficiava a associação, e por isso não aceitei. Assim, até hoje o moinho está nessa situação, sem destino, em meio ao mato, abandonado, pois não consigo dar conta de tudo sozinho”, disse ao revelar que já chegou a receber uma proposta de R$ 250 mil para a venda do local. “Mas não aceitei porque se tirassem o moinho dali, desapareceria parte da história da família Burille”, destaca.
Ele recorda ainda que, quando doou o moinho para a A.A. Moinhos, o local tinha energia elétrica e turbina funcionando. “Entreguei tudo funcionando. Logo após a doação o gerador precisou ser reformado, mas como não pagaram pela reforma, acredito que foi para o ferro velho. Depois disseram que comprariam um novo, mas até agora nada, e até a turbina abandonaram”, salienta ao finalizar: “Na segunda-feira me deu uma tristeza que só Deus sabe, em ver tudo abandonado assim. Eles só prometem e nem atendem mais minhas ligações”, lamenta.
Equipe de arquitetos faz visita ao Moinho Burille
Na quinta-feira, 25, integrantes da A.A. Moinhos e o arquiteto Marcelo Ferraz, do Escritório Brasil Arquitetura, com sede em São Paulo, estiveram no Moinho Burille.
“Estamos aqui justamente marcando as primeiras taipas e após vamos fazer muros de pedra (em mutirão e com recurso disponibilizado pela prefeitura) que vão ser as balizas para as novas construções. A partir disso o restauro vai começar a se tornar realidade. O projeto é grande, ambicioso e está bastante avançado. Estamos o elaborando com uma equipe grande, multidisciplinar, envolvendo ao máximo os profissionais da região. Após concluído, vamos habilitar o projeto na Lei de Incentivo à Cultura (LIC) para após fazer a captação de recursos. Claudino foi muito generoso em doar essa propriedade para a associação, é um gesto raro e exemplar”, coloca Ferraz, que assina os projetos arquitetônicos do Caminho dos Moinhos.
De acordo com ele, o Moinho Burille deve ser uma das âncoras no sentido do turismo e da educação na região. “O moinho vai voltar a produzir farinha, vai ter o memorial do grão e até quem sabe o incentivo à plantação de grãos antigos, crioulos, salas de aula, enfim, ele é diferente de todos os outros projetos que estamos montando. Com isso, o Caminho dos Moinhos começa a ficar mais rico e vai ter que avançar na sua ambição de ser algo absolutamente novo, ligado a essa região”, frisa.
Segundo a presidente da A.A. Moinhos e arquiteta, Sediane Dall’Agnol Roman, falta pouco para o projeto arquitetônico para ir parar na Secretaria Estadual de Cultura. “Nós temos vários projetos em andamento, alguns mais adiantados, outros em estágio inicial. O que está mais adiantado agora, além do Museu do Tijolo que está na última fase para ser mobiliado, nós temos a Casa Martelli que está sendo finalizada, e temos também o projeto da Madeborg, em Anta Gorda”, informou.
“Sobre o Moinho Burille, em Arvorezinha, a previsão para o projeto ser cadastrado na Secretaria Estadual de Cultura, é antes do final deste ano, e assim que aprovado partimos para a fase de captação de recursos. Acredito que a Secretaria Estadual de Cultura leve de três a quatro meses para analisar o projeto. Lidamos com a ansiedade das pessoas, mas tem um tempo para tudo, até porque temos poucas mãos”, finalizou ela.
O prefeito, Jaime Borsatto, se colocou à disposição, no que se diz respeito ao restauro. “Nós como representantes do município de Arvorezinha estamos aqui fazendo a nossa parte, dando recursos, apoiando, ouvindo a parte técnica. Quem vai tocar a obra é a A.A. Moinhos, nós vamos apenas repassar parte do recurso e estaremos juntos nessa caminhada, para que isso se torne realidade”, disse.