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Família Zortéa pesquisa sua genética para prevenir carcinoma

Várias gerações da família convivem com a doença

Por Divanei Mussio

A tradicional e numerosa família Zortéa, espalhada por várias cidades do RS, tem um cuidado especial quando o assunto é saúde; nas gerações mais antigas, a doença era descoberta somente em seu estágio mais avançado, quando iniciavam os sintomas. Nas gerações contemporâneas, atentos a possibilidade, o foco tem sido na prevenção, em vista dos avanços da medicina, do conhecimento e informações mais acessíveis.

O tema mais relacionado à saúde dessa família é o carcinoma, comumente chamado de câncer, um nome que sempre assusta e impacta, mas que, graças aos avanços da medicina curativa e preventiva, tem proporcionado uma sobrevida longa e com qualidade de vida aos pacientes.

O Eco Regional conversou com a professora da Rede Estadual de Ensino, de Arvorezinha, Sandra Zortéa Zat Grando, de 50 anos, que já teve carcinoma de mama há 8 anos. Sandra inicia relatando a história familiar materna e o peso do fator genético na família. “Tudo começou há muito tempo, quando minha tia Hélide Taufer Zortéa teve câncer de mama, não tratou precocemente e faleceu jovem;  aos 54 anos, minha mãe, Malia Zortéa Zat, sentiu que tinha um nódulo no seio, já um pouco avançado, procuramos ajuda médica e ela começou o tratamento”, ela relata que era adolescente quando a descoberta foi feita.

Feita cirurgia para retirada do nódulo e os exames do material retirado apontaram que Malia, para a época, há 35 anos, dos 70 tipos conhecidos, “tinha o pior deles”, Sandra relembra as palavras da médica por causa da carga genética, motivo este de alerta (50% de chance de um descendente ter). “No período em que minha mãe estava em tratamento, mais uma prima, filha de um irmão da mãe, foi diagnosticada e, aos 34 anos, faleceu em decorrência da doença. Hoje, têm mais duas primas minhas, aqui em Arvorezinha mesmo, que estão em tratamento oncológico, ambas nos seios”.

Malia faleceu em julho de 1997, depois de um longo e desgastante tratamento.

 

Diagnóstico e mastectomia

Sandra conta a sua história com a doença. “Numa mamografia, foi detectado o carcinoma na mama esquerda (grupo de micro calcificações) quando eu tinha 42 anos. Eu insisti com o médico para fazer a mastectomia bilateral por que vi minha mãe sofrer muito com quimioterapias e radioterapias e eu não queria passar por isso; os exames nos tecidos retirados revelaram que eu tinha o tipo in situ e nas duas mamas, o que foi uma surpresa”. A decisão foi acertada.

O câncer in situ (ou não invasivo) é o estágio em que o tumor está apenas no local inicial de seu desenvolvimento, sem invasão das estruturas mais profundas e não tendo se espalhado para outras partes do órgão de origem. Na verdade, é uma etapa pré-maligna.

Em vista desta descoberta precoce, Sandra não precisou fazer os tratamentos convencionais; seguiu usando apenas um medicamento preventivo por cinco anos. Um exame genético americano, de sangue, especializado e detalhado, revelou que ela tinha uma mutação genética (BRCA2) que resultaria, fatalmente, em câncer de mama e isso foi repassado para toda a família como orientação. “Se for menina, vai cuidar das mamas, se for menino, vai cuidar do intestino, dentre outros órgãos específicos. Eles podem também desenvolver o mesmo tipo de câncer; sempre ficamos atentos para detectar precocemente”.

Passada essa etapa, a equipe médica que tratava a professora decidiu pela retirada dos ovários e útero, preventivamente, (caso semelhante ao da atriz Angelina Jolie). Atualmente, Sandra segue controlando com exames rotineiros, preventivos, como qualquer pessoa da faixa etária dela. Ainda segue explicando: “O estudo genético é importante para detecção precoce e para cuidar de toda a família. O câncer, para nós, é hereditário; não vem de algo que fazemos ou comemos e não temos como evitar, somente estar atentos e tratar precocemente, caso for necessário. Não fazemos isso para nos desesperar, mas para cuidar de nossa saúde, para ficarmos tranquilos”.

Exame genético

Com essa perspectiva, Sandra fará, ainda neste ano, o exame genético nos dois filhos e acentua que não se trata de procurar a doença para, simplesmente, saber que tem. Diz um ditado: “Quem procura acha”, e ela completa “acha a tempo de tratar, se tiver algo, tempo de se curar e ficar bem”, afirma de forma incisiva. Estudos mais recentes revelam que a cada quatro cânceres detectados, um é por carga genética, então qualquer um pode ter, mas se algum familiar sanguíneo tem, é um alerta para procurar um Geneticista, pesquisar seu gene e tratamento médico o mais rápido possível.” Isso é garantia da qualidade de vida.

Olho: “Quem procura acha a tempo de tratar, se tiver algo, a tempo de se curar e ficar bem.”

 

Um novo significado para a vida

Elizandra Zatt, 29 anos, empresária, filha dos arvorezinhenses Neocir Zortea Zatt e Jaira de Paula Zatt, sobrinha de Sandra, residente na cidade de Bento Gonçalves, descobriu que estava desenvolvendo o câncer num exame de mamografia, de rotina, feito em dezembro de 2023, mas ela já acompanhava há alguns anos alguns nódulos que estavam presentes nas mamas. “Meu marido, Matheus, que é médico, foi o primeiro a analisar os exames e detectar o câncer, então ele começou a correr atrás de outros exames e do tratamento”, informa Elizandra. O tumor atingiu os linfonodos axilares em seguida.

Confirmado o diagnóstico há dois dias do Natal, na semana entre essa data e o Ano Novo, a arvorezinhense realizou todos os exames necessários, com a urgência que a situação exigia. Nesses dias também, o casal decidiu que queria ter filhos e guardaria óvulos congelados para serem fertilizados mais tarde, quando ela tiver em torno de 35 anos. “Com essa decisão, de guardar os óvulos, a gente consegue, no momento da fertilização, fazer exames para ver se estou levando essa genética adiante ou não”, ela explica.

O casal teve em torno de 15 dias, entre Natal e início do ano de 2024, para ‘digerir’ a situação e tomar as medidas e decisões necessárias.

Ao receber a confirmação do diagnóstico, Elizandra relata que “foi um susto muito grande, foi surreal, um baque, medo, muitos questionamentos, ninguém esperava que isso pudesse acontecer tão cedo, numa mulher tão jovem. Mas, como é um câncer hormonal, pode ser que o anticoncepcional possa ter ativado isso”.

A cura ao invés da doença

A rotina da empresária, para além do tratamento de saúde, seguiu ativa, realizando suas atividades, vivendo como sempre viveu. Ela conta mais. “Sempre ouvi que pessoas com câncer ficam muito cansadas, em casa, na cama, paradas, e eu não queria isso para mim. Decidi que eu agiria como se já estivesse curada, decidi que eu continuaria ativa como sempre fui. É uma decisão que não é fácil de ser tomada porque não sabemos como vai ser o tratamento, mas a partir da primeira quimioterapia, entendi como meu corpo reagiria. Não parei de trabalhar em nenhum momento, só aprendi a demandar um pouco mais as tarefas na minha empresa para outras pessoas; amo o que faço e não teve um dia que precisei parar porque estava tratando câncer. Óbvio que tem dias que estou mais cansada, que tenho sintomas como qualquer outra pessoa, mas eu escolhi viver a cura ao invés da doença”. A empresária tem uma empresa de marketing digital.

Os treinos na academia, continuam, agora adaptados às necessidades do momento, de três a quatro vezes por semana, a alimentação, como sempre foi, é a mais saudável possível, numa dieta prescrita por nutricionista, mesmo que, em alguns dias, não tenha apetite nem vontade de comer. A fé, já presente na vida dela, foi acentuada. Meditação é uma prática adequada à rotina. “Acredito que a meditação é um pilar extremamente importante para todos, em qualquer circunstância e se todos pudessem entender, a vida seria mais leve”, acentua.

Redes sociais

Elizandra tem dois perfis em duas redes sociais, onde desenvolve conteúdos como o câncer pode ser tratado de forma leve, que existe um processo que precisa ser respeitado. “Comecei a ganhar muita força no Instagram e vi que meu objetivo de vida é estar próximo a mulheres, com diagnóstico ou não de câncer, que buscam por transformação pessoal, vivenciando a cura e não a doença”.

Além do Instagram, onde possui mais de 49 mil seguidores, Elizandra também está no Tik Tok, com mais de 119 mil seguidores, o que evidencia a relevância dos conteúdos que desenvolve para a vida das pessoas.

O futuro

“A longo prazo, pretendo manter minha rotina e vida saudável. A Elizandra do futuro vai olhar para trás e me agradecer; o importante é focar no que eu preciso fazer o que eu preciso para que daqui a cinco anos eu esteja bem e saudável, na minha vida profissional e pessoal”.

Olho

“Óbvio que tem dias que estou mais cansada, que tenho sintomas como qualquer outra pessoa, mas eu escolhi viver a cura ao invés da doença”.

Do susto e incredulidade iniciais, as coisas foram se organizando na mente de Elizandra e fora dela, o processo foi se desenvolvendo, como Elizandra explica. “Não dá para ficar remoendo, é preciso seguir o caminho e entender como o seu corpo vai se comportar e meu sentimento começou a mudar. Passei a viver todos os dias como se eles fossem minha vitória.”

O fato de o marido ser médico possibilitou que ele tomasse as rédeas, o controle da situação no início; hoje, após 16 quimioterapias realizadas, (a última foi na semana passada). “Minha vida voltou ao normal e tenho muito mais força para seguir em frente; vi o quanto a vida pode ser incrível e que precisamos viver no hoje e não no amanhã nem no ontem. Assim, a vida passa a ter muito mais significado e passamos a ver quem e o que realmente importa. Dentro do tratamento, encontrei meu propósito de vida e vi outros significados para ela. Estamos aqui de passagem para nos desenvolvermos dentro do melhor que podemos”.

Além do trabalho profissional, atualmente Elizandra tem uma comunidade de mulheres. “Nessa comunidade, falo com as mulheres como levar a vida de uma forma leve, como interpretar seus sentimentos e entender como e quem elas são. A autotransformação que tive dentro dessa comunidade foi muito grande”, destaca.

Olho

“Dentro do tratamento, encontrei meu propósito de vida e vi outros significados para ela.”

A jovem pretende ser mãe no futuro

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